segunda-feira, 12 de março de 2012
Canhões por margarina
Mas, oh, foi um balde de água fria. A incerteza da bomba e a realidade da fome. O mundo se pergunta: o que esperar de um líder alçado ao poder com apenas 30 anos, aclamado como "gênio dos gênios" num país tão sui generis como a Coréia do Norte? E diga-se único no pior sentido da palavra, pois além de ser uma das nações mais fechadas do mundo, onde há e se exercita um excêntrico poder hierárquico, há o agravante de possuírem um temível arsenal nuclear, aliado a uma "bomba social" alimentada pela fome e a paradoxal incapacidade de produzir alimentos.
Diante da apreensão internacional, Kim Jong-un sucede o pai, o ex-ditador "descido dos céus" Kim Jong-il. Se a situação interna da Coréia do Norte já era precária sob o regime ditatorial do pai, agora, imagine-se do filho que foi nomeado "comandante supremo" do Exército da Coréia do Norte - apesar da inexperiência.
Ademais, desde o falecimento do ex-ditador Kim Jong-il, em dezembro de 2011, Kim Jong-un, o único membro da família Kim, que viveu por sete anos no Ocidente. Devido ao silêncio, aparentemente, compactua com as bizarrices de um dos países mais herméticos do planeta - onde o poder hierárquico, o culto a personalidade, o arsenal nuclear, a fome, a inaptidão de produzir alimentos, que ainda se alia a ursos enlutados, que deixam de hibernar em pleno inverno para aparecerem de olhos lacrimejantes em lugares incomuns, suscitam muitas incertezas.
Sabe-se que Kim Jong-un, estudou na Suíça por sete anos, período em que teve parcialmente a companhia de seus dois irmãos. Embora essa fase de sua vida também esteja envolta por mistérios, tudo indica que longe das agruras do povo norte-coreano, que padecia de fome durante a década de 1990, ele desfrutou de todas as comodidades oferecidas pelo capitalismo. Com tantas suposições, talvez seja verdade que a ida de Kim Jong-un à Suíça, fez com que seu pai nomeasse como representante do país na ONU - em Genebra -, o diplomata Ri Che-ul, com o objetivo prioritário de cuidar do então adolescente.
Mas, o futuro incerto do leste asiático e considerando a afirmação de que o jovem e inexperiente Kim Jong-un é, "precisamente", idêntico ao pai, conclui-se que não haverá mudanças imediatas no país. Recentemente, após uma rodada de negociações mediadas pela China, EUA e Coréia do Norte chegaram a um acordo pelo qual o governo de Kim Jong-un suspenderá o enriquecimento de urânio e os testes de armas nucleares (até agora, só um foi realizado com sucesso, em 2006) e mísseis de longo alcance. Contudo, permitirá o monitoramento de suas instalações nucleares pela Agência Internacional de Energia Atômica e em troca receberá 240 mil toneladas de alimentos dos EUA para a população que sofre de privações reincidentes.
Se por um lado é certo que tanto norte-americanos quanto sul-coreanos temem, acima de tudo, o desgoverno do arsenal bélico norte-coreano, por outro, ainda a partir do ponto de vista exterior, o dogmatismo e o isolamento da Coréia do Norte se mostram insustentáveis. No entanto, em contraposição a uma possível abertura lenta e gradual, pelo pouco que a ditadura do país nos permite saber, não há razão para se esperar que Kim Jong-un tenha a pretensão de retirar dos militares a hegemonia política nem o controle das bombas atômicas - pois a queda total do regime não traria benefícios para ninguém. A situação pode ser classificada como grave, apesar da temida tecnologia nuclear que eles detêm.
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SERGIO BARRA é médico e professor
sergiobarra9@gmail.com
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