No blog Na Rede, da jornalista ANA DINIZ
Governo e certa imprensa trombeteiam: o Brasil é a sétima economia do mundo!
Ninguém diz que entre a sétima e a primeira há um enorme abismo: a economia dos Estados Unidos é sete vezes maior que a nossa. E a nossa é menor que a da Índia...
As estatísticas internacionais informam que para cada cem brasileiros há 22 telefones fixos e 123 celulares instalados. O Brasil está em quinto lugar em número de linhas telefônicas, viva, viva!
Hoje meu telefone fixo amanheceu mudo. É a terceira vez em uma semana. Ligo para a Oi. Primeiro uma máquina abusa da minha paciência falando coisas que não quero ouvir. Termina dizendo: “Vou transferir para meus colegas de atendimento”. Ele quase acerta: os colegas humanos são quase robôs. Passo de ciborgue em ciborgue até que alguém testa o telefone. Obviamente a Oi não acredita nos seus clientes: o ciborgue liga para o meu telefone e conclui que ele está mudo. Depois, me dá um prazo de 24 horas que podem ser 48. Da última vez, as 24 viraram 36 e foram necessários seis telefonemas adicionais.
No mesmo relatório que ranqueia o Brasil em quinto lugar, há uma outra informação de que ninguém fala: o Brasil é o penúltimo do ranking em tráfego de voz. O telefone existe, mas a voz não passa por ele.
As operadoras de telefonia brasileira são as recordistas em queixas e reclamações. Nenhuma escapa. Nenhum usuário brasileiro está satisfeito com qualquer uma delas. E paga a tarifa mais cara do mundo.
Uma análise sobre o crescimento industrial brasileiro, feita pelo Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial, ressalta os avanços do setor e, de passagem, menciona o “inexplicável custo da energia elétrica”.
Esse inexplicável custo me fez ir atrás do prejuízo. Descobri que a regulação da ANEEL permite que as empresas distribuidoras lancem na composição da tarifa todas as perdas de energia. Ou seja: eu estou pagando o gato que o vizinho fez.
Mas atrás dos prejuízos causados pelas marés energéticas – na semana passada, três refluxos me deixaram sem energia por mais de dez horas descontínuas – não dá para correr: calor que não deixa dormir e comida estragada na geladeira não são mensuráveis para a companhia distribuidora.
A expectiva da Fundação Getúlio Vargas é de que, neste ano de 2012, haja um computador para cada dois habitantes no Brasil. O uso de computadores vem dobrando a cada três anos, segundo essa instituição, e essa progressão deve ser manter assim.
Há cerca de dois meses comprei um no-breack, necessário por causa dos prejuízos imponderáveis provocados pelas marés energéticas. Não instalei imediatamente. Na verdade, levei quinze dias para substituir o antigo. Na primeira falta de luz ele mostrou que não valia o preço. Aliás, não valia nada, porque não funcionava. Tentei trocar: perdera o prazo. Entreguei para o conserto na garantia. Está lá até hoje. Talvez, mês que vem...
Governo e empresas festejam o bom momento econômico: a produção industrial brasileira cresceu 10,5% de 2009 a 2011.
O armário de cozinha que comprei chegou com um vidro quebrado. A reclamação foi considerada e o reparo foi marcado – para 45 dias depois da solicitação.
O desenvolvimento à brasileira é imediatista: não faz mal não haver estrutura suficiente para aguentar os milhões de linhas telefônicas. O importante é que o dono de um celular em Cabrobró do Judas, que paga antecipadamente seis reais por mês para poder quebrar o seu isolamento, exiba o aparelho. Se ele fala ou não ao celular, isto é de outro departamento, como as empresas gostam de dizer, quando mandam você de seca a meca para livrar-se do importuno.
É, ainda, de certa maneira, cínico: o bens ditos duráveis não duram mais que cinco ou seis anos.
E é ufanista: o gigante tem o peito de aço, mas os pés de barro. Quando ele acordar e tentar se levantar...
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