quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Paneiro de livros


Belém tem a alegria de organizar mais uma Feira do Livro. Uma feira genuinamente amazônica, instalada entre rios, matas e igarapés. Aberta na última sexta, o evento atual se estenderá até domingo, quando o mundo lembrará os dez anos do fatídico 11 de Setembro. Graças a Deus, nem tudo está perdido. Temos quase uma semana de feira. Tempo suficiente para conhecer, pechinchar e levar para casa o artigo principal das barracas: livro. Muitos livros. Dezenas. Centenas. Milhares.
Visitei a feira poucas horas depois da abertura. Naturalmente, não havia muita gente. As primeiras horas de toda feira são meio mortas. Feirantes chegam cedo. Madrugam. Mesmo assim ainda havia gente montando barracas. Carregando tabuleiros literários. Peixes pequenos e graúdos. Livros para todos os gostos.
Porém, as imagens do sábado nem lembravam aquela calmaria da sexta. A feira estava fervendo. Uma multidão faminta invadiu o espaço. Crianças. Jovens. Adultos. Feira é assim mesmo, um dos espaços mais democráticos do mundo. Lugar onde os produtos são livres de rótulos, caixas, proibições disto e daquilo. Nessa milenar mãe dos shoppings, a regra é justamente experimentar. Tirar o plástico. Provar o gosto e o estilo. Vale conhecer o autor, seja no release da capa, seja em carne e osso, quando ele comparece à venda.
Como em toda feira, quem chega cedo encontra tudo em ordem. Pilhas bem arrumadas. Paneiros literários de reserva. Vendedores de aventais bem limpos e passados. Mas o preço é algo fixo. Bem sério também. Sem muita simpatia à arte de regatear. Porém, virando a semana, a coisa já vai mudando. Passou sexta, sábado e domingo. A segunda também já foi embora, e agora estamos na terça. Ao longo do dia, a venda ditará a quarta. A quinta. A sexta. E assim há de ser até domingo. O ritmo acelera à míngua do calendário. Cinco dias de vida, e novos preços. A corrida é contra o tempo e a favor do povo. A favor da arte e da cultura. A favor de quem não pôde chegar a tempo. Ou de quem não liga muito para estoques lacrados.
A cultura paraense está bem valorizada na feira. Um estande só para escritores parauaras. Editoras tupinambás dividindo a barraca com livreiros do Sul. Democracia. Aqui, temos de tudo. Não só o terreno da feira, mas, principalmente, o seu produto final. Benedito Nunes está vivo no Hangar. Waldemar Henrique passeia na Secult. Graças a Deus, estou por lá também. Vivo. Na Editora Paka-Tatu, e nossa recentíssima obra "1911: Missão de Fogo no Brasil". Ao lado de tantos títulos, cuidados pelo Armando.
E ontem, Dia da Independência, retornei alegre à feira. Deixei umas compras encomendadas, amarradas debaixo do balcão. Só saí de lá com um bom paneiro nas costas. Espero carregar tudo. Passo na CPAD, Nossa Livraria Gospel e ORM. Bato papo por algumas horas na Bênção Livros. Ali vou conversar com alguns fregueses. Gente que gosta de ficção e de realidade. Gente que gosta de jornal e poesia. É uma noite de autógrafos de minha obra "Missão de Fogo". Você é meu convidado, leitor de tantos artigos. Quero lhe ver por lá a partir das sete.
Que bom! Uma feira de ideias. Se você nunca foi, não morra sem conhecer esse ver-o-livro. A Pan-Amazônica é a nossa cara. Pan, no sentido lato do verbete. Amazônica, não apenas pela geografia. Pelo povo e sua produção. Afinal de contas, não somos apenas o pulmão ou o rim do mundo. Somos também o cérebro. Pensamos de igual para igual. Escrevemos, sem medo de nenhum sulista. Caboclo é bom de pena. E não apenas no cocar.
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RUI RAIOL é escritor (www.ruiraiol.com.br)

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