sexta-feira, 11 de março de 2011

A luta da mulher brasileira


Minhas amigas de repartição Shirley Consolação e Keila de Paiva me sugeriram a pauta de hoje. Lembraram-me da importância da data que em que comemorou o Dia Internacional da Mulher. Portanto, em nome delas, vamos conversar um pouco sobre a situação feminina no País.
Não obstante a ascensão de Dilma Rousseff à Presidência, o Brasil ainda segrega e maltrata a figura feminina. Até a posse de Dilma, Lula foi sua sombra por todos os ângulos. Sem discutir os méritos de nossa mandatária, essa quase-onipresença de um homem na campanha impediu que fizéssemos uma leitura clara da opinião pública. A vitória de Dilma é emblemática porque ela se tornou a primeira presidente de uma nação onde a violência contra a mulher ainda é rotina.
Lembramos aqui de vítimas que tombaram sobre o leito sangrento. De mulheres que, buscando viver o amor com um homem, receberam a morte como recompensa. Em muitos casos, torturadas cruelmente antes desse holocausto. Os jornais diários publicam seus dramas. Descrevem a emboscada e a execução terrível. Falam de seus filhos, órfãos do corpo e da alma de suas mãezinhas. Não são dois ou três casos: é um anuário espesso, que enveronha o mundo e expõe nosso tecido social frágil.
Brasil que mata na sala de parto. Milhares todos os anos. De homens cheios de princípios que lutam contra o aborto, mas se omitem em outras questões da família, tapando os ouvidos ao coro sinistro de meninas que morrem com seus filhinhos em casas clandestinas. Parafraseando o Mestre, devemos defender aqueles princípios, sem omitir estes últimos.
Mulheres brasileiras, que têm jornada dupla e ganham a metade do salário para idêntica função no setor privado. Adolescentes que, trazidas à cidade para “estudar”, vivem a escravidão doméstica, trabalhando de Sol a Sol. Sem o mínimo do salário, sem direito à folga e à menor dignidade do trabalhador mais simples.
Nestes dias, uma brasileira se tornou símbolo do desrespeito à figura da mulher. A policial paulista que, currada por alguns colegas de farda, indefesa, foi despida brutalmente e violentada em sua intimidade sob alegação de vistoria. A cena é chocante! A mulher conversa. Tenta convencer do constrangimento de ser revistada dessa forma. Pede a presença de guardas femininas. Implora. Mas nada sensibiliza ninguém. Por fim, a mulher é agarrada, atirada ao chão e despida.
Os duzentos reais achados na peça íntima não pagam tamanha violência. Nossos pais nos vestiram ainda no berço, repetindo o gesto divino no Éden. O corpo é um todo inviolável. Sagrado. A nudez, um ato privativo, personalíssimo e protegido. De acordo com a Lei 8.159/91, registros sigilosos de honra têm acesso restrito por até cem anos no Brasil.
Não se pode tratar um ser humano dessa forma. Não existe crime que justifique essa torpeza. Muito menos autoridade moral para julgar infratores apanhados em vergonhosos “flagrantes”. A lei vomita dos autos a prova ilícita. Condena algozes de maria madalena, os quais, pela falsa moralidade, sempre têm mais pecados do que ela.
Mas não quero encerrar assim este texto, sem deixar que a poesia nos empreste seu bálsamo. Por isto, vou finalizar com estes versos escritos na década de 80: Mulher, porção da vida sublime, protótipo da perfeição. Luz áurea que nos redime, coroa da Criação. Tua presença reclamada no solitário Jardim é grito que se propaga, sem princípio, sem fim. Quem passar por esta vida, eternamente devedor há de ser de tua lida, tuas dores, teu labor. Ergue teus olhos ao céu! Converte tua alma em sorriso. Pois não és Eva, barro ou pó – sobrepujaste tudo isso. És a encarnação da vida. És o próprio Paraíso!

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RUI RAIOL é escritor (www.ruiraiol.com.br)

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