Da EFE, no Rio de Janeiro
A internet tem que ser vista como um desafio e não como uma ameaça para os jornais em papel, que nem deixarão de existir, nem desperdiçarão as facilidades que a rede lhes oferece, segundo os especialistas que participaram ontem, no Rio de Janeiro, do 8º Congresso Brasileiro de Jornais.
"Os novos meios de comunicação nunca vão substituir os meios de imprensa tradicionais. Eles não constituem uma ameaça, mas um desafio saudável que obriga os meios de comunicação tradicionais a gerar novas ideias", afirmou o diretor do Nieman Journalism Lab da Universidade de Harvard (EUA), Joshua Benton.
Ele assegurou que os periódicos americanos exageram ao tratar da ameaça representada pela internet e que, apesar de perderam espaço, publicidade e público, já se estão recuperando, ampliando seus quadros e investindo no diferencial com o qual podem competir.
"Ainda há público para os meios de comunicação tradicionais e não acho que eles vão deixar de existir, pelo menos não em um futuro próximo", acrescentou.
"Os meios de imprensa tradicionais mais competentes e que saibam aproveitar seu diferencial, que é a credibilidade, vão sobreviver. Não haverá um tipo de meio dominando o outro", disse por sua vez o diretor de redação do jornal "Folha de S. Paulo", Otavio Frias Filho.
O sociólogo Demetrio Magnoli, investigador de conjuntura internacional da Universidade de São Paulo e colunista dos jornais "O Estado de S. Paulo" e "O Globo", afirmou que a imprensa escrita conta com uma credibilidade que os meios digitais dificilmente conquistarão.
Magnoli lembrou que quando o site Wikileaks publicou documentos secretos da guerra dos Estados Unidos no Afeganistão o fez em associação com três grandes jornais aos quais ofereceu o material.
"O próprio diretor do Wikileaks admitiu que buscou os jornais para obter a credibilidade das marcas que estão no papel e que a internet não tem", acrescentou o sociólogo.
"Apesar do grande desenvolvimento da imprensa digital, a credibilidade segue associada às marcas que estão no papel", afirmou.
Para Magnoli essa credibilidade se deve ao custo do papel, que é limitado e caro, e leva os jornais a só publicarem notícias que valem a pena imprimir.
"Para a internet, onde se publica sem custos, qualquer coisa é notícia e qualquer coisa pode ser publicada", disse.
A presidente da ANJ (Associação Nacional de Periódicos), Judith Brito, afirmou que a credibilidade dos periódicos está vinculada ao investimento que eles fazem para buscar e investigar notícias e não só reproduzi-las.
Acrescentou que os portais de internet carecem dessa credibilidade porque não investem realmente na produção e preferem a reprodução.
"Os jornais são responsáveis por cerca da metade do conteúdo jornalístico novo, contra só 4% produzido pelas novas plataformas digitais. No entanto, essas plataformas replicam as informações (dos jornais) umas 4,4 vezes em média, e até 15 vezes quando se tratam dos títulos de maior credibilidade, sem pagar nada aos produtores desses conteúdos", disse Brito.
Para a presidente da ANJ, "as empresas jornalísticas sérias exigem de seus profissionais, jornalistas altamente qualificados, o uso de técnicas de investigação e o compromisso com princípios editoriais transparentes. Por isso, produzir informação inovadora e de qualidade custa caro".
Brito disse que, perante a concorrência da internet, os jornais têm que buscar um modelo de jornalismo independente e de qualidade que seja sustentável na era da internet.
Benton, por sua vez, lembrou que além de não representar uma ameaça, a internet facilita o trabalho dos meios tradicionais, que podem trabalhar mais rápido, melhorar suas investigações, reduzir os custos de distribuição, ter acesso as fontes mais diversificadas, reduzir seus erros e corrigi-los mais rápido e cobrir áreas que antes estavam fora de seu alcance.
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