segunda-feira, 10 de agosto de 2009

A culpa é da Imprensa

Por CARLOS CHAGAS

A moda parece secular e agora entra em nova ebulição: a culpa de tudo o que de ruim acontece na política é da imprensa. São os meios de comunicação que inventam mentiras, lançando-se em campanha contra as instituições e seus representantes.
Essa última saraivada de asneiras deve-se a gente de peso, como José Sarney, Renan Calheiros, Fernando Collor e, da qual não escapa o próprio presidente Lula. Quando as coisas apertam para eles, a solução é acusar a imprensa, como tem acontecido nos últimos dias. Querem “notícias boas” em vez de “notícias más”, imaginando que a informação possa ser adjetivada de acordo com a reação de quem a recebe. Vestem o figurino de vítimas e não hesitam em desfigurar episódios e personagens do passado.
Tome-se os exemplos dados por eles esta semana:
Getúlio Vargas teria sido levado ao suicídio por ampla conspiração da mídia, a serviço de interesses escusos e antinacionais. Pode até ser verdade que a maioria dos jornalões, em 1954, insurgia-se contra as iniciativas nacionalistas do então presidente, disposto a diminuir a submissão do Brasil a interesses alienígenas. Mesmo assim, a blitz contra Vargas só entrou em seu período agudo depois de descoberta a participação da Guarda Pessoal do Catete no atentado contra Carlos Lacerda e, mais ainda, revelado o exagerado patrimônio financeiro do tenente Gregório Fortunato. Sem falar na contratação confirmada de um pistoleiro que, em vez de matar o jornalista, matou um oficial da Aeronáutica.
João Goulart também se viu alvo de ampla campanha dos jornais, rádios e televisões, mola mestra da sensibilização da opinião militar que o derrubou. Também é inegável, mas terá a imprensa criado fatos como os da rebelião dos marinheiros, do estimulo pelo governo à quebra da hierarquia nas forças armadas, do assalto ao poder pelos integrantes do Comando Geral dos Trabalhadores e da confusão em que se transformaram a economia e a administração? Foram esses acontecimentos, mostrados nas folhas, nas telinhas e nos microfones que contribuíram para o golpe militar. Sem eles, Jango teria concluído seu mandato.
Fernando Collor, tantos anos depois, teria sido deposto e obrigado à renúncia por ação da mídia? Ou tudo não começou pela denúncia de seu irmão Pedro, a respeito das lambanças do PC Farias e da arrogância da República das Alagoas em ignorar o Congresso e os partidos políticos?
José Sarney torna-se a bola da vez, mas teria a imprensa criado os atos secretos do Senado, inventado as nomeações fisiológicas de seus funcionários, tirado do nada o nepotismo, o mau uso das passagens aéreas ou os desvios de verbas públicas para atividades privadas da família Sarney? Quem transformou a coisa pública em patrimônio privado? Os repórteres, os colunistas, os editoriais e as notícias divulgadas a partir de gravações, denúncias e evidências óbvias de corrupção?
Sendo assim, conclua-se: o presidente do Senado tem todo o direito de defender seu cargo, de resistir e de lutar contra adversários que o querem ver pelas costas por razões políticas e partidárias. Mas não poderia, de jeito nenhum, responsabilizar os meios de comunicação pela crise. Não raro a imprensa exagera. Em muitos casos haverá razões ocultas e obscuras para o exercício de sua atuação, mas acusá-la de criar fatos, não dá para aceitar. Muito menos admitir iniciativas para censurá-la, até com a conivência do Judiciário.

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CARLOS CHAGAS é jornalista
Artigo disponível no site de Claudio Humberto

2 comentários:

Anônimo disse...

Sem imprensa livre, não há democracia!!!

Anônimo disse...

IMprensa livre já! Sem Imprensa livre não há democracia. Mas imprensa tb tem que ser imparcial. Pq transformam Virgílio em vítima se é tão culpado quanto?