No AMAZÔNIA:
Quem nunca perdeu tempo tentando decifrar uma receita médica? E até recorreu a amigos, parentes ou vizinhos para descobrir, naquelas letras ilegíveis, o nome do remédio que precisa comprar. Sérgio Brito é motorista de ônibus e há quatro anos está de licença médica. Ele já perdeu a conta do número de médicos que consultou nesse período e confessa. 'Até hoje, nunca consegui entender uma receita'. O que ele faz? Como a maioria das pessoas, recorre aos farmacêuticos e atendentes no balcão das farmácias.
Mas, se depender do projeto de lei aprovado pela Comissão de Defesa do Consumidor da Câmara dos Deputados, pelo menos dessa dor de cabeça o consumidor vai ficar livre. De autoria do deputado federal César Silvestre (PPS-PR), o projeto prevê punição para os médicos que escreverem prescrições e prontuários com letras ilegíveis. Quem desobedecer fica sujeito a multa, advertência e até interdição total ou parcial do estabelecimento onde o profissional trabalha e cancelamento da licença para funcionamento.
A proposta, agora, segue para o Senado Federal e, se for novamente aprovada, vai aguardar sanção do Presidente da República. Procurada pela reportagem, a médica Maria de Fátima Guimarães Couceiro, presidente do Conselho Regional de Medicina (CRM), disse desconhecer o projeto e preferiu não se pronunciar.
Acostumada a 'socorrer' consumidores nessa situação, a farmacêutica Dayse Brandão admite que esse não é o procedimento adequado. 'Na tentativa de adivinhar o que o médico escreveu você pode fazer uma interpretação diferente e colocar em risco o tratamento e até a saúde do paciente', afirma. A melhor opção, segundo Dayse, é aconselhar ao paciente que volte ao consultório e tire suas dúvidas com o próprio médico. 'Muitas vezes eles chegam aqui (na farmácia) sem saber sequer o tipo de medicamento, se é para uso oral ou tópico, para que é indicado. Aí não dá para ajudar mesmo.'
Médica há seis anos, Leyde Frazão não entende porque alguns colegas de profissão escrevem de maneira tão ilegível, mas tenta explicar. 'Acho que é porque o médico atende muitas pessoas o dia todo e procura escrever o mais rápido possível'. A própria médica, no entanto, admite que a pressa não justifica a maneira como algumas receitas são escritas. 'Eu mesma já peguei receita prescrita por outro colega e não consegui entender o que estava escrito', contou. Quanto a criação de uma lei para punir os exageros, Leyde acredita que não é necessário. 'Está no nosso código de ética que a letra do médico deve ser legível. E estudamos isso numa disciplina chamada Deontologia Médica.'
Para o clínico José Maria Oliveira, a maneira como são prescritas as receitas médicas é muito pessoal, mas ele defende que os médicos tenham consciência na hora de receitar o tratamento para o paciente. 'Não é só a questão do nome do remédio, mas também a maneira como ele deve ser ingerido, os horários, o paciente precisa entender para cumprir tudo direitinho e o tratamento surtir efeito', explica. Esse é um cuidado que Oliveira diz tomar com seus pacientes. 'Eles sempre saem do consultório dizendo que sou um dos poucos médicos que eles conseguem entender a letra.'
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