No Blog do Colunão, de Walter Rodrigues, sob o título acima:
O governador do Maranhão, Jackson Lago (PDT) – na foto - contratou e assinou artigo no qual declara que sua provável cassação pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral) equivaleria a um “golpe contra a democracia” e à redução do estado a uma espécie de “Galápagos”, o arquipélago equatoriano onde Charles Darwin achou a tartaruga gigante, o iguana marinho e outras espécies extintas no resto do mundo. Pois sem ele no governo do estado estaria “revogada a alternância no poder”.
Publicado originalmente no Consultor Jurídico de 9/12/08 e republicado como matéria paga ou graciosa em vários outros sítios, a alegoria publicitária contrasta com o parecer objetivo e denso do vice-procurador geral eleitoral, Francisco Xavier Pinheiro, favorável ao provimento do recurso interposto pela coligação de Roseana Sarney (PMDB) contra a diplomação de Jackson. Parecer que o governador não enfrenta.
De um lado, as frases feitas do ghost writer, alegações quase sempre infundadas e distorção de situações e fatos recentes e próximos passados. Do outro, a exposição sistemática da “captação ilícita de sufrágio” e de um abuso de poder político e econômico como poucas vezes se terá praticado em qualquer parte do mundo.
Uma das poucas verdades na declaração marqueteira é a identificação do ex-presidente José Sarney e sua filha Roseana com esse modo de mandar e usufruir que se chama oligarquia, o poder de poucos em proveito de poucos. Acrescido, no caso maranhense, de características provincianas ou paroquiais. O resto é quase tudo inverdade e fingimento para iludir os incautos.
Jackson não tem nada a ver com democratização, transparência ou bons costumes administrativos. Não é o avesso da oligarquia, muito pelo contrário. Lidera e representa uma facção oligárquica que, boas almas à parte, que sempre as há, no conjunto apenas exacerba os maus costumes tradicionais no estado, inclusive a pilhagem do patrimônio público.
Oligarquia e nepotismo
Basta pôr os olhos em São Luís na Ponte Governador Sarney, no Palácio Roseana Sarney Murad (do Tribunal de Contas) e no ex-Fórum Presidente Sarney (do Tribunal Regional do Trabalho) para ter a nítida impressão do culto à personalidade do ex-presidente. Ao longo de 40 anos, o jovem e criativo governador dos anos 60, adversário da oligarquia de Vitorino Freire, converteu-se pouco a pouco no sumo sacerdote de si mesmo, com a natural colaboração de indigentes e oportunistas. Criou até uma fundação para adorá-lo em vida, a pretexto de estudar a “instituição da presidência da República”.
De tanto creditar-se a paternidade de todo o bem que porventura exista no Maranhão, com a possível exceção das palmeiras onde canta o sabiá, Sarney acabou construindo em torno de si uma religião de dupla face. Uns o adoram como deus, outros como diabo, estes últimos atribuindo-lhe poderes maléficos praticamente infinitos. Resulta daí o maniqueísmo que não só viceja no estado como serve à exportação midiática.
Jornalistas e outros observadores capazes das mais cerebrinas distinções em São Paulo e Brasília acreditam piamente que no Maranhão só há Sarney e anti-Sarney, o Mal e o Bem, ou vice-versa. Sem falar — mas como não falar? — das opiniões estimulados ou francamente alugadas por quem tira proveito dessas crendices políticas.
Uns e outros não querem ver que se o ex-presidente fosse capaz de obrigar a Justiça Federal a um adversário sem motivo, certamente teria podido impedir que o empresário Fernando Sarney fosse grampeado, despojado do sigilo bancário e fiscal e quase preso por conta de movimentações financeiras suspeitas que ainda luta para justificar.
Se é ridículo fantasiar Sarney de Mefistófeles, não menos tola é a identificação de Jackson com o Justo e o Belo. Pois que Bem absoluto será esse que enfiou mais de 30 Lago e Moreira Lima (da família da “primeira-dama” Clay Moreira Lima Lago) na folha de salários do estado, desde 1o de janeiro de 2007, quando a aliança PDT-PSDB e seus rabichos, inclusive uma ala do PT, pôs os dentes no poder? Que avanço é esse, que mudança?
Jackson elegeu-se prometendo que o Maranhão deixaria de ser “de uma só família, para ser de todas as famílias”. As dele. Nesse, como noutros lances, o atual governador piora o que sempre foi ruim. Aderson Lago (Casa Civil) é primo. Wagner Lago (Assuntos Institucionais), irmão. Clay Lago (nomeada secretária oficial), esposa. Antônio Carlos Lago (Porto do Itaqui), irmão. A secretária adjunta de Wagner, Lívia Lago, é prima deles. A adjunta de Clay, Cristina Moreira Lima, cunhada do governador.
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