Veja aqui o post Por que parou?, divulgado ontem, e que consistiu na informação – ou na cobrança de explicações – que um Anônimo mandou para o blog:
Enquanto isso, fervilham boatos em torno da suposta paralisação das obras nas duas mais altas construções de Belém, as torres gêmeas da Doca de Souza Franco, com seus 40 andares. A construtora Village, responsável pelos dois enormes palitos de concreto, a turvar o horizonte da cidade, devia dar explicações ao público para afastar de vez a torrente das mais desencontradas especulações.
Pois é.
Em sua edição deste domingo, que chegou às ruas no início da noite de ontem, o Diário do Pará traz em seu caderno "Negócios" duas páginas compradas pela Village. Numa delas, a manchete é “Village Sun e Village Moon [os nomes das duas torres] são referência nacional”. Traz matéria com dados técnicos e depoimentos de engenheiros sobre as excelências da Village.
Aí você vai para a outra página. Está lá a manchete: “Village: 26 anos de liderança absoluta”. O texto que sustenta a manchete não é propriamente uma matéria, mas uma nota assinada por Rodolfo Ishak, o diretor-presidente da Construtora Village.
A nota é interessante.
Quando você começa a ler, desconfia de saída que a Village – alvíssaras! – vai falar sobre a suposta paralisação das obras.
Então vem o primeiro parágrafo. Diz assim:
“Nós somos a primeira e única construtora do Norte a ter a ousadia e, principalmente, a tecnologia para construir duas torres com 40 pavimentos, cercadas pelos melhores profissionais da área e com recursos financeiras para início e conclusão do projeto. É claro, público e notório que a engenharia de nosso Estado e a nossa cidade de Belém terão muito que agradecer por colocarmos ambos no cenário nacional, o que não podemos dizer da desleal e medíocre concorrência, que, sem capacidade tecnológica e financeira, tenta sem sucesso atingir o grande marco da engenharia paraense.”
Terminou o primeiro parágrafo. Sobrou para a “desleal e medíocre concorrência” (toma-te!), mas nada sobre os boatos.
Mas não desista. Vá em frente. Hoje é domingo. Muita calma nessa hora. Há mais dois parágrafos. Dizem o seguinte:
“Somos a única construtora a fazer monitoramento de todas as nossas obras e a manter um convênio com a UFPA, nos cercando de todos os cuidados possíveis. Ex: controle de resistência do concreto, controle de recalque, controle de compressão e carga dos pilares.
“A Village engrandece a economia paraense e nos enche de orgulho por termos uma empresa de tão grande responsabilidade ambiental e social, que gera empregos e aquece o mercado imobiliário local.”
Viu só? Nada de esclarecer os boatos. Você diz para si mesmo: “Mas nos próximos dois parágrafos vai ter a explicação que eu quero”. E lê os dois próximos parágrafos. Ei-los:
“Nosso concreto é todo usinado e de altíssima resistência, somos a única construtora a usar 40MPa. Até nossa argamassa é usinada, ao contrário das outras que usam, até hoje, betoneira e não passam por nenhum controle de qualidade.
“A Village é líder absoluta de mercado e, em seus 25 anos de história, consolidou invejável posição no cenário nacional. Fruto de grandes conquistas e realizações, alcançando patamares inéditos em volume de compras, prêmios conquistados e tecnologia de ponta.”
E nada. Não chegou aonde você quer. Aí se conclui logo: “Esse parágrafo aí foi para cutucar com betoneira (toma-te!) a ‘desleal e medíocre concorrência’”. Mas nada de esclarecer os boatos. Você esfrega as mãos. Só falta um parágrafo. Só um. Não é possível. O último parágrafo deve dizer alguma coisa. E lê:
“Não serão falsos boatos [ops!] que vão tirar a credibilidade de nossas obras, de nossa empresa. O povo do Pará confia na Village. E, por fim, damos por encerrada tal questão, que não contribui em nada para o desenvolvimento de nosso Estado.”
Só?
Só.
Mas só isso mesmo?
Só isso e apenas isso.
Talvez tenha terminado porque a Village, ao dizer que é vítima de “falsos boatos”, implicitamente admite que existe uma catiguria nova, a do “boato verdadeiro”. Quer dizer, todos aqueles que tinham boato como notícia infundada, disse-me-disse, fofoca de comadres – com o perdão delas, coitadas -, agora aprenderam que existe o boato verdadeiro, a notícia infundada verdadeira, fundamentada.
Ah, sim. Depois da assinatura do presidente da Village, há um pensamento, um ditado, seja lá o que for. É singelo. Diz assim:
“Pessoas sábias falam sobre idéias.
Pessoas comuns falam sobre coisas.
Pessoas medíocres falam sobre pessoas.”
Puxa, talvez fosse conveniente acrescentar mais uma linha. Mais ou menos assim:
“Pessoas da Village explicam, mas ninguém entende”.
Entendeu? Não?
Nem nós.
Mas sim. Parou? E se parou, parou por quê? Por que parou?
3 comentários:
Brilhante texto!
Parou? Parou pq?
Pois é, Anônimo.
Por que parou? (rsss)
Abs.
Essa turma da Village é parada dura, cuidado são todos enrrolados......Se alguem procura esclarecer algo, a resposta é sempre a mesma: o responsavel está viajando.... é isso mesmo eles viajam muito e agora nao querem enfrentar as broncas.
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