quarta-feira, 14 de maio de 2008

Sem apoio de Lula, Marina anuncia saída do governo

Na FOLHA DE S.PAULO:

Depois de cinco anos, quatro meses, 12 dias e uma coleção de disputas no cargo, a ministra Marina Silva (Meio Ambiente) deixou o governo ontem. Ao mesmo tempo em que um portador levava carta ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Marina relatava à equipe o caráter "irrevogável" de seu afastamento. Sem apoio do presidente, ela já não via condições de permanecer no cargo.
Embora já esperasse pela reação da ministra, cuja gestão já não o satisfazia, Lula reagiu com irritação ao formato da saída: Marina nem sequer pediu demissão, apenas comunicou sua decisão de deixar o comando do Meio Ambiente.
A decisão de Marina foi amadurecida desde a manhã de quinta-feira passada. Pouco antes da cerimônia pública do lançamento do PAS (Plano Amazônia Sustentável), no Planalto, a ministra participou de reunião com Lula e governadores da Amazônia. Naquele momento, foi informada por Lula que a coordenação do Conselho Gestor do plano ficaria com o ministro Mangabeira Unger (Assuntos Estratégicos), que não participara da elaboração do plano, gestado desde 2003.
Mais do que surpreendida, a ministra viu no gesto sinal claro de que já não contava com o apoio de Lula para levar adiante medidas duras de combate ao desmatamento na Amazônia. Após três anos de queda no ritmo das motosserras, a devastação da floresta voltou a crescer no final de 2007.
Até momentos antes da reunião com Lula, Marina acreditava que coordenaria as ações do PAS. Viu um sinal disso num detalhe: o arranjo das autoridades nas cadeiras próximas ao presidente no tablado no salão nobre do Planalto -não havia assento para Unger entre os protagonistas da cerimônia.
A expectativa da ministra frustrou-se momentos antes da solenidade. Em relatos econômicos que fez dos motivos que a levaram a pedir demissão, Marina contou que a reunião foi "muito dura" e não deu a ela condições de permanecer no governo. Depois de perceber que pressões contrárias à sua permanência eram maiores do que o apoio que esperava receber de Lula, Marina chegou a dizer a um interlocutor: "Uma mãe não abandona seu filho".
A frase é um contraponto ao discurso feito por Lula na cerimônia. Mesmo depois de escantear Marina, o presidente chamou a ministra de "mãe do PAS". O epíteto já não lhe cabia, julgou a ministra, num paralelo a uma de suas principais antagonistas no governo, Dilma Rousseff (Casa Civil), apontada por Lula como a "mãe do PAC".
Os termos duros da carta de demissão foram divulgados pelo Planalto. O texto atribui a demissão a dificuldades enfrentadas na condução da agenda ambiental: "V. Exa. é testemunha das crescentes resistências encontradas por nossa equipe junto a setores importantes do governo e da sociedade".
A ministra passou o dia em seu apartamento. Com mais dois anos e meio de mandato para cumprir no Senado, pensa em tirar férias antes de voltar à vaga hoje ocupada pelo suplente Sibá Machado (PT-AC).
Seus principais assessores se dispõem a ficar só por um período de transição. Entre eles estão João Paulo Capobianco (secretário-executivo do ministério e presidente do Instituto Chico Mendes) e Bazileu Margarido Alves, presidente do Ibama. Thelma Krug, secretária de Mudanças Climáticas, estava ontem na Finlândia.
Não foi a primeira vez que Marina pediu demissão. No início do segundo mandato de Lula, sob pressão para apressar a concessão de licenças para obras do PAC, ela pôs o cargo à disposição. Na ocasião, julgou ter tido reiterado o apoio do chefe e conduziu a revisão do projeto de hidrelétricas do rio Madeira (RO) para liberação da licença ao empreendimento.
Na grande polêmica anterior, que tratou da liberação de lavouras transgênicas de soja, a partir de sementes contrabandeadas da Argentina, a ministra assimilou a derrota, embora a área ambiental do governo resista à liberação de organismos geneticamente modificados.
Foi na execução da política de combate ao desmatamento que ela viu inviabilizada sua permanência. Em janeiro, Marina associou o aumento do ritmo do desmatamento ao avanço de pastos e plantações de soja, estimulados pelo aumento do preço de commodities.
Atraiu críticas dos governadores Blairo Maggi (MS) e Ivo Cassol (RO) e do ministro Reinhold Stephanes (Agricultura).
Parte do PT tenta emplacar o ex-governador do Acre Jorge Viana, que deve conversar hoje com o presidente Lula. Antes, o petista Carlos Minc, do Rio, havia sido sondado.

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