sábado, 8 de março de 2008

“Se a gente bobear, podem dizimar nossos mitos e lendas”

Vale a pena ler o texto do Comendador, na apresentação do 1º Salão Nacional de Humor da Amazônia, marcado para 25 a 30 deste mês, na Estação das Docas. As inscrições foram prorrogadas até o dia 11, terça-feira da próxima semana. Leia aí embaixo o Raymundo Mário Sobral.

-------------------------------------------------------

Até tu, Machado?

Agora, diga aí, sem pestanejar, meu mano: você acredita nessa idéia de jerico de que a exploração comercial sustentável pode deter a degradação das florestas? Pois há quem acredite.
Tá na cara que a inépcia já sobejamente demonstrada para conter as queimadas, grilagens e desmatamentos, ficaria evidente no tentar impedir que corporações privadas exercitassem atividades predatórias.
Dentre essas atividades, convém não esquecer, o acesso aos recursos das florestas com ênfase à biopirataria quase impossível de ser devidamente monitorada nessas circunstâncias.
E, se a gente bobear, podem dizimar, inclusive, os nossos mitos e lendas, todo o telúrico imaginário que existe nas funduras da mataria. Espedaçar, por exemplo, a reputação do curupira, o afamado guardião das florestas e dos animais, subjugar o valente mapinguari, o gigante peludo que tem um olho na testa, boca no umbigo e usa armadura feita do casco da tartaruga. E, infortúnio dos infortúnios, emudecer para todo o sempre o melodioso e mágico canto do uirapuru, o pássaro da felicidade. A hora, pois é agora! Já!
Agora é a hora de botar a boca no trombone, denunciar, conclamar, combater o bom combate, encarar a luta em defesa das florestas. Baixar o pau, no bom sentido, claro. Por isso chega em momento crucial o I Salão de Humor da Amazônia – Ecologia no Traço.
Através duma multiplicidade de desenhos todos expressos com visão plástica e graça especialíssimas, o foco desses cartuns e charges é ecoar um manifesto. Reverberar a indignação. Deflagrar um berro ante a imbecilidade e a estupidez que se constituem o desmatamento e a devastação da Amazônia. Exército brancaleone do traço num embate feroz com a voracidade das motosserras desvairadas.
Mas eis que, nessa altura do campeonato, pode se arvorar um sujeito mais aloprado pouquinha coisa e comentar enxerido: - Eu hein! Pra mim, todos esses rabiscos e garranchos são simplesmente risíveis.
Ora, ora! São risíveis, sim, meu mano. Afinal de contas, pra todo cartunista que se preze, essa é a glória.“A glória que fica, eleva e consola”, de que nos fala Machado. E, - derrubadas à parte – ainda bem, o Machado é de Assis...

Nenhum comentário: