sábado, 8 de março de 2008

Tensão nos Andes



Tenho observado com certa cautela e pitadas de paciência este novo Vietnã que o comandante bolivariano, coronel Hugo Chávez, quer instalar no nosso continente. Aliás, já tinha me prometido não mais escrever sobre as sandices deste senhor, que ameaça declarar guerra à Colômbia contra a "invasão" do Equador, onde se refugiava o número dois das Farc: Raúl Reys. Devido à sua insensatez, não protesta contra o uso, pelos bandidos seqüestradores, do território equatoriano. E tem a audácia de colocar tropas na fronteira porque teme que a Colômbia surpreenda os narcoguerrilheiros abrigados em território Venezuelano (parece até tratar-se de uma cena circense).
Lá pelo começo da semana passada, sim. Já se abriam manchetes pelo Brasil afora: Colômbia, Venezuela e Equador podem entrar em conflito. Em dezembro de 2007, em artigo publicado em O LIBERAL - "No", Hugo Panzer -, afirmava eu: "...Chávez comprou mais de duas dezenas de caças russos Sukhoi 30, os mais modernos da região. Adquiriu mais de meia centena de helicópteros e 100mil fuzis de assalto AK-103 - destinados a armar um exército popular, pois a força regular tem apenas 60 mil homens - e tem planos de transformar sua força naval na mais avançada da América do Sul". O senador José Sarney, em discurso no Senado esta semana, sobre a corrida armamentista na América do Sul insuflada por Hugo Chávez: "Que necessidade tem um país do nosso continente de armar-se dessa maneira?"
Os ventos da beligerância há muito sopram sobre a Venezuela. A Colômbia não podia entrar com tropas pela fronteira com o Equador. Isto caracteriza violação de território. Tanto o Equador, quanto a Venezuela não podem ser mais áreas de abrigo dos bandidos das Farc. A posição mais sensata no caso é a que reconhece os erros dos dois lados. Num momento em que o Brasil poderia se preparar para liderar a integração regional, o papel brasileiro passa a ser o do apaziguador de ânimos. O que complica bastante o cenário? A beligerante atuação de Hugo Chávez, e não adianta tergiversar. A Venezuela está procurando uma guerra há tempos. Armou-se para isso. Só os néscios duvidam que seu alvo principal sempre foi a Colômbia.
Hugo Chávez, nos seus delírios, autodenominou-se defensor da Bolívia e do Equador, e não esconde que apóia o terror na Colômbia. Ele considera que as Farc representam os ideais "bolivarianos" (é viajar demais...). Em todo este cenário, mais uma vez, comprova-se a postura bélica de Chávez, que, em vez de unir o continente, acaba causando mais atritos. O comandante é uma liderança conflituosa.
Enquanto faz fanfarronada de integração, Hugo Chávez já anunciava em fevereiro, na reunião da Alba, que se preparava para um conflito militar na região. Um sinal claro de que a integração está ainda muito distante de ter sua chance. Em Brasília, o assessor especial da presidência, para os assuntos internacionais, Marco Aurélio Garcia, declarou que os "diplomatas do Brasil e de outras capitais sul-americanas estão mobilizando suas forças para reduzir ao máximo a tensão". Para o ministro das Relações Exteriores brasileiro, Celso Amorim, o Brasil considera que houve violação territorial por parte da Colômbia o que, na sua opinião, "é algo condenável e muito grave". Ele não acredita que o impasse entre Colômbia e Equador resulte em um choque armado. O fórum internacional do conflito parece ser a OEA. Entretanto, o da Venezuela, com os narcoguerrilheiros, deveria ser o picadeiro.

Sergio Barra é médico e professor
sergiobarra9@gmail.com

Nenhum comentário: