O magnífico reitor da Universidade do Estado do Pará (Uepa), Fernando Palácios, fez publicar em O LIBERAL, em janeiro passado, artigo em que aborda o processo eleitoral na instituição. Um processo eleitoral no qual, em vez de votos, contam-se ações, representações e ocorrências policiais. Um processo eleitoral que deságua agora na indicação de uma pro tempore, já que a governador, por decisão judicial, não pode escolher o novo reitor.
O artigo do reitor em fim de mandato foi incluído depois no link de notícias da universidade, sob o título “Uepa e a eleição para reitor”. Quem ainda não teve oportunidade de ler, clique aqui, leia e depois volte pra cá.
O artigo é ponderado. Neste momento em que as paixões estão acesas e empurraram o processo eleitoral da Uepa rumo a um estágio que há muito já resvalou para a baixa política, o magnífico parece ter sentido o tranco, expressado pelo desgaste na imagem da instituição. E resolveu falar.
A ponderação que permeia a fala do reitor, todavia, teria mais substância – e conseqüência – se oferecesse alguma indicação clara de que tudo aquilo que levou ao desvirtuamento do processo eleitoral da Uepa deve efetivamente ser jogado no lixo, desentranhado das práticas ainda existentes na universidade e rejeitado definitivamente.
Por quê? Para não contaminar corações e mentes – de professores, alunos e servidores – que se deixam assaltar por visões maniqueístas, enfim reduzidas ao mundo pequeno da preferências político-partidárias. Tipo assim: este aqui é melhor do que aquele porque é petista e tem mais trânsito junto à governadora, que também é do PT. Ou então: este aqui é pior do que aquele porque é do PT e deve ser expurgado para não aparelhar a nossa universidade.
Neste aspecto é que o artigo do magnífico perde substância, quando ele diz, por exemplo, que, “como segundo critério [para a escolha do reitor], o mérito deve ser privilegiado.”
Professor Palácios, com todo o respeito que a relevância do seu cargo merece, diga sinceramente: o senhor acha que neste exato momento alguém, em toda a comunidade da Uepa, inclusive o próprio reitor, está pensando em mérito? Alguém está preocupado em saber se o professor Sílvio Gusmão tem mais atributos intelectuais, acadêmicos, técnicos ou de qualquer outra ordem em relação ao professor Bira Rodrigues? E vice-versa: alguém está preocupado em avaliar detidamente se o professor Bira é melhor, tem mais méritos que o professor Gusmão?
Ninguém está preocupado com isso, reitor. Sinceramente, ninguém está. Nem o senhor mesmo. Todo mundo está preocupado em saber mesmo é que critérios de natureza política serão utilizados para indicar o novo reitor. Todo mundo quer saber quem tem o cacife maior junto à cúpula do poder no Estado. Todo mundo que saber como a governadora vai sopesar os prós e contras de uma situação desgastante que levou o processo eleitoral num centro irradiador do saber às barras dos tribunais.
O professor Palácios diz no artigo isto aqui:
“No caso da Uepa, a comunidade, há mais de oito anos, optou que essa proporcionalidade [entre os votantes das categorias docentes, discentes e técnico-administrativos] deve ser equivalente entre as três categorias.”
Professor Palácios, o senhor se consagraria se dissesse mais ou menos assim:
“No caso da Uepa, a comunidade, há mais de oito anos, optou que essa proporcionalidade deve ser equivalente entre as três categorias. Mas isso é esdrúxulo. Isso é uma absurdez, é ridículo, é um despropósito. Isso dá ensejo a fórmulas matemáticas para se eleger um reitor, como a fórmula [(Do/Vdo) x Pdo] + [(Di/Vdi) x Pdi] + [(f/Vf) x Pf] que consta do regimento eleitoral da Uepa.”
Diria mais o senhor, professor Palácios. O senhor diria assim: “Aproveito para me penitenciar perante a comunidade acadêmica da Uepa porque eu, como reitor, não abri debates, não estimulei discussões, enfim, não agi como deveria, na condição de líder da Uepa, para remover coisas absurdas como essas”.
O senhor diria apenas isso. E não precisaria dizer que não removeu tais absurdos porque não quis ou porque não pôde. Diria apenas que não os removeu. O distinto público já ficaria satisfeito com essa admissão de responsabilidade (ou de culpa).
Talvez o trecho mais importante do artigo do reitor da Uepa ficou reduzido a duas linhas. Diz ele: “Hoje, apesar da norma, algumas universidades já realizam eleição e encaminham apenas o nome do mais votado para a nomeação.”
Pronto, reitor. É apenas isso que se quer. E aqui no blog já se defendeu justamente isso (leia aqui), antes de artigo ser publicado. Por que não simplificar? Por que não escolher apenas um nome, que será oferecido à homologação do governador ou da governadora? Por que não acabar com proporcionalidades esdrúxulas? Por que não expurgar fórmulas matemáticas para escolher o reitor?
Se tivesse sido assim, professor Palácios, o senhor não precisaria ter escrito o seu artigo, o blog não precisaria postar este comentário, a Justiça estaria cuidando de outras coisas, que não as eleições na Uepa, e o reitor da universidade já teria sido empossado.
Não seria mais simples, professor Palácios?
5 comentários:
Paulo, segue o manisfesto do pessoal da UEPA contrários à INTERVENÇAO.
Forte Abraço!
Diógenes Brandão
MANIFESTO
A Universidade do Estado do Pará/UEPA vive um momento extremo na sua jovem história. A comunidade acadêmica foi surpreendida por uma declaração tendenciosa do Sr. Charles Alcântara (Chefe da Casa Civil do Governo do Estado), publicada no Jornal Diário do Pará, do último dia 27, que revela o interesse de promover um GOLPE na UEPA, com a nomeação de INTERVENTORES para as funções de REITOR e VICE-REITOR.
REPUDIAMOS publicamente tal intenção, que historicamente só ocorreu no regime de excessão, durante a DITADURA MILITAR.
Esclarece-se que a UEPA tem seus próprios instrumentos para resolver suas questões acadêmico-administrativas, amparadas legalmente em seus REGIMENTO GERAL e ESTATUTO.
O Conselho Universitário da Instituição (CONSUN), é que detém a prerrogativa em caso de vacância dos cargos de Reitor e Vice-Reitor, indicar dentre os seus pares os nomes para serem nomeados pela Governadora.
Portanto, a comunidade acadêmica da UEPA, repele fortemente tentativas espúrias de intervenção e, responsabiliza aqueles que premeditam o GOLPE, por quaisquer graves acontecimentos extemporâneos que venham a ocorrer como resposta a medidas discricionárias.
Por AMOR e RESPEITO a UEPA e pela AUTONOMIA UNIVERSITÁRIA:
NÃO A INTERVENÇÃO!
NÃO A GESTORES BIÔNICOS!
Audiência Pública em favor da Autonomia da UEPA:
Data: 31/03/08
Horário: 10hs
Local: prédio da Reitoria da UEPA
JUNTE-SE A NÓS!
Movimento RONALDO VIVE.
Não seria mais simples e conclusivo Jornalista (pois você sabe dos bastidores) dizer que o reitor Palácios na fez as mudanças que deveria ou pelo menos não estimulou essas discussões por que não era do interesse do grupo dele, que está há 12 anos no poder se valendo exatamente desses esquemas que garante o cabresto da categoria de funcionários (temporários, prestadores de serviço, cedidos de prefeituras que hoje totalizam mais de 1000 pessoas, 70% dessa categoria).
Não é mais simples concluir ou não é do interesse do Blog ?
Grande Diógenes,
Grato pelo manifesto. Vou postar uma notícia neste sábado.
Abs.
Anônimo,
O comentário não chegou a questionar a postura e os compromissos do professor Palácios com a disputa eleitoral em si, mas com a instituição, com a Uepa, que ele dirige.
Se optássemos pelo viés mais político, não há dúvida de que você tem razão: essa questão dos temporários apenas confirma essa invencionice que foi o regimento eleitoral da Uepa. O blog até hoje tenta ober dados mais concretos - e irrecutáveis - sobre isso, mas não tem conseguido.
O blog, Anônimo, tem interesse de dizer o que deve ser dito. E Nesse caso da Uepa, tem dito muito. E quando você mesmo trouxer fatos traga aqui para o debate.
Abs. e volte sempre.
O fato � que o Prof. Pal�cios defendeu sim veementemente o voto de funcion�rios que n�o s�o do quadro da UEPA e j� sabia de antem�o que com aquela f�rmula que foi utilizada esses votos teriam grande peso e fariam a diferen�a no final em favor de seu candidato Silvio Gusm�o. Tamb�m ficou muito claro a posi�o de favorecimento do alto escal�o de poder da UEPA ao candidato da situa�o quando por ato direto do Reitor s� foram colocados em pauta os recursos de Silvio gusm�o, deixando de fora arbitrariamente os recursos do candidato Bira Rodrigues. Importante lembrar ue muito dos partid�rios do Reitor e do Silvio Gusm�o que defendem hoje a indica�o desse resultado forjado em que o Silvio Gusm�o aparece em primeiro, defenderam outrora com unhas e dentes a indica�o pelo governador tucano, de Isabel Amazonas que ficou em terceiro lugar. N�s n�o defendemos a indica�o do segundo colocado, mas sim do primeiro que verdadeiramente foi Bira rodrigues e ap�s a apura�o dos fatos isto vai ficar claro para toda a comunidade e para a sociedade.
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