No Sermão da Sete Palavras, que terminou há pouco na capela do Colégio Santo Antônio, o pároco da igreja da Santíssima Trindade e secretário-geral geral da Arquidiocese de Belém, padre Ronaldo Menezes, criticou os homens públicos que, mesmo dizendo-se católicos e cristãos, mesmo no exercício de cargos de relevância nos municípios, nos Estados e nos mais altos escalões do País, nada fazem ou pouco fazem mudar uma realidade de injustiças, de sofrimento e desamparo a que estão submetidas tantas pessoas. “Jesus tem sede de gente que administre com fé, com paixão”, afirmou o sacerdote, ao comentar a 5ª palavra de Jesus Cristo na cruz: “Tenho sede”.
Há 129 anos que o Sermão das Sete Palavras – referência às sete frases que Jesus, já crucificado, pronunciou pouco antes de morrer – se realiza em Belém, uma das poucas cidades do País a manter essa tradição na Sexta-Feira da Paixão. A capela do Colégio Santo Antônio, dirigido pelas irmãs dorotéias, estava lotada.
Ao contrário do que chegou a se especular, Ronaldo Menezes, pela primeira vez designado pela Arquidiocese para ser o pregador do Sermão das Sete Palavras - também chamado de Sermão das Três Horas da Agonia -, não abordou os novos pecados que o Vaticano acrescentou aos sete pecados capitais. Os novos pecados capitais - merecedores de condenação, segundo a Igreja Católica - serão agregados aos anteriores: gula, luxúria, avareza, ira, soberba, vaidade e preguiça. Entre as novas transgressões estão, além da poluição ambiental, a manipulação genética, o uso de drogas e a desigualdade social, pecados pelos quais os cristãos devem pedir perdão, segundo a lista apresentada pela Santa Sé.
O chanceler da Arquidiocese adaptar sua pregação a exemplos práticos do cotidiano das pessoas. Falou até em quem passa horas em salões de beleza fazendo “chapinha e peeling”, mas não reserva um tempinho sequer à religião. Destacou ainda que todos devem ter respeito a Nossa Senhora e disse que, na madrugada do Círio, “um caminhão sai pelas ruas de Belém recolhendo faixas com as piores ofensas à Mãe de Jesus. As piores ofensas. Não pode existir um cristão que diga: “Eu amo Jesus, eu amo Jesus, eu amo Jesus, mas não tem amor à mãe de Jesus”, disse o pregador.
A seguir, uma síntese da interpretação de Padre Ronaldo Menezes sobre cada uma das sete palavras:
1ª Palavra: “Pai, perdoa-lhes, pois não sabem o que fazem”
“Mesmo pregado na cruz, Jesus não teve ódio, não teve rancor. “Jesus pediu perdão. Com isso, ele quebrou a corrente da maldade”, disse o padre. Ele mencionou documentos antigos, segundo os quais Jesus, com esse simples gesto de perdoar, converteu em pouco tempo mais de 8 mil pessoas. “Perdão não é ato de bravura humana”, complementou o sacerdote, que condenou práticas correntes, como a de linchar assaltantes e outros criminosos, ainda que tenham praticado os crimes mais horrendos.
2ª Palavra: “Em verdade te digo: hoje estarás comigo no Paraíso”
Jesus mencionou essa palavra ao referir-se a Dimas, que passou para a História como o “bom ladrão”, que estava crucificado juntamente Jesus e Giestas, o outro ladrão. Dimas ganhou a absolvição eterna por se arrepender na cruz. Giestas, ao contrário, mostrou que o que o padre classificou de um “sofrimento desesperado”. Disse o sacerdote: “Um [ladrão] aceita a salvação, o outro recusa. Um se afasta de Deus, o outro [Dimas] encontra Deus. Não podemos desistir de Deus nunca, porque Deus nunca desiste de nós.”
3ª Palavra: “Mulher, eis aí o teu filho. Filho eis aí a tua Mãe!”
Revela-se aqui a intensa sintonia, o intenso amor, a intensa afeição entre Nossa Senhora e seu filho pregado na cruz, explicou o padre. “Não existe um cristão que tenha o direito de deixar de amar a mãe de Jesus. Todos os anos, na madrugada do Círio, um caminhão sai pelas ruas de Belém recolhendo faixas com as piores ofensas à Mãe de Jesus. As piores ofensas. Não pode existir um cristão que diga: “Eu amo Jesus, eu amo Jesus, eu amo Jesus, mas não tem amor à mãe de Jesus”, disse o pregador.
4ª Palavra: “Mulher, eis aí o teu filho. Filho eis aí a tua Mãe!”
Essas palavras de Jesus, explicou padre Ronaldo, “traduzem solidão e angústia diante da morte, porque a morte é solidão. Mas não traduzem desespero”. Mais do que um desabafo, essa palavra foi uma “oração de quem pede para Deus, o Pai, para ficar com Ele”, acrescentou o sacerdote. Ele se referiu a uma pintura antiga que mostra Deus Pai atrás da cruz, abraçando-a, bem como a Jesus crucificado, numa demonstração de que em nenhum momento Deus abandonou Jesus e em nenhum momento abandona seus filhos. O padre lamentou que tantas pessoas morram sozinhas, na frieza das UTIs, longe do calor e do carinho de familiares e pessoas amigas. “As pessoas deviam morrer em casa, ao lado de seus familiares, pegando na mão de um deles”, afirmou.
5ª Palavra: “Tenho sede”
“Jesus apela para que ninguém o renegue, ninguém o recuse. Às vezes, passamos horas a fio diante de um televisor, vendo novelas, vendo porcarias, vendo programas da pior qualidade. Passam horas a fio num salão fazendo chapinha, fazendo peeling. Demoram tanto fazendo isso. Deus nos pede uma horinha. Mas achamos muito. Contam dez minutos, ainda acham muito. Sobram às vezes cinco minutos. Jesus tem sede da sua atenção, do seu carinho”, resumiu o padre. Ele lembrou que nos municípios, nos Estados e Nação existem cristãos, existem católicos ocupando funções preeminentes, de relevância. Nem assim, segundo ele, se isso tivesse reflexos na realidade, o mundo seria diferente – para melhor -, em relação ao que é hoje. “Jesus tem sede de gente que administre com fé, com paixão”, afirmou o sacerdote.
6ª Palavra: "Tudo está consumado"
Padre Ronaldo explicou que Jesus não emite, ao contrário do que muitos podem pensar, uma manifestação de quem estivesse derrotado. “O que Jesus diz é: ‘Meu Deus, meu Pai, o que me pediste, eu fiz. Agora, eu posso voltar para Ti’”, complementou o sacerdote. Deu um exemplo: hoje, ninguém vive sem celular, sem internet. “Mas nós nos deixamos ficar escravos do celular, da internet, do trabalho. E não temos tempo para Deus.”
7ª Palavra: "Pai, em tuas mãos entrego o meu Espírito!"
É uma referência ao Salmo 31, que era rezado antigamente ao entardecer, explicou o padre. “Há ocasiões de tanto sofrimento, tanta dor, que a pessoa diz: ‘Não agüento mais’. Nesta hora, faça como Jesus. Diga: “Pai, nesta hora, eu me entrego minha família, meus problemas, meu esposo, tudo”, recomendou o sacerdote. “Pai é símbolo de refúgio, de consolo, de ajuda. Pai é aquele para quem se corre diante do perigo. Pai evoca tudo isso. E Jesus evocou tudo isso.”
Nenhum comentário:
Postar um comentário