Vivemos debaixo de um sistema econômico no qual quem não consome não é cidadão. Basta voltar os olhos para as periferias e calçadas das nossas cidades e constatar que nosso agrupamento humano é severamente excludente, especialmente quando trata da questão educacional.
A sociedade, que nada mais representa do que a nossa vontade - e não a de determinado grupo, como pensam alguns -, tornou-se cada vez mais conflituosa porque fez da competitividade a sua meta. Como resultado, precisamos cada vez mais "produzir" indivíduos para sustentá-la, já que não somos capazes de criar ou optar por nova idéia que nos conduza de maneira diferente.
Recentemente, assistimos pela televisão reportagem na qual uma escola brasileira havia separado seus alunos pelas notas que receberam no ano anterior. Não poderíamos deixar de manifestar oposição a esse ponto de vista e vamos explicar as razões.
Do mesmo modo que o progresso econômico não dispensa um rigoroso controle das despesas, e que o desenvolvimento educacional não isenta a aplicação de diferentes métodos de ensino, é preciso criar limites.
Sem querer dar a última palavra a respeito, mesmo porque não temos a pretensão de possuir a verdade absoluta, acreditamos firmemente que a educação do homem passa, necessariamente, por uma reforma.
É fantástico ver que a ciência no Brasil resolveu questões ambientais, jurídicas, políticas e administrativas, que nos situaram hoje menos distante dos países intitulados prósperos. Mas parece que, por outro lado, ela não conseguiu tratar determinados problemas, como seja o da escola que pensa educar seus alunos seletivamente. Não afirmamos com isso que a ciência faliu nesse ponto. No entanto, enquanto ela não colocar as mazelas do espírito humano como objeto de estudo é provável que permaneça estagnada.
É verdade que a escola, do jeito que está, jamais disponibilizará ao homem valores que são geralmente assimilados no ambiente familiar. Afinal, nas grades escolares constam apenas disciplinas como a matemática, o português, inglês, etc. Nelas não figuram, por exemplo, matérias como a fraternidade, a amizade, o amor ao próximo, o bem comum e a honestidade que, se introduzidas, poderiam alterar imediatamente as atuais estruturas do mundo, obviamente para melhor.
Se hoje os alunos estão separados por notas, corre-se o risco de vê-los, amanhã, divididos pelos livros que compraram, pela atenção que um ou outro possa ter para assistir aulas, pela afeição entre eles e seus professores, pelo salário que ganham seus pais, ou, e o que talvez seria pior, pelo o que cada um representa para a sociedade em que vive. Lembre-se que em tempo não tão distante se tentou apartar pessoas pela raça, e todos conhecemos o resultado dessa discriminação (Segunda Guerra).
Para que a educação ganhe mais relevo no Brasil e atinja um objetivo maior, que é a formação do ser humano, torna-se imprescindível abandonar a experimentação de qualquer método que incentive à secessão (separação). Todavia, é preciso, antes de tudo, guardar em nós uma atitude menos discriminatória - já que ainda não atingimos a perfeição como virtude -, porque a sociedade, como frisamos acima, nada mais é do que o reflexo da nossa vontade.
Roberto da Paixão Júnior é especialista em Direito do Estado
imcpaixao@superig.com.br
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