segunda-feira, 24 de março de 2008

“A coordenação do Salão fez um salão pra gringo ver”

O I Salão de Humor da Amazônia, que abre amanhã e se estende até a próximo domingo, 30, na Estação das Docas, começa com uma voz dissonante.
Em artigo publicado na primeira página do caderno Magazine, da edição de hoje de O LIBERAL, o cartunista Paulo Emmanuel faz duras críticas aos critérios instituídos pelo júri para selecionar os participantes da mostra.
“Segundo o júri de pré-seleção do I Salão de Humor da Amazônia, o cartum e a opinião dos cartunistas da Amazônia não interessam”, diz Paulo Emmanuel, nas primeiras linhas do artigo. Diante da escolha de apenas três cartunistas locais, ele acrescenta: “Não saberemos o que pensam os artistas do Acre, do Amazonas, do Amapá, enfim...
Indo contra as políticas culturais do Estado e do Município em que a orientação básica dos editais é a obrigatoriedade do tema valorizar a cultura local e a cultura amazônica. A coordenação do Salão fez um salão pra gringo ver.”
Paulo Emmanuel diz que, “historicamente, todos os salões nacionais, sempre têm o compromisso de valorização do cartunista local, exatamente porque é o que dá força para instituições e patrocinadores investirem em eventos que busquem a formação do jovem artista regional.” Menciona inclusive o salão do Maranhão, que tem “uma categoria somente para valorizar e premiar o jovem cartunista da terra.”
Lembra ainda Paulo Emmanuel que na 2a Bienal de Quadrinhos de Belo Horizonte, em 1997, uma exposição denominada “Amazônia 2000”, coordenada por cartunistas paulistanos, não contava com um único artista da Região Norte. “Apesar da indignação de pessoas como eu que estavam lá, a coordenação não soube explicar tal fato”, afirma o cartunista.
Para Paulo Emmanuel, o júri de pré-seleção do 1º Salão de Humor da Amazônia “deveria ter a sensibilidade e atitude de saber valorizar o trabalho de décadas de lutas e investimentos de instituições e fundações que anualmente promovem oficinas de cartum, charge e caricatura, que também tem por objetivo garimpar e incentivar a formação de novos profissionais da área”.
O cartunista acha que “o mundo deve conhecer a nossa opinião que vivemos aqui saber o que pensamos, pois conhecemos como ninguém nossa realidade. Não que a visão internacional não seja interessante, mas queremos que saibam o que achamos sobre os problemas gravíssimos que se abatem sobre a região, e não conhecer apenas a opinião de gente que só ouviu falar de Amazônia pela internet, como iranianos e chineses, que foram a grande maioria de classificados”.
Finaliza Paulo Emmanuel: “Espero que em outros eventos haja um direcionamento diferente, ou que sejam criadas categorias que dêem oportunidade e valorizem o trabalho do cartunista regional.”

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