Não foram poucos os remistas – e bicolores também – que ao terminarem de ler o post O jeito Raimundo Ribeiro de ser, aqui publicado há duas semanas, chegaram à conclusão de que o presidente do Remo torce pelo Paysandu.
Uma dessas impressões ficou registrada no Blog do AK: “Lendo o blog Espaço Aberto e o caderno de esportes do Diário, hoje, domingo, cheguei à conclusão que o Raimundo Ribeiro é Paissandu”, disse o Afonso, vivo que só ele.
Pois vejam vocês que, no futebol paraense, a cartolagem adota estilos e condutas tão parecidos e padronizados que, apenas alguns dias depois das críticas ao presidente do Remo, os jornais estamparam matéria que justifica a impressão de que se o presidente do Remo é um bicolor enrustido, da mesma forma os remistas mais fanáticos estão na diretoria do Paysandu. E assim, um acaba com o outro e o outro acaba com o um. E assim, Remo e Paysandu vão se esfacelando nas mãos dessa gente.
Aliás, convém logo reconhecer que esse pessoal tem mesmo um amor imenso pelos clubes que estão sob seu comando. São dirigentes abnegados. Muitas vezes, deixam seus afazeres profissionais para dedicar-se inteiramente à função de cartolas. Dessa forma, vão escrevendo uma história de terceira catiguria, de terceiro nível. É um roteiro tão afinado que serve tanto para um clube quanto para o outro. Por isso é que os dois estão na Terceira Divisão.
Mas não se crucifique seus dirigentes - esses dedicados, esses apaixonados. Tolerem seus erros. Admitam seus desacertos, porque tudo o que fazem é por amor aos clubes pelos quais torcem desde criancinhas.
Erros intoleráveis
Mas há certos erros que são intoleráveis. Os de Raimundo Ribeiro são intoleráveis. E são intoleráveis, em contrapartida, certos erros de dirigentes do Paysandu. Como os que estão expostos na matéria já mencionada. Trata-se de um perdão, de uma anistia que a diretoria do Paysandu decretou em favor do ex-presidente do clube Arthur Tourinho.
Para quem não sabe, Tourinho, atual presidente da Junta Comercial do Pará (Jucepa), foi excluído no final do ano passado do quadro social do Paysandu. Por quê? Porque os cofres do clube, durante sua gestão, foram transpostos para dentro da empresa Ruben Martins Turismo, empresa que tem como proprietária a atual companheira do ex-presidente. A empresa chegou a movimentar quase R$ 1 milhão – exatos R$ 934.635,10 – do próprio Paysandu.
Isso não é conversa de remista despeitado, nem de remista ressentido. Foi isso que constatou auditoria cujo relatório, condenando as contas de Tourinho, foi aprovado por unanimidade pelo Conselho Deliberativo (Condel), que acabou por punir o ex-presidente com a exclusão do quadro de sócios.
Leiam aqui a parte final do relatório: “Como se vê, realmente a administração do associado Arthur Tourinho esteve por demais afastada dos princípios da probidade administrativa, revelando em realidade ações desvinculadas do interesse do clube, para logicamente beneficiar terceiros. Os inúmeros pagamentos realizados à empresa Ruben Martins, sem a devida comprovação, por si só já evidenciam a irresponsabilidade como era tratado o patrimônio bicolor.”
Pois agora vem o Condel - o mesmo que condenou Tourinho - e anuncia o seguinte: não vai mais entregar ao Ministério Público do Estado o relatório em que estão especificadas as muitas e graves acusações contra ex-cartola. Com isso, a história começa e termina intramuros do Paysandu. Tudo fica por isso mesmo. E, caso recorra da decisão do Conselho Deliberativo que o excluiu, o ex-cartola ainda poderá retornar ao quadro de sócios.
Diz um trecho da matéria: “Para o presidente do Conselho Deliberativo do Paysandu, Ricardo Rezende, a não ser que a própria Justiça se manifeste, o que foi descoberto sobre a gestão de Tourinho ficará no clube. Buscar ressarcimentos, então, nem se fale. 'É difícil buscar isso. Seria uma briga de 20 anos. É melhor como está. Agora, se ele entrar com recurso, aí vamos comprar a briga judicialmente’, afirmou Rezende.”
É melhor como está? Se realmente disse o que a matéria lhe atribui ter dito, o presidente do Condel do Paysandu – tido como inimigo visceral e declarado de Tourinho, e vice-versa – não sabe o que diz. Mas precisa saber.
Ações judiciais
Precisa saber, por exemplo, que a Justiça é um poder inerte. Só age quando provocada. Isso é primário, é basilar. Se consultar os advogados do clube, o presidente do Condel bicolor ficará sabendo disso. E se a Justiça só age quando provocada, é preciso que a provoquem. Mas o Condel bicolor já disse que não levará o assunto o MPE. A Justiça, portanto, continuará sem tomar conhecimento do assunto. Não será ela que tomará a iniciativa de se “manifestar”, como dito pelo cartola bicolor.
Aliás, a rigor e salvo melhor juízo, isso não deve nem ser assunto para o Ministério Público, a menos que recursos públicos estivessem envolvidos, o que parece não ser o caso. Bastaria que a assessoria jurídica ingressasse diretamente com duas ações, uma de ressarcimento e outra por danos morais, considerando-se o abalo que a imagem do clube sofreu por causa de ações nefastas praticadas por seu ex-presidente, conforme revelado pela auditoria.
Tourinho é mesmo um cidadão de sorte. Deve estar adorando essa anistia com que foi brindado. Fez o que fez – e o que fez não foi coisa que deveria ter feito, segundo a auditoria interna – e tudo vai ficar por isso mesmo.
A anistia ainda só não foi completa porque ele ainda não retornou ao quadro social. Mas vai voltar, certamente. Com todas as loas, com todas as honras. E não se descarta que ganhe até homenagem, na condição de cartola em cuja administração o Paysandu protagonizou feitos inéditos – como a conquista do título da Copa dos Campeões e a participação na Libertadores.
E agora, não dá para desconfiar – ou para se concluir – que os maiores remistas estão na diretoria do Paysandu, assim como os maiores bicolores exercem ações de mando na diretoria do Remo?
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