sábado, 23 de fevereiro de 2008

Os blogs e o futuro da humanidade

Um dia, todos terão seu blog. Mesmo crianças, na escola primária. Haverá um computador em cada carteira, ou os pequenos trarão o laptop de casa e serão estimulados a mostrar sua visão do mundo e da vida através do blog.
Tudo bem se não souberem manejar a língua com destreza. Bastará alguma noção do velho Português para terem um blog, pois ele é complacente com os erros, permite gírias ou palavras inventadas, é tolerante com os plágios (quem não sabe dar um control C e um control V?) e funciona melhor com textos curtos, quase telegráficos – que, em última hipótese, podem ser substituídos por imagens ou áudios.
Maravilhosamente democráticos, os blogs quebrarão tabus, derrubarão ditadores e acabarão com o radicalismo islâmico. Nenhuma instituição retrógrada resistirá à avassaladora liberdade de expressão que grassará por todos os povos, da Suíça ao Burundi.
A febre dos blogs revelará aspectos intrigantes da natureza humana. Enquanto algumas celebridades das comunicações – como apresentadores de tevê e colunistas de jornal – mal conseguirão atrair comentários de amigos e parentes, pessoas comuns mostrarão talento e vivacidade ao tocar em temas que atrairão milhares de opiniões.
Surgirão, naturalmente, grandes formadores de opinião, e poucos serão jornalistas. Pois os profissionais da palavra e da escrita continuarão com pouco tempo e esmero para manter seus blogs, enquanto muitos anônimos se dedicarão com tamanha paixão aos seus, que cativarão pela autenticidade e naturalidade que já não se vê no jornalismo.
Um menino de cinco anos se tornará sucesso mundial por falar do universo infantil com uma propriedade que nenhum professor-doutor em pediatria jamais conseguiu. Velhinhos e velhinhas conversarão sobre dores e remédios em discussões imperdíveis. Enfim, haverá blogs para todos os gostos e idades.
O hábito de blogar, de tão enraizado no dia-a-dia dos cidadãos do terceiro milênio, influenciará usos e costumes. “Bom blog!” cumprimentar-se-ão as pessoas pela manhã. E quando, diante de uma mulher deslumbrante, um homem quiser puxar assunto de forma natural e educada, poderá perguntar: “Sobre o que você blogou hoje?”.
Como tomado por excitante epidemia, a humanidade falará cada vez mais sobre blogs. E tão mais que chegará um momento em que o Inglês não será suficiente para essa comunicação. E assim, finalmente, premido pela extrema necessidade gerada pelos blogs, o homem criará um idioma único e a Terra poderá realizar o sonho de John Lennon, reunindo todas as nações numa só.
Porém, como o poder aquisitivo, a fama e o status social serão determinados pelo sucesso dos blogs, seus proprietários se dedicarão a eles numa escala de tempo assustadoramente crescente. Seis horas por dia, oito, dez, doze, quatorze...
Os mais bem-sucedidos tomarão remédio para não dormir, para assim poder postar mais e melhor e responder a mais comentários. Muitos usarão de todos os recursos para divulgar seu blog, para torná-lo mais visto, mais famoso, mais passível de receber a dádiva do patrocínio, sempre escasso e seletivo.
Famílias se desintegrarão pela obsessão do blog. Marido e mulher, pais e filhos, irmão e irmã, não terão mais tempo um para o outro. Avós e netinhos nem ao menos se verão. Haverá ciúme e espionagem entre amigos. Serão comuns casos de morte por inanição, pois muitos se negarão a abandonar o teclado e terão de ser alimentados por sondas.

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São trechos do artigo de Odir Cunha, que trabalhou 31 anos como jornalista e é autor de 11 livros. Clique aqui, para ler a íntegra.

6 comentários:

Anônimo disse...

putZ o cara escreve pra caralho. Duca

Poster disse...

É mesmo, Anônimo. O cara é bom mesmo.
Abs.

Anônimo disse...

É uma ficção, uma viagem. Dá pra tirar alguma coisa, mas o cara é escritor e abusou da criatividade.
Verônica M./ Brasília

Poster disse...

Pois é, Verônica.
Já valeu pela criatividade.
E Brasília? Muitas CPIs, cartões corporativos, essas "cositas"? (rssss)
Abs. e volte sempre.

Anônimo disse...

Aqui explode tudo. Mas a gente não tem nada a ver com isso, viu? Rsss. Apenas moramos aqui. É uma linda cidade, tem muita gente boa. Os que vêm de fora é que estragam.
Parabéns pelo blog.
Verônica

Poster disse...

Oi, Verônica.
Mas é sempre assim. Os de fora é que estragam (rssss).
Volte sempre.
Abs.