quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

O momento de segurar o riso

Juízes não costumam rir em audiências, quando interrogados soltam algo digno de riso. Mas imaginem o quanto não deve ter rido – ainda que por dentro, como se diz – o juiz substituto da 7ª Vara Federal Criminal do Rio Erik Wolkart, ao ouvir em depoimento o ex-deputado federal Carlos Rodrigues, o Bispo Rodrigues.
Um dos mensaleiros denunciados pelo Ministério Público Federal ao Supremo, Bispo Rodrigues confessou ter recebido R$ 150 mil do PT para pagar as dívidas contraídas pelo diretório fluminense de seu partido, o hoje extinto PL (atual PR), na campanha eleitoral de 2002.
Mas esta não foi a parte mais picante da audiência, porque a informação já era do conhecimento geral. A pérola, que deve ter divertido o juiz e demais circunstantes presentes ao interrogatório ficou numa declaração – ou num desabafo pungente, se quiserem – de Bispo Rodrigues.
Disse-o, alto e bom som, para todos ouvirem: "A vida de um parlamentar é muito ruim, um sacrifício. Chega de manhã e sai à noite. Se você vai a um casamento, tem que abraçar cem pessoas que você não conhece. Se você está em casa com a família, tem que atender a um pedido político ou até mesmo ir a um enterro de eleitor. É um sacrifício pessoal”.
Quem o ouviu dizer isso é capaz até de imaginar que ser parlamentar é mesmo um sacrifício. Mas não é. Claro que não é. Se o fosse, legislativos (Congresso, câmaras e assembléias) estariam vazios, às moscas, à espera de boas almas dispostas a ocupar suas cadeiras.
Esse tipo de conversa do ex-deputado Bispo Rodrigues é igualzinho à de cartolas que, ao assumirem seus clubes – sempre por amor, conforme dizem -, passam dois anos dizendo-se desditosos por terem assumido o “desafio”. Mas não largam o osso. Se fosse tão ruim, como dizem, não estariam lá.Por isso é que desabafos como o do ex-deputado servem apenas para divertir.

Apenas para isso.

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