quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Governo admite venda irregular de carne

Na FOLHA DE S.PAULO:

O ministro Reinhold Stephanes (Agricultura) admitiu ontem, pela primeira vez, que frigoríficos brasileiros exportaram carne de gado não-rastreado para a UE (União Européia), violando acordo com o bloco.
À Folha ele explicou que isso aconteceu nas primeiras semanas de 2008. "No decorrer deste ano esse fato foi verificado", disse, após participar de reunião na Comissão de Agricultura do Senado. "Tenho certeza que frigoríficos exportaram para a União Européia animal rastreado e não-rastreado", disse durante a audiência.
A declaração de Stephanes foi feita num dos momentos mais delicados das negociações com a UE para suspensão do embargo à carne bovina brasileira. O bloco é o maior comprador da carne brasileira. A cada dia de permanência da proibição, o prejuízo é de R$ 5 milhões, estima o governo.
O embargo à carne brasileira, em vigor desde o dia 1º, foi adotado após o Brasil enviar uma lista com 2.681 fazendas habilitadas a vender bois rastreados do nascimento ao abate e que poderiam ser fiscalizadas pelas autoridades públicas. A UE esperava uma lista menor, com cerca de 300, estimada com base na capacidade de fiscalização do Ministério da Agricultura.
Hoje, o o secretário Inácio Kroetz (Secretaria de Defesa Agropecuária) formaliza em Bruxelas a entrega à UE de uma lista com nomes de 700 propriedades em condições de atender às normas de rastreabilidade exigidas pelos europeus. A definição de uma lista de propriedades aptas a exportar foi criticada pelos pecuaristas brasileiros.
Com a escolha das propriedades, a Europa pode suspender o embargo, mas só para as fazendas da lista. No ano passado, as exportações brasileiras de carne somaram US$ 4,4 bilhões, dos quais US$ 1,3 bilhão para o mercado europeu.
Na discussão do embargo na comissão do Senado, Stephanes também avaliou que o governo brasileiro errou ao aceitar que os europeus passassem a ditar exigências de rastreabilidade a partir de critérios que incluem cuidados em relação à doença da vaca louca.
"O primeiro erro foi o Brasil ter aceito a imposição feita pela União Européia, aceitando depositar as regras em Bruxelas, dizendo que iria implantar o sistema de rastreabilidade."
Isso ocorreu em 2000, quando o Ministério da Agricultura era comandado por Marcus Pratini de Morais, atual presidente da Abiec (Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne). Pratini foi convidado a participar da discussão sobre o embargo, mas não compareceu (leia entrevista com ele abaixo).
A reunião evidenciou as divergências entre pecuaristas, frigoríficos e governo sobre a forma de reverter o embargo. As negociações em curso são resultado da posição do Ministério da Agricultura, que, como órgão oficial, assumiu o diálogo com os europeus.


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