sábado, 16 de fevereiro de 2008

Abaixo a ditadura dos índices


Na VEJA:

Nos últimos cinco anos, para reduzir ao máximo os riscos de doenças cardiovasculares, prevaleceu na cardiologia a prescrição de baixar, baixar e baixar os parâmetros de pressão arterial, colesterol e glicemia. O paciente estava com a pressão um pouco acima de 12 por 8 e não conseguia reduzi-la com mudanças no estilo de vida? Era bom ele tomar remédio. O colesterol passou de 130? Melhor recorrer logo às estatinas. Os limites desceram tanto que se tornou impossível atingir o número ideal sem medicamentos – ou sem perder um pouco da alegria de viver. Essa rigidez extrema, no entanto, começou a ser questionada há algum tempo nos bastidores dos hospitais e consultórios. Aos poucos, vai aumentando o número de médicos que, em vez de impor índices estreitos para todo mundo, aceitam alargá-los de acordo com o perfil de cada paciente. Recentemente, dois estudos tiraram da sombra a discussão que se trava no meio médico, ao colocar em xeque a redução exagerada dos parâmetros de glicemia e colesterol. "O que se está provando é que, abaixo de determinados limites, se anulam os benefícios decorrentes dessa diminuição ou, pior, todo o esforço pode se transformar em risco para o coração", diz o cardiologista Raul Dias dos Santos, do Instituto do Coração em São Paulo.
O primeiro estudo, conduzido pelos Institutos Nacionais de Saúde dos Estados Unidos, mostrou que reduzir demais os índices de glicose no sangue pode aumentar o risco de pacientes diabéticos tipo 2 sofrerem um infarto fatal – acidente que, em tese, deveria ser evitado pelo controle glicêmico agressivo. O perigo é tanto que o estudo foi interrompido dezoito meses antes da data prevista para a sua conclusão. "Não há mais dúvida de que, para os pacientes diabéticos, o que vale é manter a glicemia o mais próximo do normal, sem diminuições exageradas", diz o endocrinologista Marcos Tambascia, da Sociedade Brasileira de Diabetes. O outro estudo, patrocinado por laboratórios, avaliou a redução dos níveis do colesterol ruim, o LDL, pelo uso de remédios que combinam uma estatina com outro redutor de colesterol, o ezetimibe. Em vez de agir no fígado impedindo a fabricação de colesterol metabólico, como fazem as estatinas, o ezetimibe atua no intestino, bloqueando a absorção de colesterol contido nos alimentos. As duas drogas combinadas baixaram em 58% os índices de LDL, o mau colesterol, dos pacientes do estudo. Impressionante? Sim. Mas, ao contrário do que se previa, essa queda abrupta do colesterol LDL não puxou para baixo o número de mortes por infarto e derrame. A poderosa combinação produziu os mesmos resultados da terapia tradicional à base de estatinas.


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