quarta-feira, 16 de novembro de 2022

Ambientalista paraense que vai atuar na equipe de transição defende modelo focado na geração de emprego e renda

Zé Carlos do PV: modelo desastroso de ocupação da Amazônia precisa ser corrigido

Leitor do Espaço Aberto, antenado com a dinâmica política e positivamente preocupado com os destinos da Amazônia em geral e do Pará em particular, ligou pra cá, na manhã desta quarta (16), para fazer o que classificou de "um desabafo".

"Como é possível que o Pará, com todo o protagonismo que o Helder vem tendo na área ambiental, sobretudo agora, na COP27, não tem sequer um representante na equipe de transição do Lula, a não ser o Jader"?, questionava o angustiado e leitor.

Coincidência das coincidências, apenas alguns minutos após essa justa inquietação ser externada ao blog, circulou a informação de que o presidente do Partido Verde no Pará, o ex-deputado José Carlos Lima, que muitos conhecem mais como Zé Carlos do PV, foi anunciado pelo vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin, para integrar a equipe de transição no grupo que vai tratar de meio ambiente. Ele foi indicado pela direção nacional da sigla, por ser um amazônida e em reconhecimento à sua vasta experiência na área.

Além de Zé Carlos, a equipe de transição também deve contar com as participações de outros paraenses - como o próprio governador Helder Barbalho, a economista Esther Bemerguy (que já atuou em administrações anteriores de Edmilson Rodrigues), o ex-presidente da Funai Márcio Meira e a pesquisadora Ima Célia Vieira, ex-diretora do Museu Paraense Emílio Goeldi.

"Acho que o meu telefone, quando falei contigo, estava grampeado", reagiu, bem-humorado, o leitor preocupado, tão logo começou a ser informado da indicação de nomes para a equipe de transição de Lula.

Modelo desastroso

Assim que teve seu nome confirmado para integrar a equipe de transição, Zé Carlos do PV disse ao Espaço Aberto que, em três décadas de atuação na área ambiental, firmou a convicção de que a União sempre olhou para a Amazônia como uma região onde deveria ser implantado um projeto de ocupação e desenvolvimento alicerçado em grandes empreendimentos, como a construção de hidrelétricas, e na exploração das commodities agrícolas e minerais.

"Esse modelo gerou um impacto ambiental muito forte e uma exclusão social muito grande. Mas é o modelo que está implantado e que precisamos concluí-lo em setores importantes, como na área logística, por exempo. Portanto, o segundo passo, agora, seria corrigir os erros do modelo, ou seja, as políticas que levaram ao desmatamento da Amazônia devem voltar-se para preservar a Floresta Amazônica e gerar emprego e renda para aqueles que foram excluídos. Essa é a visão que estou defendendo", disse o ambientalista.

Zé Carlos não recomenda que se estigmatize nenhuma atividade produtiva desenvolvida na Amazônia, nem mesmo a indústria madeireira, apontada sempre como uma das grandes vilãs da degradação ambiental. "Existe a atividade madeireira ilegal, mas também existe a atividade madeireira séria. Precisamos, então, distinguir o legal do ilegal", pondera, acrescentando que o essencial mesmo é implementar políticas ambientais corretas que não percam de vista a necessidade fundamental de gerar emprego e renda para as pessoas.

"Não adianta simplesmente falarmos em meio ambiente se não falarmos em gerar emprego e renda para as pessoas. Porque os trabalhadores, sejam os que atuam para madeireiros ou para garimpeiros, precisam sobreviver. Se a gente não conseguir trazer essas pessoas para o noso modelo de desenvolvimento, eles serão cooptados, como aconteceu recentemente com parte da comunidade dos índios kayapós, que se juntaram aos protestos contra o resultado das eleições e fecharam a BR-163, numa área com forte presença de garimpeiros", lembra Zé Carlos.

"Se não tivermos um modelo que ofereça emprego e renda para a sociedade, com a aplicação do comando e controle, para combater as ilegalidades, como o desmatamento e a grilagem de terras públicas, a gente não vai ter sucesso", complementou o ambientalista.

Um comentário:

NÉLIO PALHETA disse...

Neste momento em que a questão ambiental é a principal pauta do hard news global, é importante resgatar uma ação do governador Simão Jatene que teve repercussão global. Em dezembro de 2006, Jatene criou por decreto uma vastíssima área, ao norte do estado, com várias modalidades de preservação florestal. Foi considerada a maior faixa de floresta tropical do planeta legalmente preservada.
Os decretos foram pauta no The Independente, cuja matéria dizia no título: A BOA NOTÍCIA QUE VEM DA FLORESTA.
Foi um dos últimos atos do primeiro mandato de Jatene. São milhões de hectares destinados à preservação total (intocáveis), outros foram reservados para manejo, outros para pesquisa científica e outras áreas foram destinadas exploração, inclusive mineral.
Os estudos foram elaborados pelo IMAZON. E tiveram consultoria da CI (Conservation International). A inciativa foi gerenciada pelo Vilmos Grunwald, que era Secretário de Estado.
Eu acompanhei de perto o assunto enquanto titular da Comunicação do Governo. E entrei em cena quanto quando tudo estava pronto para divulgação. Fizemos um enorme esforço de divulgação e a inciativa do governador ganhou repercussão nacional e internacional