Sério mesmo: quando comecei a ler Fogo e Fúria, ainda tinha uma certa
dúvida se Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, não seria meio doido.
Depois que li, tenho certeza de que ele é maluco. Só falta a carteirinha.
Sério mesmo: quando comecei a ler Fogo e Fúria, ainda alimentava alguma
dúvida se a opção do eleitorado americano - que em tese personifica uma das
mais sólidas democracias do planeta -, elegendo Trump, não teria sido um
equívoco abissal. Depois que li, tenho certeza de que não foi apenas um
equívoco, mas uma escolha absolutamente incompatível com uma sociedade que se inspira
em ideais democráticos.
O livro do jornalista Michael Wolff é
simplesmente devastador.
Mostra um governo descoordenado, desorientado,
desnorteado.
Revela um governo conduzido por direitistas e
reacionários raivosos, entretidos em picuinhas de bastidores e, o que é pior, alienados
politicamente, ao ponto de não terem sequer contatos sólidos com lideranças do
Congresso.
Revela Donald Trump como ele sempre foi, como a
campanha eleitoral nos mostrou e como sua performance na presidência nos tem mostrado.
O Trump que emerge do livro do Wolff é
falastrão, inconsequente, egocêntrico, machista, sem capacidade analítica para
fazer as devidas conexões de causa e efeito sobre questões das mais graves em
que é chamado a decidir.
O Trump exibido nua e cruamente por Fogo e Fúria pode ser tanto o “imbecil
de merda”, conforme expressões de Rex Tillerson, até recentemente seu secretário
de Estado, como o homem incapaz de concentrar-se na leitura de um simples
memorando expositivo que poderia instruí-lo melhor a tomar uma decisão mais
complexa.
O Trump que desfila no livro é um obcecado por
aprovações e elogios, ao ponto de passar horas e horas, todo dia, grudado ao
telefone chorando suas mágoas e contando vantagens para amigos, em vez de
escorar-se em opiniões e avaliações abalizadas de assessores.
O presidente dos EUA, segundo Wolff, é aquele
pervertido que vê nas próprias perversões – as sexuais, inclusive – uma confirmação
de sua masculinidade. Leia-se um trecho do livro: “Trump gostava de dizer que
uma das coisas que tornava a vida digna de ser vivida era levar as mulheres dos
amigos para a cama. Para conquistar a mulher de um amigo, ele tentava
persuadi-la de que o marido não era o que ela pensava. Para isso, mandava sua
secretária chamar o amigo à sua sala e, quando este chegava, começava uma
conversa que, para o amigo, era uma conversa trivial de conteúdo sexual. Você ainda gosta de fazer sexo com sua mulher?
Com que frequência? Você deve ter tido uma trepada melhor do que com sua
mulher? Me conta. Tenho umas garotas chegando de Los Angeles às três. Podemos
subir e passar uma tarde bem agradável. Prometo... E a mulher do amigo
estava ouvindo tudo pelo viva-voz”.
Esse é o presidente dos Estados Unidos da
América. Se ele faz isso, por que se espantar com suas alocuções tresloucadas
pelo Twitter, inclusive
ameaçando desfechar chuva de mísseis “bacanas, novos e inteligentes” contra
nações inimigas?
Para escrever o livro, Wolff conversou durante
18 meses com dezenas de pessoas, inclusive com Trump e com muita gente que
trabalhou em sua campanha. Mas ler Fogo e
Fúria exige que o leitor esteja minimamente atualizado em relação ao
governo Trump e suas maluquices, sobretudo as que envolvem a interferência do
governo russo nas eleições que o republicano venceu.
Sem
dúvida, é um livro fundamental para que se entendam as dimensões do abismo em
que os Estados Unidos se meteram, ao optar por Donald Trump para ocupar o Salão
Oval.
2 comentários:
Pois é. Se é ruim, a culpa é dele. Se é bom, não foi ele:
https://www.google.com.br/amp/amp.dw.com/pt-br/em-um-ano-o-que-trump-fez-pela-economia/a-42158052
Nos States também não sabem votar.
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