terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Chiqueiro. Expressão da degradação humana.

Olhem só.
São verdadeiramente inacreditáveis - repita-se, inacreditáveis - as condições do Pronto-Socorro Municipal do Umarizal, conforme revelou em cores, para todo o Brasil, reportagem que o Globo Repórter exibiu na última sexta-feira e que resultou numa espécie de intervenção decretada pelo prefeito Zenaldo Coutinho no PSM.
Chiqueiros. A antessala - ou a própria sala - da degradação humana.
Os PSMs de Belém expressam a degradação humana foi o título da postagem feita no dia 3 de abril de 2009.
Foi assim que o Espaço Aberto classificou o dois PSMs, após inspeção judicial realizada um dia antes, no dia 2 de abril.
Corria então o governo desastrado do desastrado Duciomar Costa.
De lá para, transcorreram quatro anos.
E nada.
Nadíssima de nada.
Está bem.
Consertaram o elevador, é o que se diz.
Não falta mais a gaze, é o que se diz.
Tirante essas cositas, continua tudo na mesma.
Leia a postagem do Espaço Aberto - de abril de 2009, repita-se - e vejam se, na essência, pelo que vocês vieram no Globo Repórter, não continua a mesma coisa.
Concluam vocês mesmos.

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O juiz federal Antonio Carlos Campelo não precisou de mais de nove laudas para decretar o que, na prática, é uma intervenção do Poder Judiciário no caos em que se transformou a Saúde pública no Município de Belém.
A intervenção sobressai no próprio alcance, na própria extensão da decisão tomada ontem: o bloqueio de R$ 17,8 milhões em recursos próprios do município e a proibição de que a administração Duciomar Costa manuseie repasses futuros de verbas federais destinadas à Saúde. Quem terá essa atribuição é uma comissão composta por três pessoas, uma indicada pelo governo federal, outra pelo governo do Estado e outra pela Prefeitura de Belém, sob o acompanhamento do Ministério Público Federal.
É uma intervenção, sem dúvida.
Uma intervenção que tenta encontrar uma saída para o que verdadeiramente deteriora, para que o verdadeiramente contamina a Saúde pública no município: a falta de gestão.
Os pronto-socorros estão cheios de pacientes?
Estão.
A demanda é enorme?
É enorme.
Os pronto-socorros recebem do interior pacientes que poderiam ser tratados por lá mesmo?
Recebem.
Os PSMs estão inchados, estão cheios de pacientes que a rigor não deveriam ser atendidos lá, ou seja, não atendem ao perfil de um paciente que deve receber atendimento de urgência e emergência num pronto-socorro?
Realmente, os PSMs estão inchados de pacientes fora do perfil.
Isso é uma parte da história.
Apenas uma parte.
Há coisas que independem disso.
Independem completamente de demandas enormes, de pacientes vindos do interior do Estado, de enorme demanda de pacientes com perfil inadequado para atendimento num PSM.
Primeiro: a administração municipal não “tem prestado informações acerca da destinação da verba pública federal”. Observem que esse é um trecho da decisão judicial que proferida ontem. Falta de transparência é um problema claro de gestão. Nada tem a ver com perfis inadequados, com gente vinda do interior e tudo o mais.
Segundo: os pronto-socorros de Belém – os dois, tanto o da 14 de Março como o do Guamá – não têm qualquer autonomia financeira. Não têm. Para que possam adquirir até um pedaço de gaze, de esparadrapo ou um cotonetezinho, precisam pedir licença à majestade em que se transformou a Secretaria de Saúde do Município. Falta de autonomia financeira emperra a administração dos PSMs e indica claramente um problema de gestão.
Terceiro: na inspeção judicial que foi feita na última terça-feira, tanto o juiz federal como os procuradores da República, procuradores do Município de Belém e da Advocacia Geral da União, além de dezenas de jornalistas, viram claramente banheiros completamente deteriorados. Aquilo não são banheiros. São chiqueiros. Chiqueiros: sem forro, sem janelas, sem pias, com infiltrações, com o reboco das paredes se desfazendo, com chuveiros imprestáveis. Banheiros com a indicação de “Ocupado” nas portas, quando em verdade aquilo significava “Interditado”, ou seja, imprestável, impróprio para o uso. O que é isso? É falta de gestão.
Quarto: enquanto não havia chuveiro em vários banheiros do PSM da 14 de Março ou enquanto vários chuveiros apresentavam problema, naquele mesmo momento, a alguns metros dali, no Almoxarifado do PSM da 14 de Março, o juiz, os procuradores e quantos mais acompanhavam a inspeção constataram que havia chuveiros novinhos em folha à espera de uso. O administrador não repôs os chuveiros por quê? O que isso tem a ver com alto fluxo de demanda? O que isso tem a ver com pacientes fora do perfil que incham a demanda dos PSMs?
Quinto: no dia da visita feita ao PSM do Guamá, informou-se que faltam seis intensivistas para trabalhar nas UTIs. Vocês já pensaram o que é isso num hospital com demanda acima da média como é um pronto-socorro de Belém?
Por isso é que, com tudo isso, os PSMs de Belém representam a visão – pelo menos aproximada – do apocalipse.
Os PSMs de Belém expressam a degradação humana elevada à enésima potência.
Os PSMs de Belém, na situação em que se encontram, fazem com que uma gente tenha vergonha de ser gente, que um ser humano tenha vergonha da condição de ser humano.
Os PSMs de Belém, na situação em que se encontram, expressam a declaração, o atestado, a comprovação fática de que há uma inapetência absoluta para gerir recursos públicos e uma absoluta ausência de políticas de gestão compatíveis com um setor tão problemático, tão nevrálgico como esse da Saúde pública.
Quem constatar com os próprios olhos, nos PSMs de Belém, o que constataram dezenas de pessoas - jornalistas inclusive – que acompanharam a inspeção judicial da última terça-feira, e que foi decisiva para embasar a decisão judicial do juiz federal Antonio Carlos Campelo, jamais esquecerá de ter visto um ambiente que não é indicado nem para animais. Nem mesmo para animais, quanto mais para seres humanos.
Para situações extremas, medidas extremas.
A intervenção na Saúde do município pode até ser uma medida extrema.
Mas é uma medida extrema para uma situação extrema.
Sem dúvida que é.

4 comentários:

Anônimo disse...

Consertaram o elevador mas o banco de sangue ta parado por falta de reagente

Anônimo disse...

Enquanto os jornalistas e radialistas batem diariamente no Caos dos PSMs em Belém, os nossos integrantes dos Ministérios Públicos e da Justiça nem aí. E olhem que nós somos contribuintes dos salários de cada um destes 'Servidores públicos', que devem ter algum plano de saúde particular. Eu como pequeno comerciante (cumpridor de deveres, tributários inclusive, e pagando meus 4 empregados direitinho), me sinto enojado.

Anônimo disse...

Esse é o Pará que o PSDB faz e juntos(prefeitura e governo do estado)vão fazer muito mais. Pobre Pará.

Anônimo disse...

Nossa mãe!!!!!! INSPEÇÃO JUDICIAL? Só a nossa combalida saúde pública para induzir juízes a uma inspeção judicial, coisa raríssima de ser vista, já que quase nunca levantam seus traseiros majestáticos das confortáveis cadeiras de seus gabinetes refrigerados para verificar o que ocorre no mundo que existe, que pulsa, que se intriga, que se diverte, que sofre, fora dos Tribunais.

De qualquer maneira, melhor assim.

Em tempo : pode-se fazer um paralelo entre o acúmulo de processos nos tribunais e o acúmulo de pacientes nos hospitais : o absenteísmo de juízes e de médicos, de enfermeiros e de servidores do judiciário. Médicos comparecem poucos minutos e saem para atender em seus consultórios particulares.

Juízes também têm alta taxa de absenteísmo. Além do recesso forense(20 dias), adicionam mais 30 dias de férias(ou 60 ), licenças, cursos, aulas em universidades, etc . O feriado é na 6ª feira, mas a Justiça já não funciona na 4ª feira. Assim não dá mesmo.

Façam os médicos trabalharem 8 horas diárias, de 2ª a 6ª feira,(com as escalas de plantão necessárias) e os problemas da saúde estarão 80% resolvidos.

O que atravanca os hospitais é a falta de um atendimento na base, no posto de saúde. Simples assim. O que mais vemos são pacientes com uma febre, uma tosse, um entorse no pé esperando horas para atendimento nos hospitais, quando poderiam - e deveriam - ser atendidos em postos de saúde.

Kenneth Fleming