terça-feira, 17 de dezembro de 2013

O Flu não deve ficar na Série A porque é o Flu. É isso?


É isso.
Pode ser que, pra você, não devesse ser assim.
Mas é.
O Fluminense, por decisão unânime do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD), continuará na Série A, porque a Portuguesa, por um erro crasso, manifesto, comprovado, incontornavelmente indefensável, escalou irregularmente um jogador e acabou perdendo quatro pontos, caindo, em consequência, para a Série B.
Agora, vocês querem saber de uma coisa?
Chega a ser preocupante que estejam sendo expendidas opiniões que, na sua essência, se resumem ao seguinte: a Portuguesa está caindo porque é a Portuguesa. Sendo a Portuguesa quem é - um time pequeno, sem grande torcida e, portanto, simpático porque inofensivo - não deveria ser aplicado o regulamento; ou por outra, deveria ser ignorado o artigo 133 do Código Brasileiro de Justiça Desportiva (CBJD).
Advoga-se em favor da Portuguesa que, em vez de aplicar-se a lei, o STJD deveria beneficiá-la com um espécie de prêmio moral. Tradução: a Portuguesa errou, escalou irregularmente um jogador, pisou na lei, afrontou a lei, deveria ser punida com a perda de quatro pontos e, em consequência, deveria também cair para a Série. Mas, vocês sabem como é: a Portuguesa, por ser a Portuguesa, um time simpático, de torcida diminuta, deveria ser perdoada desse errinho, desse senãozinho, desse equivoco, desse cochilo.
Pronto, é assim que esse povo - inclusive jornalistas, vários - está raciocinando.
E o Fluminense?
Raciocinem agora. E se fosse o Flu que tivesse escalado irregularmente um jogador? E se, por isso, devesse perder quatro pontos? E se, além disso, a perda de quatro pontos implicasse a queda para a Série B?
E se fosse assim?
Bem - diriam os nossos imparciais comentaristas, os nossos isentos opinionistas, os nossos estribados exegetas dos princípios morais mais edificantes que devem reger o esporte -, nesse caso, sendo o Fluminense o infrator, o transgressor, cumpra-se a lei, cumpra-se o regulamente. Cumpra-se tudo isso estritamente, sem complacências, sem concessões, sem qualquer contemplação.
E aí?
E aí, meus caros, temos opiniões como esta.
Leiam:

Como se temia e esperava vindo do STJD, a Lusa foi derrotada por unanimidade, 5 a 0, e caiu para a Série B, embora ainda vá recorrer sem maiores esperanças.
Assim, o Fluminense permanecerá na Série A.
O julgamento equivale a sentenciar quem furta um pão à prisão perpétua.
A defesa lusa foi pífia e o clube, ao contrário do que anunciou, não apresentou as provas de que procurou seu advogado durante o sábado e não foi atendido.
Mesmo que tivesse sido brilhante, a defesa seria inútil, porque o jogo já estava jogado.
O Fluminense, que dizia não ter interferido em nada, apresentou-se como parte interessada e será amaldiçoado por isso.
Mas caso não o fizesse, seus sócios deveriam pedir o impeachment de seu presidente.
Coisa, aliás, que o lusos devem fazer em relação aos seus cartolas.
A voz das ruas foi derrotada mais uma vez.
E novamente fica comprovada a inutilidade do STJD.
Afinal, se é para simplesmente aplicar a letra fria da lei, bastaria o tribunal de penas.
Mas a palhaçada continuará, porque ainda haverá o julgamento do recurso, para mais gente aparecer.

Quem escreveu isso?
Juca Kfouri, numa postagem em seu blog intitulada Decisão técnica derruba a Lusa.
Juca é um dos maiores jornalistas esportivos do país.
Tem credibilidade.
É uma das poucas e abalizadas vozes que vergastam as pilantragens protagonizadas por pilantras que infestam o futebol brasileiro e o relegam a um patamar que fica ao rés do chão.
Seu blog é um dos mais lidos em todo o país.
Tem milhares e milhares de acessos por dia.
É espantoso, assim, que um jornalista de seu status diga isto: "O julgamento equivale a sentenciar quem furta um pão à prisão perpétua."
Ontem à noite, o poster tentou fazer um comentário no próprio blog do Juca. Mas como era preciso se cadastrar, preferi não fazer o enésimo cadastro. Prefiro comentar por aqui mesmo.
O espantoso está no seguinte: quer dizer então que o cometimento, pela Portuguesa, de uma irregularidade - a escalação de um jogador que deveria cumprir pena de suspensão imposta pelo STJD - equivaleria ao furto? Sim. E a pena aplicada - retirar da Portuguesa quatro pontos, rebaixando-a para a Série B - equivaleria à pena perpétua? Sim.
A analogia é por aí.
Ora, é espantoso equiparar-se a punição sofrida pela Portuguesa a uma pena exagerada, extrema, desmedida. Enfim, é espantoso equiparar-se a punição a uma pena quase capital.
Por que é espantoso?
Porque, meus caros, o STJD não rebaixou a Portuguesa. Seguindo a lei, o Tribunal não derrubou a Portuguesa para a Série B. O STJD, sim, tirou quatro pontos da Portuguesa. Cumpriu a lei. Pautou-se pelo artigo 133 do CBJD.
O rebaixamento da Portuguesa de Desportos foi uma consequência dos pontos que lhe foram suprimidos por força legal. Uma consequência.
Vocês querem ver uma coisa?
Alguém dirá que o Flamengo também sofreu um pena de prisão perpétua porque perdeu quatro pontos? É claro que não. E por que não? Porque o Flamengo não caiu. Ficou agora em 16º lugar, bem à beira do precipício. Mas não caiu.
O STJD julgou o Flamengo animado pela opção de deixá-lo na Série A ou derrubá-lo para a Série B? É claro que não. O Tribunal tirou quatro pontos do Flamengo. Foi isso e somente isso. Se o Flamengo não caiu é porque a consequência, a decorrência, o efeito da perda dos quatro pontos não foram suficientes para rebaixá-lo. Ao contrário da Portuguesa, que, em decorrência da perda de pontos, acabou caindo para a Série B.
É preciso esclarecer essas coisas porque até parece que algum dispositivo do CBJD está redigido mais ou menos assim: "Escalar um jogador irregularmente. Pena: rebaixamento de série". Algo assim.
Céus!
É demais.
Dessa forma, com argumentos assim e analogias dessa ordem, não se pode, fora de brincadeira, fazer um debate.
No máximo, poderemos ter uma emulação orientada por prejulgamentos calcados por meros voluntarismos, por meros subjetivismos que não levam a nada, a não ser para conduzir à conclusão de que a Portuguesa, um time simpático, pequeno, não deveria ser rebaixado porque é a Portuguesa, enquanto o Fluminense não deveria ficar na Série A porque é o Fluminense.
Sinceramente, vocês acham que se pode travar um debate com um parti pris desse nível, desse jaez, dessa natureza?
Vocês acham?

3 comentários:

Anônimo disse...

Você não acha que princípios como o da moralidade e da proporcionalidade devam ser considerados na questão?

Anônimo disse...

PB, Kfouri é sociólogo, não tem conhecimento e raciocínio jurídicos. Juridicamente qualquer tese seria aceitável. Como tricolores, resta-nos comemorar. Aliás, em homenagem ao campeão brasileiro de 2012, a Portuguesa ameaça vestir o manto tricolor na Segundona. O patrocinador (e a reduzida incha tricolor) agradece.

Anônimo disse...

menos qdo for o mengo urubulino...