segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Show de horrores


Aqui pra nós, deixando o ceticismo de lado, todos sabem que o segundo mandato do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso foi marcado por muito barulho da oposição e tentativas de CPIs, em sua maioria comandada pelo Partido dos Trabalhadores, o PT. Por ironia do destino, a História, hoje e a cada minuto, abre sua caixinha de surpresa e desenrola seu novelo diante dos nossos olhos que cabe a nós interpretá-la.
Em 2002, FHC chegou ao final de seu segundo mandato fragilizado, com a sociedade dividida e clamando por mudanças que, por fim, chegaram em 2003, na figura do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O PT finalmente subiu a rampa do Palácio do Planalto, com toda pompa e circunstância. Não muito tempo depois, de novo, o povo brasileiro constatava pelas manchetes dos jornais que políticos, ex-ministros, assessores do primeiro escalão e membros fundadores desse mesmo partido enfrentam hoje os juízes do Supremo Tribunal Federal (STF) naquele que é considerado o maior julgamento da história deste país, a Ação Penal 470, popularmente conhecido por “mensalão”. Na prática, o discurso da oposição petista, repleto de jargões, de moralismo e acusações aos adversários rapidamente foi relegado ao esquecimento.
Mais uma vez, pagamos o ônus da democracia, corrupção, desvios de recursos públicos, lavagem de dinheiro, acordos transformadores entre políticos de renome, partidos sem base ideológica forte, esquemas de influência, ausência de um plano de metas para o Brasil, entre outras mazelas, indicam o que é a atual democracia em nosso país.
A sociedade sentiu-se enganada por ter dado seu aval por meio do seu voto a arengas eleitoreiras, vazias e mentirosas, quando em 2004, o deputado petebista Roberto Jefferson botou a boca no trombone denunciando o escândalo do mensalão. A denúncia foi motivada por razões políticas e não morais. Envolvia, entre outros, o empresário Marcos Valério, dono de agências de publicidade, Delúbio Soares, ex-tesoureiro do partido e o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, considerado a eminência parda por trás do então presidente Lula. De acordo com Jefferson, que confessou ter recebido do publicitário R$ 4 milhões em 2004, o dinheiro do mensalão servia para “comprar” o apoio de políticos da base aliada do governo.
O PT errou. Errou exatamente como outros governos já o fizeram: comprando o apoio do Congresso. O PT poderia ter escolhido com ética, mas preferiu a via mais fácil, a da compra do apoio político. Ademais, deixou que as instituições funcionassem. O escândalo veio à tona, atores políticos foram
afastados e agora se criou um precedente histórico. Por vias tortuosas, o PT abriu caminho para a atuação esperada das instituições brasileiras. O STF pode fazer o que devia estar fazendo há muito tempo.
Agora, o mais novo escândalo revela sobre a mistura entre o público e o privado no Estado brasileiro. As falcatruas têm o alcance em Paulo Vieira, apontado como líder, agia em ministérios e agências reguladoras. Por outro viés, o alvo é outro. Rosemary Noronha, Rose, submersa no tráfico de influência, era chefe de gabinete do escritório da Presidência da República na capital paulista. A oposição busca uma nova oportunidade de atingir Lula, responsável pela sua nomeação. A quadrilha, diz a Polícia Federal, adulterava pareceres técnicos e facilitava a vida de empresas dispostas a pagar. O governo e o PT veem emergir novos monstros na lagoa.

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SERGIO BARRA é médico e professor
sergiobarra9@gmail.com

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