sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Ao vencedor, os pepinos!


Parodiando o inefável Quincas Borba, do velho Machado de Assis, diria que o vencedor das eleições para prefeito de Belém vai ter que cultivar muitos pepinos em sua "horta" municipal. Vitória "adubada" por forte esquema montado por profissionais do ramo.
A cidade amarelou literalmente. Novos tempos em que os antes aguerridos militantes vermelhos foram substituídos por pacatos e humildes amarelinhos porta-bandeiras. Nos bastidores, fala-se em 200 milhões de motivos para uma fértil colheita de votos. Mas, o certo é que o "homem" está eleito para governar a cidade por mais um mandato de quatro anos.
Muitas foram as promessas de campanha, algumas mirabolantes, outras até exeqüíveis. O cidadão-eleitor-contribuinte, depois de votar, fica impotente para cobrar a realização das promessas de campanha. Deveria ser criado um Conselho Municipal da Cidadania, com a participação de belenenses de diferentes camadas sociais e profissionais, que mediante remuneração simbólica teriam a missão de assessorar o prefeito, com base nas prioridades da população, identificadas através de pesquisas de opinião, em cada bairro.
Alguém vai logo contestar: e os vereadores, para que servem ? Ora, caríssimos, em sua esmagadora maioria, eles "se servem", ao invés de servir à comunidade que os elegeu.
As carências da cidade são tantas que não podem esperar mais quatro anos. O prefeito reeleito tem a responsabilidade de não decepcionar a população que o elegeu. Dentre os males da cidade que requerem soluções urgentes e inadiáveis estão, por exemplo, a ampliação das unidades de saúde, o trânsito caótico/neurótico, a poluição visual e sonora (Belém é hoje a capital do barulho), o saneamento básico das baixadas, as calçadas irregulares, a solução do problema do lixo (que está contaminando os mananciais que abastecem a cidade), além dos ratos (roedores) que proliferam e se multiplicam não só nos bairros, mas também nas avenidas chiques. Belém tem hoje uma proporção alarmante de cinco ratos por habitante, um caso quase de calamidade pública.
A questão ainda mal resolvida dos ambulantes é mais um problema sério para Duciomar resolver. O transporte alternativo é outra "pedreira". A construção desordenada de novos prédios e torres de cimento, concreto, vidro e aço, que estão "matando" as pontes da cidade com a natureza exuberante que a rodeia, está a exigir providências do agente do Poder Público, que parece inerte diante da deterioração da qualidade de vida da população de Belém.
Vamos aguardar que o prefeito consiga afinal concluir suas famosas "obras estruturantes" (sic) nos quatro anos de novo mandato e que não fique apenas nas "obras monumentais", como o Portal da Amazônia e o "Pórtico de Belém". Afinal, a cidade vai sediar, em janeiro de 2009, um mega-evento como o Fórum Mundial, com a previsão de cerca de 200 mil visitantes, e "sonha" com a possibilidade de ser uma das sedes da Copa do Mundo de 2014.
Todos torcemos por isso. Mas não basta só torcer. É hora de esquecer as diferenças, pessoais ou partidárias, e começar a agir. A "neutralidade majestática" da governadora, no pleito, pode agora se transformar em parceria com o prefeito, pois sim? O importante, para o senhor Duciomar, é nunca esquecer que ele foi eleito pelo povo para administrar a cidade, não para ser "administrado" pelos interesses, por maiores que sejam, dos empreiteiros das torres ou dos donos de ônibus, pois não ?

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FRANCISCO SIDOU é jornalista

6 comentários:

Anônimo disse...

Ao articulista, parabéns!
O conteúdo da crônica tem o meu total apoio, não por ser uma colega da mesma categoria (jornalista) deste distinto cronista, mas por admirar suas "obras de arte".
O povo espera que o prefeito cumpra com suas obrigações sem "amarelar", quem sabe assim os beleneses possam "avermelhar" de orgulho desta cidade caótica/neurótica que Belém se tornou.
ABS/SDS

Anônimo disse...

Caros Paulo e Francisco,

a cada dia que passa torna-se mais simples a análise da vitória do nosso oculista na Prefeitura.
E, já que o tema é enxergar..rsrsrs...lembro do Millôr Fernandes que, reformulando o ditado, disse que " em terra de cego, quem tem olho, emigra...".

É um pouco isso que fazemos, após cada eleição. Emigramos da cidadania para nossos planos de saúde privados - chinfrins, mas privados - mantemos nossos filhos e netos nas escolas privadas, amaldiçoamos o trânsito indisciplinado, deseducado e terrível que atropela e mata diariamente, mas quando colocamos o caro na garagem parece que o mundo lá fora silencia.

Assim, explica-se uma eleição onde o candidato falava de uma cidade quase fictícia e os moradores dela enxergaram o que não vimos. O que não vimos, porque faz parte do nosso cotidiano, foi o asfalto na porta de quem morou sempre no lamaçal e arregaçava as calças e levava os sapatos na mão para chegar limpo ao trabalho. E, de repente, numa manhã, pode sair e voltar calçado de casa. E esse homem ou mulher, idoso ou jovem, ainda que a saúde pública seja aquela que permitiu que seu vizinho morresse em frente às câmeras da televisão, acreditou que estava parcialmente contemplado nas suas necessidades. E, estava. E uma lição que jamais aprendemos é que a necessidade de cada um parece ser diferente daquilo que nós, os cidadaos do primeiro céu, enxergamos.

Nós, os do andar de cima, como diz o Élio Gaspari, olhamos o péssimo funcinamento do Posto de Saúde ou da escola pública com os olhos alheios: quem sabe pelos comentários da nossa diarista ou do porteiro do prédio. Outras vezes pelos flashs da TV. Mas nos encurralamos nas nossas falsas proteções - o nosso plano de saúde, a nossa escola, o nosso caro, o nosso condomínio - e achamos que basta a consciência que temos da necessidade de mudança para que ela aconteça, como divina osmose.

Mas, não estamos lá no calor da luta na hra em que ela se dá. Abrimos mão de lutar coletivamente pela escola pública de qualidade - colocamos até às vezes nossos filhos numa escola privada de duvidosa qualidade, mas privada! - pela sáude pública decente, ainda que se vá pras unimeds enfermarias que em nada diferem do SUS - mas é UNIMED!!! - porque nos envergonhamos do serviço público, como se ele fosse obra dos governantes e sina dos pobres.

É à nossa vã indiferença que Duciomar deve sua eleição. A nós, emigrados da cidadania como atividade permanente, e aos que direta ou indiretamente se locupletam com a sua gestão, seja fazendo o asfalto ruim, seja superfaturando obras e serviços, seja doando recursos para a garantia dos votos, etc. e tal.

Apesar de ser usuária do péssimo transporte público, de não morar em condomínio e de "achar" que faço minha parte, essas reflexões acabaram me incluindo também nos emigrados. Entre aqueles que criticamente são solidários, mas que não vão à reunião da associação do bairro.


Desculpem a relativa amargura.
Abraços. Pros dois.

Poster disse...

Ana,
Realmente, temos que cobrar.
Todos nós.
Abs.

Poster disse...

Veja, Bia, o que nossa "vã indiferença" é capaz de produzir.
Essa questão de mensurar e da atribuir juízo de valor a necessidades - sejam quais forem - é muito complicado, realmente.
As necessidades do Bill Gates não são as nossas e nem as nossas, as dele.
Nem sempre são.
De qualquer forma, o eleito está aí.
Tem de fiscalizá-lo.
Abs.

Anônimo disse...

Realmente Belém merece crescer, avançar e ir além mar. Demos uma nova oportunidade ao querido e estimado Dudu para que leve Belém do Pará aos patamares da região sul e conseguir sediar a desejada copa do Brasil. Para os aguerridos vermelhinhos já feridos, sem capacidade administrativa que outrora já encabeçaram revoltas, apenas um comentário: é chegada à hora do seu jubilo e devendo esqueça o seu “glorioso” passado...Viva o presente! Presente com pacatos e humildes amarelinho porta bandeira.

Anônimo disse...

Agradeço os comentários sobre meu modesto artigo, mas gostaria só de esclarecer ao Felipe Marques que nunca fui militante petista nem de outro qualquer partido. Ao me referir aos humildes amarelinhos, fi-lo só como observação, não como crítica.Quanto aos "aguerridos", faltaram as aspas, daí talvez o entendimento dúbio da palavra, ok? Obrigado.