LEOPOLDO VIEIRA
Em 2005, José Dirceu (na foto) virou um “leproso”. Em seguida, com o
crescimento do espaço para sua defesa política, virou herói. Com sua prisão na
Lava-Jato, volta àquela condição anterior, com muitos dizendo que ele está a
prejudicar o governo e o PT. É bom ter memória.
Quando começa a se consolidar a ideia de que os erros dele,
“anti-republicano”, levaram, pela segunda vez, o PT e o governo a uma situação
de questionamento, penso é que Dirceu foi um dos mais importantes protagonistas
para que o brasileiro cordial aos donos do poder, pela formação social do
Brasil, forjada na relação casa grande e senzala, tivesse vez e voz e impusesse
ao tradicional pacto das elites se tornar, no mínimo, um pacto nacional.
Foi protagonista em bagunçar a república realmente existente
no país, ponto de partida para a república dos sonhos que seus antigos e novos
detratores opõem a sua figura.
A capa da revista Época desta semana, antes do suposto recuo
da Globo sobre o Impeachment de Dilma, trazendo em letras garrafais “Onde tudo
começou” com o rosto de Dirceu pintado com uma estrela vermelha em alusão ao
PT, é reveladora: torná-lo o bode expiatório do golpe, que inclui até fechar
jornais alternativos, como o Brasil 247, que apareceu como “deestino de
propina” no organograma em que a revista dos Marinho “desenhou” o funcionamento
do suposto esquema de abastecimento financeiro ilícito ao PT.
A cobertura da velha mídia também só confirmam o que o Dr.
Roberto Podval, seu advogado, argumenta:
a prisão é política. A manchete (http://www.em.com.br/app/noticia/politica/2015/08/07/interna_politica,676244/documentos-revelam-elo-de-cartel-com-dirceu-e-mulher-de-ex-ministro-do.shtml)
diz que encontraram o elo entre Dirceu e o governo peruano, mas na matéria se
diz que se tratava de uma consultoria sub-contratada para prospectar cenários.
A manchete (http://www.em.com.br/app/noticia/politica/2015/08/07/interna_politica,676225/pf-aponta-r-1-1-milhao-de-empresa-de-dirceu-para-escritorio-de-deputa.shtml)
diz que a JD Consultoria repassou dinheiro para escritório “de petista” em São
Paulo, mas na matéria se diz que era a
empresa de contabilidade da esposa de um deputado que fazia a gestão das contas
da JD e de Dirceu.
Outras “notícias” dão conta de supostas ilicitudes na compra
da casa de Dona Olga, na reforma do imóvel de Vinhedo, na compra do apartamento
da filha, de 30 mil de ajuda enquanto jazia atrás das grades. Aqui, cabe
perguntar se os 250 mil, os 1,5 mi, os 600 mil e estes 30 mil entraram no caixa
do PT. A resposta, inscrita na própria acusação, é não.
A defesa de Dirceu diz que isso era parte do contrato com a
JD e, a bem dizer, a forma de pagamento, em contratos privados, é decidida
entre as partes e, inclusive, pode-se acertar elementos por fora da relação
jurídica. Além do que, Dirceu não era agente público e suas consultorias,
objeto da investigação, começaram depois que ele foi exonerado da Casa Civil,
nada tendo a ver a casa da mãe em Passa Quatro com os motivos de sua prisão.
Como bem lembrou o jornalista Paulo Moreira Leite ((http://www.brasil247.com/pt/blog/paulomoreiraleite/192067/Dirceu-deveria-ser-deixado-em-paz.htm))
, quando Dirceu saiu do governo só dispunha de “contatos, conhecimentos, ideias
que encurtam distâncias e vencem dificuldades”, que são “serviços que
políticos, advogados e ministros das altas esferas possuem de melhor”, tanto
que empresas de consultoria se proliferaram desde 1994 sob a alquimia que tornou professores em
investidores e bancários em banqueiros.
Empresa de fachada ou
de sucesso?
Com este acúmulo, Dirceu criou a JD para oferecer tão
valorizados serviços e reverter o pagamento por eles em atividade política,
cuja permissão é dada para qualquer cidadão pela Constituição Federal. Prova
cabal disso é que , em larga medida e por meio de sua figura viajando o país,
através de seu blog, conversando com políticos nos estados, com a imprensa, foi
feita uma defesa política do PT nos duros tempos entre 2005 e 2012.
Por outro lado, por sua trajetória política e na gestão
pública, e até como empresário em Cruzeiro do Oeste, conquistou centenas de
clientes na indústria, construção civil e de duas maiores empresas do mundo,
levou "expertise" e investimentos para países africanos e latino-americanos
que precisam de ambos em sua saga contra a desigualdade, politizando suas
consultorias.
Mesma “expertise”, só que em sentido inverso, que faz uma
pré-candidata republicana à presidência dos EUA, CEO de sucesso na área de
tecnologia, dizer que quer governar o Gigante do Norte por saber como o mercado
funciona e, portanto, ter soluções para superar a crise naquele país. Quer
dizer que só é legítimo o fluxo
mercado-administração pública?
De fato, Dirceu é acusado de liderar um esquema de corrupção
para a “governabilidade” partindo de lobby para facilitar contratos da
Petrobrás. Todavia, trata-se, simplesmente, das principais empresas dos ramos
de atuação da estatal brasileira há décadas, senão as únicas com know how para
serem contratadas e que, segundo Paulo Roberto Costa, o delator-mor, atuavam em
cartel.
Esta, aliás, foi a tese que o juiz Sergio Moro comprou.
Para insuspeito Gesner Oliveira
(http://www.conjur.com.br/2015-jul-13/ma-conducao-operacao-lava-jato-custar-200-bi-pib),
ex-presidente da SABESP, "Tal noção é insustentável", pois "Do
ponto de vista da defesa da concorrência, não faz sentido discutir qualquer
infração sem a compreensão de qual é a estrutura do mercado na qual o suposto
ilícito teria ocorrido". Ele esclarece que "No caso da Lava Jato, a
Petrobras tem enorme poder de compra, para não dizer poder absoluto" pois
"trata-se de um monopsônio, situação na qual há apenas um comprador, que
pode, portanto, orientar e dirigir o mercado". "Não há margem para os
fornecedores formarem um cartel e prejudicarem o comprador", sustenta.
Ricardo Semler, que se diz tucano, e é empreiteiro, afirmou
(http://www1.folha.uol.com.br/paywall/login.shtml?http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/196552-nunca-se-roubou-tao-pouco.shtml)
recentemente que sua "empresa deixou de vender equipamentos para a
Petrobras nos anos 70", uma vez que, segundo ele, "Era impossível
vender diretamente sem propina. Tentamos de novo nos anos 80, 90 e até
recentemente. Em 40 anos de persistentes tentativas, nada feito". E
dispara: "Os porcentuais caíram, foi só isso que mudou. Até em Paris
sabia-se dos 'cochons des dix pour cent', os porquinhos que cobravam 10% por
fora sobre a totalidade de importação de barris de petróleo em décadas
passadas". Para ele, “o que muitos não sabem é que é igualmente difícil
vender para muitas montadoras e incontáveis multinacionais sem antes dar
propina para o diretor de compras".
Se alguém tinha força neste balcão não era José Dirceu.
Se parte das empresas coincidem com as envolvidas no suposto
esquema da Petrobrás, a conclusão é que Dirceu realmente tinha cacife para
fidelizar as maiores empresas e não que tinha a ver com qualquer “malfeito” na
estatal. Lá, ainda mais quando FHC suspendeu a 8666 para a empresa, operavam a
as maiores.
Além do mais, o xis da questão seria que a JD Consultoria
seria de fachada para recebimento e repasse desta suposta propina
partidária. Afinal, os “ilícitos” de
Dirceu, via JD, que mantem preso um preso, era para si ou para o partido?
Evidente que esta inovação no mérito da acusação visa apenas
postergar sua permanência preso e prolongar o sangramento do PT, a quem sua
imagem é profundamente vinculada, dentro do padrão da Lava-Jato: ir levantando
ilações até que pareçam fazer algum sentido seja em que sentido for. Uma boa
ilação é a que “revela” a Polícia Federal “descobrindo” contratos com a
consultoria peruana para a ação naquele país. Como o cliente era uma das
empreiteiras envolvidas no suposto esquema da Petrobrás, logo Dirceu e a JD
estariam envolvidos com ele.
Ainda não acordaram
para a disputa política?
Como a política é a economia concentrada, da mesma forma que
causa incômodo bermudas em aeroportos, carros populares em horário de
"rush", pretos pobres na universidade por meio de cotas, "gente
feia" nos shoppings, operários virarem gestores públicos, causa ainda mais
que gente de esquerda entre neste ramo destinado aos
"tucanalquimistas". Pior ainda se não só mantiver sua militância,
como também o “ethos” do seu negócio seja fortalecer a justiça social, independência
econômica, soberania política.
Por óbvio, ganhou dinheiro. E não seria justo ainda que
fosse um trabalho apenas de mercado para o mercado? Oras, o capitalismo como
virtude não ser estamental e permitir a qualquer um, não a todos, ficar rico, o
que, é, inclusive, negado por sua defesa, que alega dívidas advocatícias em
torno de 3 milhões de reais. E assim chegamos ao ponto. Com o Mensalão tentaram
destruir o político, com essa pretendem destruir o empresário, assim como
tentam reverter a mobilidade social dos últimos 13 anos.
E é sob esta constatação - de que ele ganhou dinheiro - que
a velha mídia pisoteia numa questão delicada: as vaquinhas para pagar a multa
de Dirceu por sua condenação da Ação Penal 470. Data venia o direito e a razão
de quem não era militante e contribuiu, aquilo foi um movimento político, para
mostrar capacidade de reação, resistência, solidariedade para questionar um
processo jurídico-político. E, como já dito, a defesa de Dirceu alega que a
dívida do ex-ministro só com serviços advocatícios é da monta de 3 milhões de
reais.
Então, voltemos à luta política ao invés de sermos os
inocentes úteis à direita a alertar Dilma que “os ladrões estão em seu partido,
mas não são o povo que a elegeu”, como ejaculou precocemente, de perigosa
altura de onanismo intelectual, um certo ideólogo de esquerda, pois os reais motivos da prisão de Dirceu são
justamente acabar com o partido que a elegeu e, de quebra, sem teorias
conspiratórias americanófobas, mas, principalmente pelo nível intelectual dos
protagonistas da Lava-Jato, destruir o programa nuclear brasileiro, todo o
“know how” em logística e construção civil acumulados em décadas, com respeito
e atuação até nos EUA.
Tem quem opte por tomar a Lava-Jato como a nova fronteira do
republicanismo, por debitar no PT a situação atual...Este autor opta por ser
solidário a Dirceu e a defender o insuportavelmente vivo PT, pilar da garantia
da legalidade, do mandato da presidenta Dilma e do retorno, em 2018, do
ex-presidente Lula para que a República Federativa do Brasil não se resuma a
uma república de bananas.
--------------------------------------------------------
LEOPOLDO VIEIRA foi coordenador do monitoramento participativo do PPA 2012-2015 e do programa de governo sobre desenvolvimento regional da campanha à reeleição da presidente Dilma Rousseff. Tem um blog no site Brasil 247.
3 comentários:
Esse site Brasil247 é aquele finaciado pela CEF e pelo BB?
Leopoldo, Leopoldo... sai daí enquanto tempo... daqui a pouco a PF vai bater no Min. do Planejamento...
Texto de quem se locupleta das benesses do paraíso artificial cumpanheru. Eu moro em outro país, onde Zé sai daí dirceu rasgou sua biografia pra se borrar na lama da roubalheira.
Postar um comentário