Há muito que a Rússia vem advertindo que intervirá de forma mais direta caso seus interesses na Ucrânia sejam atacados, num momento em que rebeldes pró-russos do leste da Ucrânia são alvos de operação militar. A ameaça foi formulada pelo ministro russo das Relações Exteriores, Serguei Lavrov, que nos remete a guerra de 2008 com a Geórgia – uma breve guerra opôs Rússia e Geórgia, após a qual Moscou reconheceu dois territórios separatistas pró-russos neste pequeno país do Cáucaso, Ossétia do Sul e Abcásia.
Dia desses, a Rússia anunciou o retorno às bases das tropas que faziam manobras perto da fronteira com a Ucrânia, a menos de uma semana da eleição presidencial antecipada na ex-república soviética. Mas os EUA e a Otan indicaram que não há “prova alguma” de que o Exército russo tenha iniciado a retirada das tropas. Todos sabem que por trás desse jogo está o astucioso Vladimir Putin, que ao seu jeito faz nova promessa (pela terceira vez), anunciando a retirada do Exército russo, mas exige contrapartida. Putin saúda os primeiros contatos entre Kiev e os defensores da federalização (Ucrânia), que buscam estabelecer um diálogo direto do qual devem participar todas as partes envolvidas. As autoridades da Ucrânia rejeitam a ideia de federalização.
Recentemente, o Exército ucraniano mergulhou em combate sangrento que deixam mais de 40 mortos e retomou o estratégico aeroporto de Donetsk, no leste do país. Foi a maior ação militar de Kiev desde o início de uma operação contra os rebeldes separatistas, em meados de abril. Foi conduzida no mesmo dia da confirmação da vitória do bilionário Petro Poroshenko, 48 anos, magnata das confeitarias mais conhecido como o “Rei do Chocolate” vencendo a eleição no primeiro turno no domingo, 25. O quinto presidente eleito desde a independência da ex-república soviética, em 1991, anunciou que suas prioridades serão devolver a segurança ao país, após seis meses de uma crise sem precedentes. Poroshenko insistiu ainda que não negociaria com “terroristas” até a entrega das armas, em uma referência aos rebeldes pró-Rússia.
A grande tacada de Putin com a anexação da Crimeia é a de ter ampliado o controle no Mar Negro, que facilita a saída pelo Mar Mediterrâneo, mudando a geopolítica do Cáucaso a seu favor. Adquiriu uma zona marítima com superfície mais de três vezes maior que o território e com direito a recursos submarinos que potencialmente valem trilhões de dólares. A iniciativa também estende as fronteiras marítimas da Rússia, dando a ela o domínio de vastas reservas de óleo e gás e desferindo um golpe devastador às esperanças de independência energética da Ucrânia. Empresas como a Exxon Mobil, Royal Dutch e outras grandes empresas petrolíferas já estudaram o Mar Negro, e alguns analistas de petróleo dizem que seu potencial é comparável ao do mar do Norte.
Não é de hoje que países com saída para o mar Negro enxergam seu leito como fonte de energia, principalmente devido a sucessos petrolíferos em águas rasas. Singularmente, a Rússia traçou uma rota tortuosa que passava por águas da Turquia. Agora, ela poderá fazer o gasoduto seguir um trajeto menos sinuoso, mais direto, passando por seu território recém-adquirido no mar Negro. Alterando a rota que será seguida pelo gasoduto South Stream, poupando dinheiro, tempo e transtornos de engenharia a Moscou. O gasoduto, ainda a ser construído, deve levar gás russo para a Europa. Especialistas em Eurásia afirmam que ao privar a Ucrânia da possibilidade de desenvolver os recursos e os entrega à Rússia, torna a Ucrânia mais vulnerável à pressão russa.
O cenário pouco tem mudado, cresce a cada dia a tensão na Ucrânia. A Guerra Civil apresenta vários confrontos no leste deixando ainda um número incerto de mortos. A situação tende a piorar se a Rússia cortar o fornecimento de gás para Kiev. Em Berlin haverá nova rodada de negociações sobre o fornecimento de gás para a Ucrânia.
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SERGIO BARRA é médico e professor
sergiobarra9@gmail.com
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