segunda-feira, 19 de março de 2012

A “tropa” nunca perde o bonde


Não poderia ter sido mais oportuno afirmar que a “tropa” do PMDB na Câmara é mais perigosa para o governo do que os generais de pijama do Clube Militar. Foi o que aconteceu com o manifesto subscrito pela maioria da bancada do PMDB na Câmara dos Deputados.
É simples explicar essa afirmação.
Militares, os generais especialmente, quando se retiram para a reserva, ficam em suas casas. Aqueles que se aglutinam no Clube Militar, no Rio de Janeiro, formam um contingente de oficiais de pijama. Não têm canhões tampouco comando. Os bons militares, no fim da carreira, serão lembrados com saudade e com respeito da caserna. E só.
A “tropa” peemedebista, no entanto, é mais perigosa. Por quê? Embora também não controle canhões, tem posição forte e importante na Câmara: 77 votos. Em tese, sob o controle do vice-presidente da República, Michel Temer, presidente licenciado do PMDB e a maior expressão política do partido. O PMDB é o mais expressivo aliado na numerosa base do governo na Câmara. É, também, o mais problemático pela força que acumula e pela competição eleitoral com o PT com a maior bancada: 88 integrantes. Em 2012, o mundo político gira em torno das eleições nos municípios.
Na prática, o tamanho expressivo da base do governo - 336 deputados aliados de um total de 531 - depende, de fato, do humor político desses parlamentares. Esse tipo de sentimento é indicado pela escala de interesses pessoais. Ela se sustenta, por exemplo, no fluxo da liberação de emendas no Orçamento que, contingenciadas, dependem do governo. As emendas são a mais importante ponte de ligação entre o político e a base eleitoral dele. Há dias esse humor - mau humor, no caso - materializou-se em manifesto assinado pela maioria da bancada do PMDB. Posteriormente, na terça-feira, 6, integrantes desse grupo foram recebidos por Temer, que teria dado carta- branca para que o PMDB faça as alianças partidárias nas eleições municipais mais convenientes para o partido. Como ele poderia impor sacrifícios suicidas nos municípios que sempre foram a seiva de sustentação dos peemedebistas?
O foco da reação peemedebista, refletida em votações antigovernistas na Câmara, é a preeminência do PT em posições-chaves no primeiro e segundo escalões da administração federal. O pano de fundo é a eleição. Em razão de sua natureza, a disputa municipal é uma questão de vida ou morte para o partido.
Mesmo que, eventualmente, seja preciso levar o lenço ao nariz e não desistir do combate. O costumeiro apetite dos ofídios do Butantã do Planalto é implacável. Seus venenos têm feito estragos ao longo de vários governos. Alguém duvida da qualidade da peçonha de José Sarney, Renan Calheiros e Romero Jucá. Ah, no serpentário dos partidos há momentos de alternância em chocar ofídios.
Na quarta-feira, 7, o partido conseguiu impor ao Senado uma derrota pessoal à presidente Dilma Rousseff, ao rejeitar por 36 votos a 31, em votação secreta, a recondução de Bernardo Figueiredo para a direção-geral da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), e um dos responsáveis pelo projeto do trem-bala. Pega de surpresa, a presidente não escondeu a irritação. Esperou que Temer contivesse os rebelados. O PMDB vive “uma encruzilhada” diante do partido de Lula, que estaria se preparando para se tornar hegemônico. Nas entrelinhas: ou o governo cede, ou apoiaremos José Serra para a prefeitura. Sobre canhões e votos, o PMDB nunca perde o bonde.

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SERGIO BARRA é médico e professor
sergiobarra9@gmail.com

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