Da leitora Adelina Bia Braglia, sobre a postagem que reproduz declarações do deputado federal Júlio Campos (DEM-MT), referindo-se ao ministro Joaquim Barbosa, do Supremo, como "moreno escuro":
Moreno escuro?
Dito por um branco azedo, até que combina. Principalmente por este branco azedo, useiro e vezeiro em beneficiar-se do público a favor dos seus interesses privados. Desonrou o Senado, desonrou Mato Grosso e agora desonra minha paciência!
O ministro Joaquim Barbosa deveria processar o indigitado Júlio Campos. Para exemplar esse racista de meia pataca e outros que estão na ilharga.
Faria bem a todos nós, se o fizesse.
6 comentários:
Surpreende-me uma reação dessas de alguém que dirige o centro de excelência estadual em estudos sociais, antropológicos e etnográficos. Ao se referir ao tal deputado matogrossense, a sra. Adelina não teve em linha de conta a condição social ou cultural dele, mas apenas a cor da pele (branca) acompanhada de uma adjetivação ofensivamente gratuita (“azedo”), como se, aliás, os brancos sempre tivessem esse odor desagradável; como se isso fosse o bastante a qualificá-lo (ou melhor, a desqualificá-lo)!
Estarrecedor, vergonhoso e demonstrativo de uma alienação e apatia da realidade brasileira. Ora, todos sabem que qualquer pessoa menos culta ou menos politizada inibe-se em qualificar os negros de negros – falam sempre em moreno escuro ou claro (aliás, até a pouco tempo via-se a qualificação oficial: pardo). Isso, porque em razão do estigma histórico imposto pelas escravidão e pelas mazelas da inexistente mobilidade social a que foram relegadas as pessoas descendentes dos negros e dos índios.
Esse deputado (que deve ser um simplório) está no mesmo nível de um Tiririca e que coisa e tal. Aí, pode-se indagar: se o Tiririca dissesse isso, seria racismo? Não, todos tolerariam isso como uma coisa do patético palhaço-deputado. Mas, como o infeliz deputado matogrossense é branco (e do DEM, para sua maior tristeza), ele pode ser pode desancado pela sua origem racial (melhor dizendo, pelas suas características fenótipas dolicocéfalas)).
Dona Adelina Bia, reserve um tempo e vá ler Darcy Ribeiro, Sérgio Buarque de Hollanda, Décio Freitas, Nelson Werneck Sodré, et alli, e não nos envergonhe com uma manifestação tão pedestre e desconstrutiva.
Para finalizar, como advogado militante que sou, não poderia deixar de lhe perguntar: a senhora processaria o deputado com base em quê e imputando qual violação de direito?
Boa noite, caro Paulo:
sugiro ao anônimo das 18:51 que leia Kabenguele Munanga e Hélio Santos. Caso não os conheça, sugiro que recorra ao Google.
Quando refere-se aos "menos cultos e menos politizados" o anônimo vangloria-se da sua politização e cultura ? Conclui que se o Tiririca chamasse o Ministro Joaquim Barbosa de moreno escuro seria menos racista pela falta de cultura e de politização?
As ilações sobre ser o deputado matogrossense e, por isso alvo de críticas, são suas, anônimo. Ele poderia ser sueco e seria racista da mesma maneira.
Nosso causídico supera-se: é racista e preconceitoso.
Abração, Paulo.
Adelina,
Julio Campos é do DEM, partido aliado do PSDB e do PPS. Portanto, faz parte de seu consorcio de poder.
É feio, muito feio, falar mal dos aliados em público, mesmo que a crítica seja justa.
Vocês, da demotucanocracia, não vão querer repetir os erros do PT, não é verdade?
FAlando nisso, quando vão extinguir o IDESP?
Senhora Adelina Bia, nunca me escondo atrás do anonimato - identifiquei-me e assim o poster apontou meu nome: Ismael Moraes.
Vejo que o seu entendimento alcança pouco: ao me referir aos menos cultos ou menos politizados quis evidenciar que a intenção do deputado não era ofender ou discriminar - agiu pela mentalidade comum da maioria das pessoas da nossa realidade cultural e educacional, com baixo nível de politização. Alguém discorda disso?
Mas, dona Adelina, quero lhe dizer que não conheço os estudiosos referidos por você (com nome parecido, já li alguns textos do brilhante geógrafo Milton Santos, que é negro). Mas, você pode ter certeza, quando eu for procurar ler alguma coisa do Hélio Santos ou do Munanga irei a uma bibliioteca ou a uma livraria - essa cultura de Google é uma das coisas que estão matando a Educação.
Para sua informação - que, aí sim, se expõe a processo por imjúria e difamação ao me chamar de racista e preconceituso - minha especial e maior clientela são associações de ribeirinhos, quilombolas, sindicatos de trabalhadores rurais, enfim, são justamente os grupos mais oprimidos, mais marginalizados que os urbanos, uma vez que sofrem ainda com a invisibilidade.
Para terminar, sugiro que você também leia Guimarães Rosa, em especial o conto "Sagarana". Ali, Rosa descreve "um casal de pretos", com toda humildade e opressão - o que, para um analista mais apressado pareceria racismo. Mas, não: ele está apenas narrando uma realidade. Aliás, Rosa, como diplomata, correu sério risco de ser pego por nazistas ou pelo Estado Novo ao conceder, de certa forma fraudando e usando subterfúgios, vistos para judeus alemães saírem da Alemanha e chegarem ao Brasil.
Mas, por uma simplista daquele seu excepcional conto, ele seria um racista.
Deploro que alguém ocupando um cargo tão significativo em estudos sociais possa fazer manifestações tão sofríveis.
Boa noite, caro Paulo.
Boa noite, Ismael:
Desculpo-me pela falta de atenção por haver incluído você no rol de anônimos.
Mantenho minha dúvida sobre a real intenção de Júlio Campos ao referir-se ao Ministro Joaquim Barbosa. Se chamasse o Ministro Barbosa de “aquele ministro negro” não estaria cometendo nenhuma descortesia e menos ainda um ato de racismo e discriminação. Chamá-lo de “moreno escuro” revela o nosso racismo histórico, ao qual até pessoas como você e eu podem subordinar-se, sem intenção.
Não pretendi, ao recomendar-lhe o Google na busca de estudos ou entrevistas dos eméritos professores Kabengele Munanga e Hélio Santos, impor-lhe nenhum demérito. Apenas indiquei com isto que eles não são ainda olhados como produtores de importantes discussões, análises, teses e textos sobre o cordial racismo brasileiro e escapam à maioria das bibliografias.
Ao citar Guimarães Rosa você está corretíssimo e Rosa não é racista. Refere-se a um casal de pretos. Negro é raça e preto é cor. Nenhuma ofensa. Porém, moreno escuro é uma derivação da nossa atávica dificuldade em trabalhar conceitos claros de raça e cor, sempre desfavorecendo, com esta postura, os não-brancos.
Isto só fortalece o disfarçado racismo à brasileira, do qual eu tenho mais temor do que do racismo explícito da sociedade americana na década de 30 do século passado.
Quantos de nós crescemos ouvindo coisas do tipo “ segunda-feira é dia de branco”, indicando que é dia de trabalho? Ninguém certamente cunhou esta expressão com a marca expressa do racismo, mas ela está nela impressa, pois indica que os negros não gostam de trabalho. Que ser trabalhador, diligente, etc é privilégio de branco.
E a “dificuldade” da sociedade brasileira em apoiar a política de cotas raciais, alegando que não é possível determinar a negritude quando durante muito tempo soubemos fazê-lo ao indicar aos negros a entrada de serviço dos prédios e elevadores?
Seria capaz de citar dez expressões como esta e elas caracterizam sim o racismo brasileiro. A referência de Júlio Campos ao Ministro, também.
Quanto a mim, não deploro o cargo que eventualmente ocupo. Tenho orgulho disto, assim como da minha trajetória e dos meus compromissos.
Um abraço, Paulo.
Um abraço, Ismael.
Adelina Bia,
realmente surpreendi-me com a sua manifestação postada pelo Bemerguy. Era incompatível com as muitas outras que já vi feitas por você.
Você dissertou, por derradeiro, passeando com tal elegância e sabedoria pelos nossos perfis, mantendo a sua crítica - que eu permaneço em discordar na essência -, que parece que a pessoa que escreveu o comentário que eu critiquei não é a mesma desta última manifestação.
Desculpe pela aspereza da minha crítica, pois escrevo diretamente na caixa do blog. É que quando "a sentença se anuncia bruta, mas que depressa, a mão cega, executa, pois que senão o coração perdoa", como diriam Chico Buarque e Ruy Guerra.
Um abraço.
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