“Ao atualizar o mito do aparecimento da Santa, o Círio dá ênfase à origem do culto: daí o gesto piedoso, o despojamento nas atitudes, a reverência ao sagrado, as oferendas em contrapartida ao milagre. A procissão, em seu deslocamento espacial, refaz a ligação iniciada em 1793 entre o Palácio do Governo e a Basílica de Nazaré, reproduzindo assim o que Moreira chama de um "clímax de uma migração periódica de fundo religioso". A observar que, no princípio, essa mobilização se fazia da cidade para o interior, uma vez que Belém, na época, século XVIII, era ainda um núcleo reduzido. Posteriormente, essa mobilização passou a ser feita do interior para a cidade, pois os romeiros deslocam-se de todas as áreas da região (e do Brasil) para vivenciar os dias da Festa. Para Moreira (1971) o efeito simbólico desse movimento proporcionado pelo Círio atuaria como "força aglutinadora" de populações que se espalhavam pela região e tendo como função a fixação de "certos padrões de comportamento coletivo" (Moreira, 1971, p. 16).
“Nesse sentido é que a Festa de Nazaré constitui um marco essencial do que culturalmente é importante para um modo de vida regional. A atualização do mito, além de ressaltar esses padrões, põe em destaque as instâncias de identificação regional: a Festa de Nazaré é uma festa dos paraenses, intrinsicamente regional, e assim é percebida e realizada. Reflete os desejos e anseios de uma população que se orgulha do compartilhamento de valores comuns, sejam eles efetivos, desejados ou idealizados, essencializados na condição humilde daquele que achou a imagem de Nossa Senhora de Nazaré, "pobre e mestiço" (Moreira, 1971, p. 13) e seus continuadores. Por isso mesmo é que os paraenses, nas mais diversas cidades do Brasil, realizam o seu Círio no segundo domingo de outubro: seja no Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília, Recife etc. O Círio é reproduzido e os valores regionais compartilhados da mesma forma, seja na procissão, nos pequenos arraiais montados ou na venda e consumo de comidas paraenses.”
Os dois parágrafos acima são de um artigo de ISIDORO ALVES, doutor em Antropologia Social e pesquisador aposentado do Ministério da Ciência e Tecnologia.
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