domingo, 21 de fevereiro de 2010
E agora, novo messias?
Está em curso à construção de um mito que quer desbancar o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva. Esse novo messias se chama Fernando Henrique Cardoso. Contudo, através de elucubrações e ataques inócuos, nem santa milagreira fará de José Serra presidente do Brasil. Até porque, ao ter esse comportamento, FHC nem parece oposição. Se o compararmos com o Nosso Guia, ele perde feio. Lula faz o estilo caudilho, manda em tudo e em todos. À sua agremiação, impôs uma candidatura que o partido carrega contrariado, mas, digamos assim, conformado, refém de duas crises: de identidade e de baixa estima.
A mãe de todas as reformas é a política. Ano passado, eleitores esclarecidos entendem os afagos entre Lula, Collor e Sarney, arquiinimigos do passado, com um esforço de preservação de práticas político-administrativas profundamente defeituosas. É importante que os agentes de governabilidade sejam os partidos, e não uma relação suspeita e disfuncional do Executivo com cada deputado e senador. Para isso, é imprescindível a implantação da fidelidade partidária e do princípio de votação de parlamentares em bloco com seu partido. O Congresso ganharia em funcionalidade para tramitação das reformas que o País precisa. Questiona-se: FHC foi fundo nessas questões?
O ex-presidente Fernando Henrique curiosamente se expressa por meio de parábola. Parábola, como se sabe, é uma história alegórica que dá seu recado indiretamente. FHC deveria fazer exatamente o contrário, como faz Lula, sem ter medo de ser feliz.
Lula chegou ao ponto em que o PT faz dele, sim, um mito em que o partido transfere ao chefe todo o poder de escolher seus caminhos. Come se ele fosse o único dono do discernimento, habilidade política e seu maior estrategista entre milhares de petistas. Em grau menor, os outros aliados ao presidente agem da mesma forma. Não só deixam que Nosso Guia interfira em suas decisões como pedem sua interferência para resolver pendências. Indaga-se: quando FHC bateu forte nesses flancos?
A disputa política entre o PT e o PSDB ganhou alguns dias atrás os ares de uma rixa entre meninos entram na puberdade, em que púberes competem entre si para mostrar quem é melhor ou faz mais. Soberbos pela aprovação recorde do governo, os petistas querem transformar a campanha presidencial da chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, numa variação do bordão preferido do Nosso Guia: "Nunca antes na História deste país".
O PT já montou sua estratégia: será de uma disputa plebiscitária contra o PSDB, em que pretende confrontar as realizações do governo Lula com as do ex-presidente Fernando Henrique, que deixou a Corte com a popularidade em baixa. Logo em seguida, FHC, em artigo, reagiu acusando Lula de "inventar inimigos e enunciar inverdades", de se deixar contaminar "por impulsos tão toscos e perigosos" e topou o desafio. "Se o lulismo quiser comparar, sem mentir e sem descontextualizar, a briga é boa. Nada a temer", escreveu FHC. Faço minhas as palavras do colunista Ancelmo Gois: "Isto quer dizer... não sei".
O artigo gerou resposta de Dilma, que disse que vai insistir nas comparações; réplica de FHC, que fustigou afirmando que "Dilma não é líder, mas reflexo de um líder"; e outras declarações como o do senador Tasso Jereissati, que, num tom machista, disse que Dilma é uma" liderança de silicone, bonita por fora, mas falsa por dentro".
FHC e Nosso Guia brigam como adolescentes. O debate em que ambos travaram recentemente tem apelo eleitoral, mas ignoram os avanços obtidos com a continuidade dos dois governos.
A tese dos petistas é discutível. Em primeiro lugar, o efeito eleitoral de um debate sobre o governo FHC pode ser mais reduzido do eles imaginam - os eleitores votam, em geral, mais preocupados com o futuro do que com o passado. Em segundo lugar, uma campanha plebiscitária, baseada numa comparação entre dois governos, pode fazer algum sentido eleitoral, mas resvala num debate impregnado de artificialismo.
Fernando Henrique cai na armadilha de Lula e, na prática, fortalece idéia da eleição plebiscitária. É do conhecimento de todos que FHC é vaidoso. Mesmo os amigos mais chegados reconhecem esse defeito. Pecado capital, a vaidade, segundo os católicos. Se esse aspecto da personalidade do ex-presidente não passa despercebido, aos olhos dos eleitores, imaginem o que se dá com Nosso Guia, um expert em FHC.
As mais recentes reações do coroado príncipe dos sociólogos às comparações promovidas na área petista entre seu governo e o de Lula servem somente para demonstrar que FHC é pecador contumaz, de sorte a alegrar seus adversários e, assim, inquietar José Serra - que neste momento político parece sofrer de letargia. E agora, novo messias?
Se a vaidade e inveja de FHC se estabelecem, Nosso guia vence fácil, pois é exatamente a vitória que procura. O presidente montou um ardil, um jogo de cena sem precedentes, o ex-presidente caiu na armadilha. Dilma esfrega as mãos de contentamento e Serra fica aflito.
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SERGIO BARRA é médico e professor
sergiobarra9@gmail.com
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