domingo, 16 de agosto de 2009

Sant’Ana aos poucos volta à beleza original

No AMAZÔNIA:

A tradição religiosa ultrapassa séculos e gerações. Sant’Ana, casada com Joaquim, tinha idade avançada e era estéril, quando recebeu a notícia de que estava grávida. A filha, segundo a tradição religiosa, é Maria, mãe de Jesus Cristo. O livro sagrado dos católicos, a Bíblia, não menciona nada sobre o assunto, no entanto, a avó de Jesus atrai uma legião de devotos. E não é à toa que a paróquia de Nossa Senhora de Sant’Ana, em Belém, é a segunda mais antiga da Amazônia e da Arquidiocese da capital paraense. A paróquia perde apenas para a Catedral da Sé, a primeira fundada na cidade. Há quatro anos e seis meses, a igreja está em obras de restauração. Sant’Ana é conhecida por ser protetoras das viúvas, das grávidas e da avós, além de levar o título de padroeira do comércio de Belém. O trabalho de recuperação da igreja, que estava com problemas de infiltrações e rachaduras, além de deteriorada, foi iniciado em janeiro de 2005 pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), vinculado ao Ministério da Cultura. Apesar da reforma, que atualmente está na quarta fase, a igreja continua aberta ao público.
Os fiéis podem acompanhar o trabalho de restauração desenvolvido pelos profissionais. A primeira fase da obra foi uma reforma emergencial na parte externa e na cobertura da igreja. Nessa etapa foram realizados a recuperação no reboco das fachadas frontal e lateral, revestimento do forro e a troca do telhado. A segunda fase ficou centrada na parte interna. Os restauradores conseguiram encontrar vestígios do piso original e recuperaram o retábulo central da capela-mor. Por meio de várias escavações, os profissionais encontraram o piso original de tijoleira, fabricado de cerâmica e muito utilizado nas construções na Amazônia no século XVIII. Com isso, foi colocada uma reprodução do piso de tijeleira para retratar o que havia no local no período de construção da igreja. O restaurador do Iphan, João Carlos Valentim, explica a técnica utilizada para descobrir o piso original, o qual estava coberto por uma outra camada de lajotas colocada posteriormente. 'Foi a prospecção estrutural, que consiste na delimitação de uma determinada área de trabalho para desvendar camada por camada da área até alcançar a mais profunda e original da construção’’, explica. Ainda na segunda etapa, o órgão musical, datado de década de 60, foi restaurado, retirado da capela-mor e colocado nos altos da igreja.
A terceira fase do projeto foi um trabalho mais demorado e cuidadoso, que se deteve na recuperação de todas as pinturas internas da igreja. Segundo João Valentim, as pinturas estavam passando por um processo chamado de saponificação ou carbonatação, por causa das infiltrações que atingiam ao prédio havia anos. 'A maioria das pinturas estava encoberta por uma camada esbranquiçada, resultado de uma reação físico-química entre os materiais utilizados na pintura e a umidade', afirma o restaurador.
Na quarta fase da restauração, estão sendo reparadas a gruta e a sacristia do templo, além de duas telas de Pedro Alexandrino com a reprodução das imagens de São José e São Miguel. Mas o projeto de restauração ainda não está próximo do fim. Valentim explica que ainda são necessárias revisões na fachada, salão e nas áreas posteriores da igreja. Segundo o restaurador, para iniciar a quinta fase das obras, o Iphan está aguardando a liberação de verba, estimada em 1,5 milhão de reais. 'Esse dinheiro, que deve vir do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) servirá para a conclusão da restauração. Na primeira e terceira fases, o BNDES destinou verba para a restauração da igreja. As outras etapas foram custeadas pelo próprio Iphan', explica.
No total, R$ 3,2 milhões já foram utilizados nas obras de restauração de Sant’Ana.

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