Lula e seu faro sempre apurado. Aliás, apuradíssimo.

Político bom é o que o tem o sentido, o faro, o feeling da sobrevivência política.
E mais do que isso, político bom é que exerce na plenitude a capacidade de sobreviver politicamente.
Alguém duvida?
Se alguém duvida, olhe para o presidente Lula.
Lula é um craque.
Vamos e convenhamos, é um craque.
Fareja longe.
Joga conforme seu faro.
Fala conforme o faro.
Faz de conta conforme o faro.
Encena conforme o faro.
Distribui beijinhos e abraços conforme o faro.
E distribui, é claro, tapas conforme o faro.
Mas, às vezes, o tempo é inimigo do faro de Lula.
O tempo é mais rápido do que Lula imaginava.
E o obriga a retroceder rapidamente.
Aí, fica muito na cara que ele, num momento, farejou assim, noutro momento farejou assado.
Alguém duvida disso?
Pois lembrem-se do próprio Lula.
Há três, quatro semanas, dizia que o presidente José Sarney não poderia ser julgado como um cidadão comum.
Era Lula farejando que, ruim com Sarney, pior sem Sarney.
Naquele momento, no entanto, ainda era possível apostar que a oposição não teria fôlego sequer para forçar Sarney a licenciar-se do cargo.
Transcorreram apenas quatro semanas.
A situação de Sarney começou a ficar periclitante.
Agora, já não se fala mais em afastamento provisório, mas simplesmente em renúncia ao cargo de presidente do Senado.
E Lula?
Lula, ora, põe seu faro para funcionar.
E começa a desembarcar da nau de Sarney.
De mansinho, mas explicitamente.
E dá na cara que Lula está em processo de desembarque, porque há apenas três ou quatro semanas ele era o maior fiador, o maior avalista de Sarney na presidência do Senado.
Mas Lula, convenhamos, é um craque.
E seu faro, apuradíssimo.
Podem apostar.