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Numa frase de 37 palavras, dessas que ocupam pouco mais que o espaço aceito por uma mensagem no Twitter, ofegante, quase assustado, César Cielo, o homem mais rápido do mundo dentro d’água, referiu-se quatro vezes ao estrago que o acúmulo de ácido lático em seu sangue lhe causou nos 46s91 do recorde mundial dos 100 metros, em Roma, na quinta-feira da semana passada. "Está doendo muito agora, estou com dores fortes no corpo, mas tinha decidido que ia ser uma prova em que eu sentiria mesmo muita dor, a mais dolorida da minha vida", disse. "Minhas pernas estão muito, muito pesadas."
A dor, nas provas rápidas da natação, é tão lancinante que só tem um remédio: a vitória. Só o primeiro lugar no pódio de um campeonato mundial, com o melhor tempo da história, ou o ouro olímpico, como o dos 50 metros em Pequim, são capazes de aliviar a sensação de queimadura interna provocada pelo acúmulo de ácido lático no sangue quando ele é produzido em esforços musculares sobre-humanos. "Só aguenta a dor quem vence", diz Fernando Scherer, o Xuxa, medalhista de bronze na Olimpíada de Atlanta, em 1996, nos 50 metros, e em 2000, no revezamento 4 x 100. Ao deixar a piscina do Foro Itálico, abraçado pela imponência de um conjunto esportivo construído nos anos 1930 por Benito Mussolini, Cielo ainda exibia manchas vermelhas dos tapas no peito e nas pernas que ele mesmo se aplica antes de cair na água em gesto de autoflagelação que ajuda a empurrar a adrenalina às alturas e mostrar a si mesmo que a dor queima mas não assusta nem paralisa - é uma amiga.
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