Na FOLHA DE S.PAULO:
A Sotheby's de Genebra conseguiu vender ontem 64 conjuntos de jóias de d. Lily Marinho, viúva do empresário Roberto Marinho, por US$ 11 milhões (R$ 18,3 milhões). A empresa de leilões havia avaliado que poderiam ser arrecadados pela coleção entre US$ 4,7 milhões (R$ 7,8 milhões) e US$ 8,5 milhões (R$ 14 milhões).
O total do dia, que incluía outras coleções, foi de US$ 57,1 milhões (R$ 95 milhões), o segundo maior valor na venda de jóias numa única série de leilões em todos os tempos.
Trabalho bem realizado, o leiloeiro David Bennett surgiu no bar do hotel Beau-Rivage com ar de dever cumprido, charuto Montecristo entre os dedos, gravata afrouxada e óculos de leitura dourados no rosto. "Tenho certeza de que d. Lily ficará satisfeita com o valor", declarou aos repórteres.
O estabelecimento cinco estrelas, que cobra entre US$ 800 e US$ 9.000 (de R$ 1.330 a R$ 14.977) por diária, permite o livre trânsito de fumantes e cachorros de estimação em suas dependências. Pouco antes do início do leilão dos lotes de d. Lily, uma senhora de cabelos quase brancos (de tão louros) levava pela coleira um poodle preto pelo salão.
O ponto alto da "performance" de Bennett se deu na venda da última peça da noite: um par de brincos de diamante em forma de gota, que tinham um valor mínimo esperado de US$ 1,2 milhão (R$ 2 milhões) e foram arrematados via telefone por um comprador que preferiu se manter anônimo, após pagar US$ 2,9 milhões (R$ 4,8 milhões).
Na reta final das ofertas, dois compradores que operavam por representantes da Sotheby's travaram uma batalha de preços. "US$ 2, 2 milhões com a Daniela", Bennett dizia, em referência à funcionária da casa. Novos lances. "US$ 2,6 milhões com a Carol", outra mocinha, com rosto sério e falando baixo ao telefone. "Vou vender... vou vender... US$ 2,7 milhões!", dizia, até chegar ao valor final, saudado por aplausos entre os presentes.
Entre as cerca de 200 pessoas de corpo presente no salão, havia de tudo. Os trajes incluíam de minissaia a quipá. Cerca de 30 funcionários se dividiam em duas mesas de telefone em cada um dos cantos.
De um púlpito, Bennett alternava entre o inglês e o francês nos seus comentários -muitas vezes na mesma frase. De vez em quando, uma modelo fazia pose lá na frente, com um dos objetos a ser arrematado enfeitando-lhe o colo, as orelhas, os dedos ou o braço.
Outro resultado, no caso de d. Lily Marinho, foi ver duas de suas jóias entre as dez mais caras do dia -que teve mais de 500 peças. O valor mais alto já conseguido por uma coleção particular de jóias em leilão foi de US$ 50,3 milhões, para colares, brincos etc. da duquesa de Windsor, em 1987. Embora a conversão não seja fácil -já que é preciso considerar a inflação no período-, serve de parâmetro para o montante arrecadado ontem à noite.
Nenhum comentário:
Postar um comentário