quarta-feira, 26 de março de 2008

Vale desiste de comprar mineradora Xstrata

Na FOLHA DE S.PAULO:

A Vale anunciou ontem que desistiu da compra da mineradora anglo-suíça Xstrata. Em nota, a Vale informou que submeteu uma proposta de pagamento em dinheiro e em ações para adquirir 100% das ações da Xstrata, mas que não foi alcançado acordo entre as partes.
Com o fim da negociação, a Vale, que ocupa hoje o segundo lugar entre as maiores mineradoras do mundo, perde a chance de chegar ao topo entre as grandes empresas do setor. Atualmente, ela só fica atrás da australiana BHP-Billiton. A aquisição daria à empresa mais destaque na produção mundial de carvão e cobre. "A Vale entende que essa oferta criaria considerável valor para os acionistas de ambas as empresas", informou em nota.
Antes do comunicado à imprensa, o presidente da Vale, Roger Agnelli, já havia afirmado em um evento em São Paulo que a compra da Xstrata não era prioritária para a empresa.
Em entrevista após a divulgação do resultado da companhia no início deste mês, Agnelli já havia mencionado que a mineradora brasileira havia chegado ao limite de sua proposta de compra e que mantinha conversas com outras empresas.
À noite, em outro evento na capital paulista, o presidente da companhia disse que "é uma negociação complexa, é difícil chegar a um acordo". "Não é bom para as empresas ficarem com um negócio pendente".
Sobre outras aquisições, Agnelli disse que "sempre tem um plano B". "Estamos interessados em outras empresas, em especial o mercado de cobre e carvão", completou. Na metade do mês, executivos da mineradora anglo-suíça, como Mike Davis, e da trading Glencore, que detém participação de 35% na Xstrata, Ivan Glasenberg, estiveram no Brasil para uma rodada de negociações com Agnelli. A Glencore queria manter o direito à comercialização de produtos da Xstrata. Segundo Agnelli, a aquisição não prosperou porque as empresas não chegaram a um acordo sobre qual delas iria controlar a comercialização dos produtos -e não por causa do valor da compra.
No comunicado divulgado ontem, a Vale ressaltou que, de acordo com regras do Reino Unido, a companhia se reserva o direito de anunciar uma oferta ou participar de uma proposta pela Xstrata dentro dos próximos seis meses caso haja uma recomendação positiva ou um acordo com o Conselho de Administração da Xstrata. A nova oferta seria viável também caso outra empresa faça uma proposta pela Xstrata ou a mineradora anglo-suíça anuncie uma operação reversa de compra.
A Vale nunca chegou a divulgar um valor de oferta, mas o montante estimado para a aquisição era de US$ 90 bilhões. Desde o início, a proposta gerou polêmica. Apesar das sinergias com a eventual aquisição da Xstrata em áreas como níquel, carvão e cobre, havia receio no mercado de que a aquisição resultasse em um aumento do nível de endividamento da empresa, o que poderia, em última instância, comprometer o grau de investimento concedido por agências de classificação de risco. A operação seria muito mais complexa do que a compra da produtora de níquel canadense Inco em 2006.
Depois que a Vale conseguiu equacionar a proposta após a negociação com bancos, a discussão passou a girar em torno da forma de gerir o negócio. A empresa havia obtido uma linha de US$ 50 bilhões para financiar a operação junto a consórcio de bancos estrangeiros.

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