quarta-feira, 19 de março de 2008

“O que é que o jornalista tem que o político não tem?”

O deputado federal Vic Pires Franco (DEM-PA) deixou o seguinte comentário no post Caso do jornalista é mesmo um caso de polícia:

Como diz o filósofo lá da esquina, uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa.
Uma coisa é um jornalista suspeito de ter cometido um crime, e outra coisa é um político.
O jornalista tem seu nome guardado a sete chaves pela Polícia Federal e pela grande imprensa local.
E o político?
Bem, aí é a tal da outra coisa. O político, culpado ou inocente, vai pra primeira página dos jornais, e é condenado pela opinião pública, passando direto pra vala, pra lama. Sem dó nem piedade.
Sou as duas coisas, jornalista e político, e tenho muito orgulho disso, mas não posso me calar ao ver esse quase malandro jornalista, que só não cometeu o crime porque foi pego com a boca na botija, ser "aliviado" por toda a imprensa local.
Será que se fosse um político, o nome dele estaria sendo guardado a sete chaves, pela PF ou pela imprensa? Duvido!
Como cidadão, quero ver o mesmo tratamento para todos.
Se é para a PF fazer estardalhaço com suas operações e prisões, como vem fazendo sempre, que faça para todos, sem distinção. Dê nome aos bois. Ou ao boi.
O que é que o jornalista tem que o político não tem? Vergonha na cara, honra, credibilidade?
Papo furado, o político, quando quer, tem tudo isso, assim como o jornalista, quando não quer, se transforma num pilantra tão malandro quanto um político vagabundo. Tudo é uma quetão de honra, e honra não se encontra em diplomas.
Está aí o Duciomar Costa pra provar o que eu digo.
E tipos como ele, e esse jornalista malandro, estão à venda em fim de feira por aí.
Vic Pires Franco

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O comentário do deputado Vic Pires Franco merece muitas reflexões, porque contém verdades incontestáveis. Mas merece também ponderações.
É preciso demolir os pedestais. Quaisquer pedestais. Inclusive aqueles onde se equilibram jornalistas.
Assim como o presidente da República, como advogados, médicos, motoristas de táxi e garis erram, jornalistas também erram, falham, cometem crimes - e crimes que não são de Imprensa, como o do jornalista Pimenta Neves, que matou a namorada e está solto.
Jornalistas associam-se a interesses espúrios, subordinam-se a causas pouco meritórias, dão-se ao exercício de achincalhar a honra alheia, enfim, fazem o que não devem fazer. Muitos fazem isso, muitos não fazem.
E é verdade, sim, que jornalistas – como magistrados, advogados, médicos e políticos – são corporativistas. Gostam de apontar o dedo na cara dos outros, para incriminá-los por erros e suspeitas, mas recusam-se a fazer o mesmo quando é com um colega deles. Muitos jornalistas não comungam desse protecionismo deplorável, mas outros seguem à risca essa linha.
Jornalistas são auditores da sociedade. Devem ser holofotes para iluminar e descobrir sobretudo e principalmente o que está escondido. Ou pelo menos deveria ser assim. O que está escondido nem sempre deve permanecer nessa condição. Se é do interesse da sociedade saber, então que se revele o que precisa ser revelado. Nessa condição, é preciso que os jornalistas se conduzam com retidão. Com a mínima retidão. Do contrário, perdem a crediblidade. A credibilidade é a maior credencial de um jornalista. Se essa credencial se mostra esmaecida, amarelada e comprometida, o jornalista vai no mesmo ritmo dela.
É inquestionável, de outro lado, que jornalistas não podem fazer o papel de delegados de polícia, promotores e juízes ao mesmo tempo. Devem apurar e oferecer fatos. O julgamento fica por conta da procedência e da pertinência dos fatos apurados. Não é de bom tom levar ao patíbulo da execração pública pessoas sobre as quais recaem apenas suspeitas. Mas não é porque são suspeitas que a Imprensa deve se manifestar apenas ao final das apurações, quando os processos já transitariam em julgado. Ou seja, quando não há mais a possibilidade de impetração de recursos. Se fosse assim, não haveria jornalismo.
Ainda nesta quarta-feira, o blog recusou vários posts ofensivos. Um deles continha graves acusações ao ex-senador Ademir Andrade. O blog recusou a publicação na caixinha (confiram na caixinha deste post) porque a pessoa que os fez foi um anônimo e usou de linguagem, termos e acusações das mais escabrosas, incompatíveis, portanto, com este blog. Também já recusou posts que citam o jornalista que teria sido ouvido pela PF. Recusou porque ainda não se sabe quem é. Já recusou e tem recusado muitos e muitos comentários desairosos à honra dos professores Sílvio Gusmão e Bira Rodrigues, primeiro e segundo colocados para reitor da Uepa, bem como em relação ao professor Fernando Palácios, reitor da instituição.
É inquestionável porém, deputado Vic, que jornalistas têm mais credibilidade que os políticos e os homens públicos de um modo geral. Pesquisas reiteradas e confiáveis têm demonstrado isso. E justamente por esse motivo é que os jornalistas precisam fazer jus à credibilidade que merecem. Do contrário, não poderão dizer-se jornalistas, porque sem credibilidade nenhuma.
Enfim, o filósofo da esquina, tem mesmo razão. Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa. Uma coisa é o jornalista que zela por sua credibilidade. Outra coisa é aquele que não zela. Uma coisa é o político que honra o seu mandato. Outra coisa é aquele que não honra.
Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa.

2 comentários:

Anônimo disse...

O pior e mais grave ainda é quando o político é jornalista ou vice-versa. Quando o mesmo confunde ou mistura as duas atividades. Até mesmo, fazendo das duas funções escada para a outra. Acabando por duvidosos seus ofícios.

Anônimo disse...

Não vou responder ao anônimo das 14:36. É um direito dele achar o que quiser, e eu respeito isso.
Quanto ao seu comentário, Paulo, não tiro um vírgula do que você escreveu.
Não tiro, e nem coloco.
Mais uma vez, parabéns.
Vic