Os leitores dos jornais de Belém Pará que se detiveram em ler com atenção as edições de domingo de ambos os jornais depararam-se com duas notas que, discretamente publicadas quase escondidas, tinham um tom de que não queriam dizer muita coisa. Mas disseram. E como.
Um delas, publicada na coluna do jornalista Pio Netto – também inspetor-geral da Guarda Municipal de Belém – no caderno de Esporte de O LIBERAL, diz apenas assim:
Exclusiva: Carlos Cunha foi o profissional escolhido pelo prefeito para ser o primeiro titular da SEJEL- Secretaria Municipal de Juventude, Esporte e Lazer.
A outra nota, publicada na coluna que Mauro Bonna assina na última página do caderno Negócios do Diário do Pará, diz a mesma coisa, com um acréscimo cuja relevância é inversamente proporcional à economicidade das palavras. Diz assim:
ESPORTE
Carlos Alberto Cunha, titular da nova secretaria de Esporte, Juventude e Lazer da Prefeitura, é assessor de Dudu há 20 anos.
Tratam as notas, como vê, de Carlos Cunha. Quem é Carlos Cunha? É Carlos Cunha, ora essa. Ele mesmo, o Carlos Cunha que, conforme revelado pelo ex-secretário municipal de Saúde William Lola, em depoimento prestado em dezembro de 2006 no Ministério Público Federal, era o homem que jamais fez parte da administração municipal, que jamais integrou quaisquer de seus escalões, do primeiro ao último.
E daí? E daí que, segundo relato feito ao MPF, o prefeito Duciomar Costa telefonou pessoalmente ao então secretário de Saúde, William Lola, e ordenou-lhe que os carros adquiridos com recursos da Saúde no segundo semestre de 2005– 65 veículos (60 Siena) e 5 L200) e 50 motocicletas, na ocasião estacionados no pátio da concessionária Fiat, não poderiam ser retirados dali por determinação da própria Sesma, como seria natural, mas de Carlos Cunha, que não tinha qualquer relação formal com nenhum escalão, com nenhum nível da administração municipal.
Pois é. Agora, não se poderá mais dizer que Carlos Cunha agia nas sombras ou coisa que o valha. Agora, ele realmente integra a administração municipal, como titular da recém-criada Secretaria Municipal de Esporte, Juventude e Lazer (Sejel).
O fato de Carlos Cunha ser “assessor de Dudu há 20 anos” é dos mais relevantes, jornalística e judicialmente. Jornalisticamente, é preciso mesmo saber-se qual critério é utilizado pelo prefeito Duciomar Costa para nomear seus auxiliares. Neste caso, andou bem o gestor ao ter como titular de uma secretaria seu assessor de 20 anos, Carlos Cunha.
De outro lado, Carlos Cunha poderia ser assessor do político Duciomar Costa por duas, três, cinco ou seis décadas, mas nunca foi funcionário da administração municipal. Nunca – pelo menos ao que se saiba. Disse-o o ex-secretário municipal William Lola e confirmam funcionários municipais que estão com Duciomar desde o início de seu governo.
O vínculo de Carlos Cunha era com Sílvia Randel, a chefe de Gabinete e homem forte, aliás, mulher forte do governo Duciomar Costa. E porque lhe faltava qualquer vínculo formal com a administração municipal, não poderia o prefeito atribuir a um estranho a tarefa de cuidar da retiradas de veículos comprados com dinheiro público e que deveriam, pela ordem natural das coisas, ser retirados sob a determinação e o acompanhamento do então secretário de Saúde, William Lola.
Pois eis que Carlos Cunha faz parte, agora sim, da administração municipal. E nem precisaria o prefeitura informar que ele é “assessor de Dudu há 20 anos”. Porque judicialmente, se vier a ser considerada a informação prestada por William Lola ao MPF, terá relevância em verdade uma indagação: por que um estranho à administração municipal, e não o secretário de Saúde, é que cuidou de carros que foram adquiridos com recursos da Saúde e depois destinados em boa parte à Guarda Municipal de Belém?
Um comentário:
O vínculo de Carlos Cunha era...é e sempre será com Silvia Randel. Claro que com Dudu pelo lado, ou por "fora" como queiram.
Na verdade tentaram, ou tentam, tapar o sol com a peneira, pra livrar da nronca feia do MPF. Bem ao estilo desse prefeito: me engana que eu gosto...
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