O novo normal, que nunca foi tão velho, é apavorante, excruciante, aflitivo.
Mas quem, num momento como este, haverá de incomodar-se, de afligir-se com mortes, com pessoas infectadas e com milhões de pessoas expostas a este vírus mortal?
Poucos, muito poucos estão aflitos em decorrência da tragédia que passa ao lado, que está na venta de todos, que está à vista mesmo dos que, podendo enxergar, não querem enxergar nada. Nem a tragédia.
No Pará, até agora, já morreram 6 mil pessoas vítimas da Covid-19 E 197 mil foram infectadas. São números oficiais.
O Estado, no entanto, tem mantido, de maio para cá, uma redução expressiva no número de mortes e de infectados. É o que apresentam os números coligidos e divulgados pela Sespa diariamente.
No real, no real mesmo, temos uma outra realidade: pelo menos 1,3 milhão de pessoas já tiveram Covid no Pará.
De onde brota essa estatística tenebrosa? Brota de pesquisa encomendada pelo governo e realizada, com amaparo em metodologias confiáveis, pela Uepa.
E aí?
E aí que o governo do estado está autorizando, a partir do dia 1º de setembro, a retomada das aulas presenciais nas escolas de ensino públicas e privadas, nos ensinos Infantil, Fundamental, Médio e Superior. em municípios que estejam em bandeira amarela, verde e azul.
Deverão ser respeitadas medidas de distanciamento e os protocolos de segurança apresentados pelo Comitê Técnico Assessor de Respostas Rápidas à Emergência em Vigilância em Saúde Referentes ao Novo Coronavírus (Ncov), da Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa).
O decreto não é impositivo. É autorizativo, ou seja, fica a critério de cada escola voltar ou não às aulas. Mas todas, é claro, vão voltar.
A obrigatoriedade da observância de regramentos para o retorno às aulas é suficiente para evitar a expansão da doença?
Não é.
Porque, vejam bem, não temos 197 mil de pessoas que já tiveram Covid. Temos 1,3 milhão - isso em apenas 52 municípios dos 144 municípios do estado. Se ampliado esse espectro estatístico, teremos muito mais.
Este número - o da pesquisa epidemiológica da Uepa - é que deveria orientar condutas e ações para se avaliar a pertinência da reabertura gradual de vários setores.
Mas não.
É impressionante, é trágico que nem a tragédia do vizinho nos comove. Nem a tragédia de quem está ao lado nos toca.
Vejam o caso do vizinho Amazonas.
No Amazonas, foram registradas cenas horrorosas - muito mais que as vistas em Belém, diga-se - durante o pico do pandemia.
Mesmo assim, o Amazonas foi o primeiro estado do País a reabrir as escolas públicas, no dia 10 de agosto. Após protestos e casos confirmados de Covid nas unidades, o governo anunciou a testagem em massa de 30 mil profissionais da educação, tanto da capital quanto do estado, que começou a ser realizada no dia 18 de agosto.
E o que aconteceu?
Aconteceu isso aí, estampado na imagem que ilustra esta postagem,
Depois do retorno às aulas, detectou-se que o
número de profissionais
da Educação no Amazonas que testaram positivo para Covid-19 subiu para 342,
segundo dados da Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas (FVS-AM).
No dia 21 de agosto, a
Secretaria de Estado de Desporto e Educação (Seduc) divulgou que, nos três
primeiros dias de testagem, 162 profissionais testaram positivo para a doença. Durante a
audiência pública, nesta terça-feira (24), a FVS informou que com mais dois
dias de testagem, o número
total de infectados subiu para 342.
O
Pará deveria olhar para exemplos assim e retardar, o quanto fosse possível, o retorno
às aulas.
O novo normal, todavia, exerce notável poder de sedução sobre todos - tanto sobre a galera que entope as praias como sobre outros segmentos, como o educacional, que se presumia mais fértil à racionalidade e ponderação.
Mas
que nada.
Racionalidade
e ponderação, nestes tempos malucos, são qualidades que tipificam um perfeito
idiota.
Basicamente é isso.
3 comentários:
Acabei de ver o Secretário da Saúde dizer que não tem problema o pessoal voltar as aulas. Tudo dominado por este desgoverno barbalhiano com suas barbalhidades, depois nem o remédio salvador do nosso Presidente poderá evitar o pior. Mas enfim é o que dá o comprometido STF se meter onde não deve e dar carta branca a estes governadores enrolados para resolver esta pandemia.
Acho que o governador de vcs cedeu às pressões . No linguajar erudito: fraquejou
A volta às aulas é resultado da pressão econômica e social que ocorre não somente no Estado do Pará, mas em todos os demais Estados. Foge ao poder dos governadores ou do mediocre.
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