quarta-feira, 10 de junho de 2020

Ao não querer saber a origem dos R$ 750 mil encontrados em isopor, governo do estado se mantém amarrado ao fato mais devastador descoberto pela Para Bellum


Durante a entrevista coletiva que o governador Helder Barbalho prestou há pouco, virtualmente, para falar sobre a Operação Para Bellum, a única questão que haveria de despertar uma curiosidade, digamos assim, jornalística referia-se ao tema óbvio: de onde brotaram os R$ 750 mil encontrados dentro de um recipiente térmico, na casa de um assessor qualificado da Sespa.

Era apenas essa, repita-se, a questão de fato relevante que poderia merecer uma abordagem equivalente à sua importância. Isso porque, quanto ao restante que foi abordado, as respostas eram evidentemente previsíveis. Porque as perguntas também eram, uma vez que, em entrevistas coletivas – normalmente muito chatas e comportadas -, jornalistas nem sempre conseguem livrar-se da tentação de fazer perguntas óbvias. E recebem, claro, respostas óbvias.

Coube à TV Record perguntar sobre os R$ 750 mil a Helder. E o governador? Respondeu que não tem ideia da origem desse dinheiro, acrescentando que caberia ao secretário-adjunto de Gestão Administrativa da Sespa, Peter Cassol, responder de onde veio a dinheirama encontrada na casa dele. E disse mais: que o governo do estado exonerou incontinenti o servidor, tão logo o fato foi revelado pela Operação Para Bellum.

No mínimo, no mínimo, o governador seria, digamos assim, mais veraz se respondesse que o estado já procurou apurar esse fato junto ao servidor e este, por exemplo, disse que não quer falar, que só vai falar na polícia, em juízo, no campo de futebol, no botequim, seja lá o que for. Mas dizer simplesmente que não tem ideia, como disse Helder, é arriscado.

Supondo-se que os R$ 750 mil provieram de fonte diversa das operações envolvendo a compra de respiradores, qual seria o problema do governo do estado em revelar?

Do bingo, da loteria? - O dinheiro, por exemplo, poderia vir de um bingo que o servidor promoveu. Ou de uma aposta que ele fez. Ou de um bem que vendeu e recebeu o dinheiro em espécie. Ou de uma loteria que ninguém sabe de onde é. Pronto. Então era só dizer: Fulano disse que o dinheiro foi encontrado casualmente na rua, ele pegou tudo, levou pra casa e guardou num isopor. Fim de papo.

Todas essas seriam razões suficientes e bastantes para o governo do estado informar à sociedade a versão do servidor, indicando que o dinheiro nada tem a ver com operações ilícitas. Caberia, evidentemente, às investigações em curso comprovarem a veracidade dessa versão. Mas o governo se livraria, pelo menos em parte, das especulações – evidentemente negativas e maliciosas - sobre a origem do dinheiro.

Calando-se, silenciando, abstendo-se de informar, pelo menos, qual a versão do servidor para essa conduta, o governo do estado continuará agrilhoado, indissociavelmente, à visão impactante, aterradora e devastadora para a sua imagem, consistente na visão de policiais federais usando uma máquina para conferir R$ 700 mil encontrados na casa de um assessor qualificado de uma secretaria estadual, e justamente a da Saúde, diretamente envolvida na operação de compra dos respiradores que está sendo investigada no âmbito do Superior Tribunal de Justiça (STJ).

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