segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Uma série de decisões equivocadas


Sempre é assim. Entra ano e sai ano, a política continua se arrastando, sonolenta, letárgica. Os bons políticos de antanho se foram e deixaram saudades. E certamente com a imaginação vazia ficamos a procurar ali e acolá e nada. A grande maioria dos políticos, hoje, não provoca mais nenhum fascínio e nem ficam rodeados até por diminuta plateia, quando acontece, ficam improvisando e mentindo estupidamente. Agora, estão de retorno após o recesso. Esse regresso os coloca diante de um cenário que eles apostam muito: o ano eleitoral. Cautela! As projeções são melancólicas. O eco das ruas ainda se faz ressoante.
Mas a nossa economia preocupa. A mídia mostrou quase em tempo integral, os vários momentos da viagem da presidente Dilma Rousseff a Davos, na Suíça, para sua primeira participação no Fórum Econômico Mundial, movendo com muita dificuldade uma mala pesada. Em três anos de governo, acumulou uma taxa de crescimento do PIB de 6%; taxa de inflação de 19%; e um déficit em conta corrente - o resultado de nossas transações com o exterior de US$ 180 bilhões, 47% superior ao do final do governo Lula. É um resultado medíocre, mesmo levando-se em conta a desaceleração da economia global no período.
Detalhe, esses não são os únicos indicadores a explicar por que, desta vez, Dilma decidiu aceitar o convite para falar em Davos - onde, anualmente, se reúnem empresários, banqueiros, dirigentes de instituições multilaterais, acadêmicos e líderes políticos de todo mundo para discutir os rumos da economia global. Sabe quando colocam água na gasolina e o carro parece a todo o momento que está afogado, esse é um sinal de que os motores da economia brasileira estão engasgando e chegou ao mercado de trabalho, uma das poucas áreas em que o governo pode alardear números positivos.
Ademais, há ainda a desconfiança em relação à solidez fiscal no Brasil, que utiliza artifícios para aperfeiçoar truques e maquiar as contas públicas conhecidas como “contabilidade criativa”. Por fim, a mão pesada do governo tentando controlar preços contribuiu para assustar os investidores e disseminar a percepção - exagerada - de que o Brasil está mais próximo de Argentina e Venezuela, com suas desastradas políticas intervencionistas.
A verdade é que a coisa não anda tão bem. O ano recém-findo, em termos de resultados econômicos, parece apresentar dificuldades e necessita ser mais bem controlado pelo governo. O país precisa, urgentemente, agir contra a inflação e aumentar a transparência econômica e política. Antes que seja tarde demais. Um único discurso não será capaz de desfazer uma percepção que foi construída com uma série de decisões equivocadas, quando a presidente achava que tinha lições a dar ao mundo sobre como gerir a economia.
Com modéstia, na Suíça, Dilma prometeu perseguir o centro da meta de inflação do Banco Central, reforçou o compromisso com o equilíbrio fiscal, disse que a flutuação do câmbio é a primeira linha de defesa do real e se engajou com um ambiente estável para os investidores brasileiros e internacionais. Parecia um retorno aos tempos do governo de Fernando Henrique. E mais, para que o crescimento da economia brasileira siga num ritmo mais rápido, necessário se faz que as reformas estruturais se tornem realidade.
De volta, a presidente precisa agir depressa, o País que está pleno de demandas e carências, muitos erros, falhas gritantes e uma contínua ausência do Estado no exercício de suas funções constitucionais. O grau de presunção e autossuficiência se vê ao longo de diversas frentes da vida constitucional. Por todos esses motivos, Dilma foi a Davos com a intenção de recuperar a credibilidade perdida. Para desfazer a imagem de que seria contra o lucro, o mercado e o capital privado. A ficha caiu. Há que ter humildade, deixar de lado o caldeirão e de ser a maga que fabrica poções com combinações exóticas.

-----------------------------------------

SERGIO BARRA é médico e professor
sergiobarra9@gmail.com

Nenhum comentário: