segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Para chacoalhar o marasmo


Antes de enviar esse texto, ainda não tinha decidido se realmente iria abordar esse assunto. Além do mais, em nome da recuperação moral da nossa Corte e em atendimento às minhas, digamos assim, elucubrações, entrei nesse barco para dar meu pitaco. Problema mais grave ainda, a política está em crise profunda: ética, de identidade e organizativa, sem capacidade de dar respostas convincentes aos problemas que se acumulam no horizonte. Enfim, argumentos para voltar a um sensato pessimismo, no Brasil, não faltam.
Não estou entrando no mundo da metáfora. O problema não exige raciocínio de superdotado: é evidente. Na raiz, sinto tremenda revolta ao me deparar com o descaso e a incompetência daqueles que podem agir e nada resolvem. Entretanto, o problema vai muito além do que imagina nossa vã filosofia. Naturalmente, há diferenças substantivas entre esses cidadãos. Refiro- me ao ex-presidente do PT, José Genoíno, que foi empossado deputado federal e evitou polêmica com STF e ao senador Renan Calheiros, praticamente eleito para a Presidência do Senado. É brincadeira!
Na tarde de quinta-feira, 3, Genoíno assumiu uma vaga na Câmara. Foi condenado pelo STF, a 6 anos e 11 meses de prisão por corrupção ativa e formação de quadrilha no julgamento do “mensalão”, o petista deve permanecer no cargo até começar a cumprir sua pena. Primeiro colocado na lista de suplentes do partido no estado de São Paulo, ele ocupará a cadeira deixada por Carlinhos Almeida, que assumiu a Prefeitura de São José dos Campos, no interior paulista.
Genoíno estava atravessando a fronteira do inferno e seu destino era incerto até 21 de dezembro, quando o ministro Joaquim Barbosa, presidente do STF, negou a prisão imediata dos condenados na Ação Penal 470. Segundo entendimento do magistrado, os réus só vão para a cadeia depois de esgotados os recursos de defesa, a serem apresentados após a publicação do acórdão do STF. Agora, vir posar de honesto e com a Constituição na mão e dizer: “Eu tenho a consciência sincera dos inocentes”, é demais. A temperatura sobe e as posições antagônicas aparecem. Quem fica a vontade quando um parlamentar condenado no STF tem a cara de pau de dizer que respeita a Constituição. É muita indignidade e só nos deixa constrangidos.
Agora, outra bomba está a caminho, a provável eleição do senador Renan Calheiros para presidir o Senado pelos próximos dois anos. Deitado em berço esplêndido no estado das Alagoas, ele responde as mesmas denúncias que o afastaram do comando da Casa Legislativa no final de 2007. Quem não se lembra do caso das despesas pagas pelo lobista Cláudio Gontijo, da empreiteira Mendes Júnior, como pensão e aluguel à jornalista Mônica Veloso. Várias denúncias no Conselho de Ética, entre estas: a suspeição de ter intercedido no INSS e na Receita Federal em favor de famosa cervejaria; que é sócio oculto, usando laranjas de duas emissoras de rádios, acusação confirmada pelo ex-deputado e ex-sócio João Lyra; venda de gado superfaturada e, à época, o repasse de R$ 280 mil a uma empresa fantasma. Há quatro meses, o inquérito aguarda uma manifestação do procurador-geral da República. Na mais recente é acusado de crime ambiental.
Calheiros é de bastidores. Lá não existe a possibilidade de ficar exposto ao sol. Mas, no fundo, é bem possível que não dê a mínima para o que pensam dele. Alô, transgressores! Vladimir Putin está oferecendo passaporte russo.

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SERGIO BARRA é médico e professor
sergiobarra9@gmail.com

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