segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Brasil esteve na mira do Führer


Venha de onde vier, torna-se preocupante toda vez que uma reação se torna exagerada e descabida com relação ao ato ou ação contra o qual se insurja. Foi neste patamar a revolta de dezenas de países, entre eles o Brasil, com a chamada espionagem que, com o passar dos anos, a situação internacional só se agravou, e o espectro do chamado “Perigo Alemão” cresceu sobre o antigo Novo Mundo.
No início dos anos 1930, o presidente Franklin Delano Roosevelt intuiu que o perigo se aproximava - rápida e perigosamente. Ele convocou o diretor do Birô Federal de Investigações - FBI (na sigla inglesa) -, J. Edgar Hoover, e pediu-lhe que a agência passasse a monitorar as andanças, pelos Estados Unidos, de alemães e cidadãos de outras nacionalidades suspeitos de serem agentes do nazismo. Seu país já havia sido alvo da espionagem germânica, uma saga que começou na Europa pastoral ainda presa ao século 19 e que continuaria durante a 1ª Grande Guerra. Roosevelt estava certo de que isso tornaria a acontecer.
E aconteceu. No começo dos anos de 1940, em território norte-americano, a bordo de navios luxuosos que ligavam o continente europeu à bacia do Prata, ou pelas ruelas de Lisboa - um dos palcos principais da guerra de espionagem travada entre Aliados e Nazismo no Velho Mundo durante a 2ª Guerra.
Nesses lugares, o olhar vigilante do FBI, a Polícia Federal dos EUA, seguiu, anotou e investigou os passos de centenas de sul-americanos. Todos suspeitos de colaborar ou, simplesmente, simpatizar com o Eixo - a aliança liderada pela Alemanha de Hitler e formada ainda por Itália, Japão e algumas potências menores (como a Croácia). Eram tempos difíceis, aqueles! Tempos de muitas descobertas assustadoras, conclusões injustas - ou, no mínimo, precipitadas - por parte das autoridades de Washington. Perigos que no fim da guerra permaneceram encobertos e em perfeito estado operacional.
No Brasil, foi importante conhecer um passado que, pouco a pouco, emerge das sombras. A rotina pacata da costa sergipana foi quebrada pelo aparecimento de corpos e destroços dos navios Baependi, Araraquara e do Aníbal Benévolo, resultado de meses de hostilidades, uma tragédia anunciada. Desde que se aliara aos EUA, rompendo relações diplomáticas com o Eixo, o Brasil, que tinha no chamado Saliente Nordestino um ponto estratégico vital no contexto do conflito, se tornara, mesmo se declarando neutro, alvo dos torpedos de Hitler. Navios eram afundados em séries por submarinos alemães e italianos, enquanto uma complexa rede de espionagem nazista, há muito enraizada no país, tentava criar condições para uma futura invasão.
No louco sonho de domínio do mundo do Terceiro Reich, o Brasil ocupava um lugar de destaque. “Lá edificaremos, uma nova Alemanha”, chegou a sentenciar o Führer em um dos seus delírios.
Para uma ala do governo Vargas, essa ideia era, inicialmente absurda. Os norte-americanos, que, recém-agredidos em Pearl Harbor, exigiram uma postura clara de seus vizinhos. Já que o Brasil, percebendo que não possuía meios de se defender sozinho, cobrou imediatamente colaboração do novo aliado. O auxílio custou a chegar. Ataques traiçoeiros dos submarinos do Eixo torpedeavam navios nacionais. São provas irrefutáveis e definitivas de que um dia o Brasil esteve sob a mira do Führer. A guerra nos testa de maneira que nenhum conflito pessoal ou político poderia fazê-lo. Nela temos que tomar soluções instantâneas, intuitivas, sem flexão.
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SERGIO BARRA é médico e professor
sergiobarra9@gmail.com

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