segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

O governador que Frei Betto não sabe

No Blogue do Colunão, de Walter Rodrigues

Toda essa gente boa e respeitável que assina manifestos em favor de Jackson Lago — Comparato, Frei Betto, Niemeyer, Pomar —, nem sempre por duvidar que ele foi eleito no abuso, mas em todo caso porque representaria a “alternância”, a renovação etc, devia informar-se um pouquinho que fosse sobre o que se passa no Maranhão.
O caso Barreirinhas, por exemplo. Ali, a 260km de São Luís, onde disputaram a eleição o prefeito Milton Dias (PT) e o ex-deputado federal Albérico Ferreira (PMDB), o governador mais uma vez evidenciou a distância amazônica que o separa da imagem da propaganda.
Comecemos por identificar os personagens. Primo distante de José Sarney), Albérico tem ligações naturais com o esquema político do ex-presidente, mas está longe de gozar de regalias. Do contrário o ex-presidente não teria usado sua influência na Câmara para segurar durante três anos (2003-2005) o mandato do deputado federal Paulo Marinho (PR), apesar do trânsito em julgado de sentença que lhe suspendia os direitos políticos. Albérico era o suplente de Marinho, este sim, amigo íntimo dos Sarney.
De Miltinho pode-se dizer que, apesar de petista, nem o mais refinado cientista político seria capaz de distingui-lo dos manda-chuvas tradicionais do interior do Maranhão, especialmente dos piores. Seu jeitão de pulseiras e correntes sugere mais o bicheiro que o líder popular. Faz a política da fisiologia e do clientelismo, enquanto a cidade, capital da região turística dos Lençóis, fica entregue às moscas, ao lixo e aos famosos convênios caça-voto e engorda-rato com o Governo do Estado.
Na eleição de outubro, segundo denunciaram os adversários, distribuiu terrenos da municipalidade em troca de apoio. Acatando essas e outras reclamações, o juiz Nunes Freire invalidou seus votos e anunciou a vitória de Albérico. Foi o bastante para desencadear uma tempestade.

Diplomado à força
Os jackistas — como são chamados os partidários de Jackson — alertam para o fato de que Nunes é cunhado do deputado Manoel Ribeiro (PTB), ligado a Sarney. Esquecem de citar que antes disso é filho do ex-governador Oswaldo da Costa Nunes Freire, que morreu inimigo pessoal do senador pelo Amapá.
Seja como for (não há consenso entre os especialistas sobre quem tem razão em Barreirinhas), em vez de guerrear nos tribunais, Miltinho reagiu mobilizando os correligionários e ocupando o local onde haveria a diplomação. O juiz foi cercado e coberto de insultos. Um irmão do prefeito ameaçou-o de morte, rasgou o diploma de Albérico e exigiu que o diplomado fosse Miltinho. Nunes cedeu, mas fez constar de ata a coação irresistível.
Até aqui seria apenas um episódio bizarro e inédito no Maranhão, protagonizado por um tutumumbuca, como dizem os mineiros, um chefete de interior. Mas eis que entra em cena o governador Jackson Lago, o homem sério, democrata e responsável dos manifestos desinformados.
Jackson é o poderoso chefão de Miltinho. Esperava-se que, além de acionar imediatamente a Polícia para garantir a ordem e o livre exercício da magistratura na comarca, chamasse às falas seu pesspal. Nada disso. Não proferu uma só palavra de censura de lamento à a arbitrariedade sofrida pelo juiz. Quando abriu a boca foi para solidarizar-se com os violentos.

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