terça-feira, 12 de fevereiro de 2019
Boechat era bom no jornal, no rádio e na TV. Mas era melhor mesmo como jornalista.
Até o final dos anos 1970, senão mais um pouquinho para a frente, os grandes jornalistas de TV foram formado nas redações.
Nas redações de jornal, seja bem dito. O jornal impresso, aquele transposto materialmente para páginas, que saíam, primeiro em preto e branco, depois em cores, de enormes e barulhentas rotativas.
Muitos jornalistas também vieram do rádio, que antes mesmo do advento da televisão no Brasil já abria espaço para o jornalismo.
Depois, quando a TV ficou, digamos assim, mais adulta, é que passou a receber, juntamente com o rádio, jornalistas saídos diretamente das escolas de Comunicação, muitos dos quais têm se notabilizado como ótimo repórteres, tanto na televisão como em emissoras de rádio.
Ricardo Boechat era um desses jornalistas que começou na máquina de escrever e foi parar à frente de um teclado de computador e atrás das câmeras de TV e dos microfones de emissoras de rádio.
Não sou capaz de dizer, sinceramente, em qual dos veículos ele era melhor. Mas, seguramente, pode-se dizer que era melhor mesmo como jornalista - de jornal, de rádio ou de TV.
Lembro do início dos anos 1980, quando eu ainda era editor em O LIBERAL, ainda na Gaspar Vianna, e precisava guardar espaço nas páginas para publicar a Coluna do Swann, que Boechat passou a assinar logo depois da morte de Ibrahim Sued, cuja coluna também o jornal publicava.
Era um prazer receber o Swann, como chamávamos a coluna, das mãos do Archibaldo, o velho e querido companheiro telexista, assim chamado o profissional daquela época que cuidava apenas das máquinas de telex, por onde recebíamos matérias de agências de notícias e de outras fontes externas ao jornal para publicá-las.
Era um prazer ter em mãos o Swann e tomarmos conhecimento, antes de todo mundo, de notícias que no dia seguinte repercutiriam nacionalmente e virariam manchetes de jornal - os da TV, inclusive.
Depois, quando Boechat passou a dedicar mais tempo de seu jornalismo à TV, era igualmente instigante vê-lo funcionar como aquele que, convenhamos, era o melhor âncora da TV brasileira.
E por que o foi, a meu juízo?
Porque conseguiu empregar, em comentários esparsos de não mais de 1 minuto, um estilo muito parecido com o das notas que publicava em suas colunas: objetivo, direto, informativo, opinativo e, quase sempre, contundente.
A morte de Ricardo Boechat desfalca o jornalismo brasileiro dessas qualidades.
Mas o jornalismo que ele praticou fica também - que alívio! - como um legado para gerações presentes e futuras, que precisam se mirar em boas referências.
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