segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

Os códigos da Enigma



A História sempre nos surpreende com temas relevantes e muitos não são contemplados com o salto qualitativo de que são merecedores. Para as gerações atuais, conflito mundial por excelência foi a II Guerra Mundial, com sua luta clara entre o bem e o mal, entre democracias e totalitarismo, com seu padrão de destruição e com o genocídio de judeus e de outros povos. A boa noticia: antes restrito, agora divulgado com imparcialidade e clareza, mas que nos apresentam polêmicos devido a poucas referências históricas. Este é um texto sobre o homem que decifrou os códigos secretos nazistas e lançou as bases para os computadores atuais, enfrentou, ainda muito jovem, uma castração química, seu nome: Alan Turing.
Desde pequeno, Turing chamava a atenção pelo talento para a matemática. Logo depois de formar-se em Cambridge, ele criou a máquina Turing, uma proposta teórica capaz de realizar funções desde que apresentadas por meio de logaritmo. Já viu isso em algum lugar? Pois é, está na base de seu computador. Turing tinha apenas 24 anos. Nos anos 1950, o cientista passou a trabalhar com inteligência artificial e desenvolveu o Teste de Turing, para identificar computadores inteligentes. No teste, um examinador conversa por meio de mensagens de texto, simultaneamente, com um computador e uma pessoa. Depois de certo tempo, se não fosse capaz de apontar qual dos dois era humano, a máquina teria passado no teste.
Durante a 2ª Guerra Mundial, Turing trabalhou em Bletchley Park nos arredores de Londres, onde milhares de pessoas estavam empenhadas no projeto Ultra, cujo objetivo era quebrar os códigos secretos de mensagens criptografadas nazistas. Era um lugar absolutamente crucial para o desfecho da 2ª Guerra. Nessa propriedade do século 19, foi constituída uma equipe de campeões de xadrez, matemáticos, especialistas em palavras cruzadas e linguistas. Um dos desafios do Ultra era decodificar as mensagens da máquina alemã Enigma.
Era uma máquina de escrever com rotores. À medida que o texto era digitado, os rotores embaralhavam as letras de modo que o conteúdo ficasse incompreensível. A encriptação de mensagens funcionava de maneira similar ao que se usa hoje para transmitir dados bancários pela internet. A única maneira de entender a mensagem recebida é usando a mesma chave da encriptação original. Os rotores permitiam milhões de combinações, e as chaves eram trocadas mensalmente. Turing descobriu o segredo usando uma técnica eletromecânica chamada bomba. As tais bombas permitiam várias análises dos textos, em velocidade muito parecido à dos humanos. Outra contribuição do cientista foi o desenvolvimento do Colossus, um precursor dos computadores.
Em 1942, os ingleses já conseguiam ler 50 mil mensagens por mês, uma por minuto. Foi assim que ficaram sabendo de informações cruciais sobre os ataques planejados pelos alemães, principalmente no Atlântico Norte, onde encontrar seus submarinos e até como deveria ser a reação alemã durante o Dia D. A II Guerra foi isso. Um enorme ferimento que deixou sequelas e moldou o mundo como conhecemos hoje.Quando a guerra acabou, Turing foi trabalhar no Laboratório Nacional de Física. Ninguém ficou sabendo da importância da sua participação na quebra dos códigos da Enigma.
A carreira de Turing sofreu um abalo quando, em 1952, foi condenado por manter relações sexuais com outro homem, crime que, digamos assim, de “indecência pesada” na época. Entre as opções de punição, cadeia ou “castração química”, escolheu a segunda, que supostamente acabaria com a sua libido. Não pôde mais trabalhar em projetos do governo. Ademais, as injeções o deixaram tão perturbado que ele não viu outra opção além do suicídio. Uma campanha pelo pedido de desculpas reuniu 32 mil assinaturas e em 2009, o primeiro-ministro Gordon Brown oficializou o pedido de perdão, reconheceu a importância do trabalho de Turing durante a guerra e definiu o tratamento a que foi submetido de “terrível e desumano”.

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SERGIO BARRA é médico e professor
sergiobarra9@gmail.com

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