quinta-feira, 14 de janeiro de 2016
Cantor assaltado duas vezes no mesmo dia canta Belém
Poucas vezes este repórter assistiu a um depoimento tão pungente, tão terno, verdadeiro, sereno e, acreditem, poético de uma vítima da violência que nos assola.
Poucos vezes se viu um testemunho como o de Alcyr Guimarães.
Alcyr - médico, cantor e compositor dos mais festejados, dos mais representativos da música paraense - postou em seu perfil no Facebook um vídeo (veja aqui), do qual o Espaço Aberto capturou a imagem acima.
No dia 12, data em que Belém completou 400 anos, ele foi assaltado duas vezes em poucas horas. Duas vezes, gente.
A primeira, em São Brás, onde foi apanhado por três bandidos armados.
A segunda, no bairro do Acampamento, minutos após ter sido deixado pelo trio de assaltantes que rodou com Alcyr por algum tempo, no carro dele.
Depois dos dois assaltos, conforme narra o próprio Alcyr, ele foi sem nada - literalmente sem lenço, sem documento, sem violão, sem dinheiro, sem celular, sem nada - cantar Belém.
Foi cantar Belém no dia do aniversário da cidade.
"Como na música do Chico, acho que foi o meu canto mais bonito, porque vi o público com um carinho imenso comigo, como talvez eu nunca tivesse. E essa minha rouquidão é de tanto cantar. Eu desforrei alguma coisa ruim no canto. [...] Belém é sua gente. E essa gente precisa de segurança", diz Alcyr, chorando, ao final do vídeo.
Por que é assim?
Por que tem que ser assim?
Por que nós, que amamos Belém, não temos paz nesta cidade?
Por que em Belém estamos, cada vez mais, tendo medo - para não dizer pavor - uns dos outros?
Por que em Belém, com encantos que todos cantamos nestes 400 anos, uns se desviam dos outros, porque todos veem no outro um bandido em potencial, pronto para atacar?
Alcyr Guimarães deu esse depoimento sem raiva, sem ódio, sem rancor.
Suas lágrimas, percebe-se facilmente, são de tristeza e, quem sabe, de desesperança.
E olhem: só quem já foi assaltado. como este repórter, é que pode avaliar o grau de humilhação que enfrentamos quando bandidos nos subjugam - muitas vezes em lugares públicos, à vista de todo mundo, que nada fez porque tem medo de sofrer as consequências da reação do assaltante armado.
Pois é.
Enquanto vivermos assim, só nos resta dizer como Alcyr, ao final de sua mensagem: "Obrigado, meu Pai, pela minha vida. Obrigado, meus anjos protetores."
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Um comentário:
..."fazemos rondas constantes no local...", frase padrão-desculpa-esfarrapada das puliça no tucupí.
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