Por CHARLES ALCÂNTARA, em seu blog
Distopia
Tive contato pela primeira com o termo “distopia” num artigo do professor e pesquisador Thomaz Wood Jr que abordava as alterações do uso da memória e as interferências em nossa atividade cerebral causadas pela convivência intensa com websites, e-mails, facebooks e por aí vai.
A “distopia virtual”, título do artigo, resulta da influência que as novas mídias tecnológicas exercem sobre a forma como as pessoas veem, leem e refletem.
“Temos cada vez mais dificuldade para enfrentar textos longos e densos. Concentração e contemplação tornaram-se capacidades raras.”, observa o professor.
Penso que a dita sociedade moderna está acometida também de outras espécies de distopia: a social, a política e a ética. Estas, decorrentes da convivência intensa, não com a tecnologia propriamente dita, mas com os três “ismos”: o consumismo, o imediatismo e o individualismo.
Os efeitos dessa distopia multifacetada e pandêmica manifestam-se a todo momento e em todas as organizações sociais e esferas da atividade humana: na família, na vizinhança, na escola, no trabalho, no sindicato, no mundo empresarial, na administração pública, no partido político.
Os três “ismos” enraízam todas as condutas e práticas insustentáveis, assim entendidas com as que promovem e perpetuam a desigualdade e a injustiça sociais, concentram e acumulam riqueza, violam a dignidade humana, exploram predatoriamente a biodiversidade, ameaçam a biosfera e a vida das futuras gerações.
São exemplos concretos de condutas e práticas insustentáveis: a corrupção, a sonegação, a devastação ambiental, a prevaricação, o “Caixa 2”, o corporativismo, o carreirismo, o pragmatismo e a ganância.
Um novo partido: essa é a questão?
Eis que povoa as mentes e inspira os sonhos daqueles que, de uns tempos pra cá, enfeixam-se para enfrentar o pragmatismo que se adonou de vasto território da política brasileira, uma indagação: criar ou não criar um partido político?
“Que criatura pela manhã tem quatro pés, ao meio-dia tem dois, e à tarde tem três?”, desafiava a Esfinge ameaçando devorar quem não a decifrasse.
O homem, respondeu Édipo, que engatinha quando bebê, anda sobre dois pés quando adulto e usa bengala quando ancião.
Estivéssemos diante do enigma da mitológica Esfinge, poderíamos dizer que a institucionalidade partidária está no entardecer, a precisar de muletas para caminhar.
Entregues ao pragmatismo eleitoral e comprimidos pelo horizonte rebaixado do imediatismo, os partidos políticos perderam-se no caminho que enveredaram e se encalacraram na judicialização da política e na criminalização dos políticos.
Criar ou não criar um partido: eis a questão?
Eis “uma” questão, diria, mas não “a” questão. Há outras questões que a esta precedem.
Vamos a algumas delas.
3 comentários:
O problema não são os partidos, mas os seres humanos.
Criar pra quê??? Pra se ganhar mais poder e dinheiro? A sociedade não tolera mais isso!
Mais um "ex" "futuro" na política paraense.
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